Ashton Kutcher surge como "Vênus masculina" na estreia de "Two and a Half Men"
ANA MARIA BAHIANA
Especial para o UOL
Sim, Charlie Harper está morto, vítima de um mal explicado acidente no metrô de Paris. Mas pelo menos enquanