Transformada em série de TV, continuação de "A Firma" estreia mundialmente em 19 de fevereiro

AKIRA SUZUKI

Enviado especial a Toronto, no Canadá*

O canal de televisão por assinatura  AXN anunciou a pré-estreia mundial da série dramática "The Firm" para 19 de fevereiro. O episódio inaugural tem duração de duas horas e a temporada completa vai ao ar em 10 de abril no Brasil.

Ainda sem horário definido na grade, o programa de TV é continuação dos eventos do livro de mesmo nome de John Grisham publicado originalmente em 1991. Dois anos depois, o romance foi adaptado para o cinema com o nome de "A Firma" e estrelado por Tom Cruise.

Na série, Mitch McDeere é interpretado por Josh Lucas, que, curiosamente, ganhou projeção fazendo papel em outro filme de advogados. "Uma das principais razões de eu ter aceitado o trabalho é porque participei de 'O Poder e a Lei'", cujo papel, conta o ator, foi construído em seguidas visitas a tribunais de Nova York. "Achei fascinante, melhor que qualquer coisa que vi na TV".

Para Lucas, "The Firm" não é uma série sobre procedimentos legais mas um "thriller" que gravita no mundo jurídico e cujo sucesso depende de quanto da tensão do romance estará presente na tela da TV. "O que é fascinante na obra de John Grisham [autor do livro e produtor executivo da série] é que as páginas viram sozinhas, você quer muito saber o que vem depois". No que depender do episódio de estreia, que o UOL conferiu no Canadá, onde a série está sendo rodada, a tensão e um gancho poderoso para os capítulos seguintes estão garantidos.

Vida nova, velhas ameaças
O programa retrata a vida de Mitch e sua mulher, Abby (Molly Parker), dez anos após os incidentes do filme, período em que viveram sob um programa de proteção a testemunhas depois de ele denunciar uma firma de advocacia que funcionava como fachada para a Máfia de Chicago. Decididos a recuperar uma vida normal, mudam-se para a capital Washington, onde o advogado abre um pequeno escritório junto com o irmão Ray (Callum Keith Rennie) e Tammy Hemphill (Juliette Lewis). Naturalmente, a desejada paz não dura muito, e antigos e novos perigos ameaçam a vida do quarteto.

Para Lewis, que não participava de uma série desde 1989, fazer TV é um desafio. "Atualmente, acho que essa mídia é provavelmente a mais fascinante e ousada de todas", afirma. Apesar de admitir que não curte séries jurídicas, a atriz diz ter sido atraída pela "grife John Grisham" e pelo fato de, a cada novo episódio, a história tomar rumos inesperados. Lucas concorda com a superioridade do meio televisivo sobre o cinema no momento atual. "Constantemente as pessoas estão dizendo que os melhores roteiristas estão na TV".

Outro destaque do elenco é Tricia Helfer, famosa por "Battlestar Galactica", que interpreta a sócia de um grande escritório que tenta seduzir Mitch para seu elenco. "The Firm" é a terceira adaptação para TV de uma obra de John Grisham: as outras foram "The Client" e "The Street Lawyer".

Protagonista

Intérprete de Mitch McDeere em "The Firm", Josh Lucas conhece bem de perto situações que envolvem opressão e perseguição do governo. "Há uma conexão direta do personagem com elementos de minha vida. Nunca estive num programa de proteção a testemunhas, mas vivíamos com medo do governo", conta o ator ao UOL.

"Meus pais eram ativistas contra usinas nucleares e foram muitas vezes presos por invasão e por fazer aqueles grandes protestos, então, não foram raras as vezes que víamos carros pretos do FBI e CIA em nossa porta, nos vigiando", diz Lucas, que, por conta do engajamento dos pais, mudou-se mais de 30 vezes até os 13 anos.

"Foi uma maneira estranha de crescer, mas me ajudou muito a perceber o que acontece com sua família [no seriado] e como eles viveram em constante sentimento de paranoia", continua. "É a sustentação do meu personagem: ele só tem a sua família e vice-versa, eles não confiam em ninguém".

Dez anos depois
Antes dessa série, "The Firm" já havia sido adaptado para o cinema em 1993, com Tom Cruise no papel principal. Sobre o fato, Lucas comentou que o marido de Katie Holmes fez um grande trabalho e que inseriu propositalmente em sua atuação características emprestadas de Cruise. "Sinto que minha responsabilidade é prestar uma homenagem, não tentar imitar, mas pegar alguns momentos e dar crédito [ao filme]", conta, argumentando que a história se passa dez anos depois e que os personagens mudaram por conta das dores de ter suas identidades mantidas em segredo. "Penso que os personagens [da série] estão desesperados por uma vida normal".

Curiosamente, Lucas tem a chance de protagonizar uma grande produção depois de integrar o elenco de "O Poder e a Lei". Nesse filme, para compor o personagem, o ator disse ter virado um "rato de tribunal", acompanhando in loco vários julgamentos em Nova York, onde mantém residência. "Achei muito fascinante, melhor que qualquer coisa vista na TV", diz ele sobre os dramas que presenciou. "Fiquei fascinado pela Justiça e, por toda essa experiência, fiquei com vontade de fazer parte da série".

Para Lucas, uma das maiores vantagens de trabalhar em TV é ter suporte corporativo, algo que ressente em sua carreira no cinema. "[Fiz filmes que] tiveram críticas incrivelmente positivas, mas ninguém as viu. Não teve distribuição, não teve mídia, nada. Falando artisticamente, fiquei muito decepcionado". Mas está contente em agora fazer uma série. "Constantemente, as pessoas estão dizendo que os melhores escritores estão na TV. Essa é minha esperança".

Davi e Golias
Perguntado sobre o lugar do programa num mundo depois de Ocupe Wall Street (série de protestos que acontece em Nova York contra a desigualdade econômica e a influência das corporações, principalmente do setor financeiro, sobre o governo), Lucas diz que Mitch é um personagem que não confia no sistema, apesar de estar inserido intimamente nele. "Não acho que ele seja do tipo de pessoa que se juntaria aos manifestantes, mas seria o primeiro a lhes oferecer seus serviços [de advogado], sem cobrar nada".

O ator vê uma característica comum aos personagens de John Grisham. "Os homens, principalmente, são cheios de falhas, mas ao mesmo tempo muito íntegros", comenta, fazendo ressonância com o movimento popular. "São personagens que muitas vezes estão, como no 'Dossiê Pelicano', de Julia Roberts, sozinhos. São pequenos diante do poderoso sistema. Respeito muito alguém que quer continuar lutando, mesmo quando já deveria ter desistido, que mantém sua integridade só para fazer o que precisa fazer".

Embora tenha ficado fascinado pela Justiça com "O Poder e a Lei", Lucas duvida que seria um bom advogado. "Eles mentem muito, pois parte de seu trabalho é dar um nó na lei. Seu trabalho não raramente é distorcer a verdade, dar suporte cego a seu cliente. Eu não poderia fazer isso. Não poderia jamais defender alguém culpado ou processar um inocente. (...) Isso acontece na esfera criminal e minha cabeça não funciona assim".

Para o ator, "The Firm" também é um desafio físico, com muitas cenas de ação - aliás, a primeira cena mostra Mitch correndo de homens de preto. Mas o ator parece tirar de letra, dizendo que já fazia exercícios normalmente e revelou um insuspeitado gosto por futebol - tanto o americano como o bretão. Disse que jogou numa liga de "soccer" em Nova York e que vê alguns jogos na TV, mas desconhece Messi e Neymar (foi um momento descontraído da entrevista, que virou um pequeno Brasil x Argentina - ou Santos x Barcelona - por força da composição da mesa). "Não conheço os jogadores de hoje, só os que vi na Copa do Mundo. De novo: estou muito sem tempo [por conta da série]", ri o ator.

* O jornalista viajou a convite da Sony.

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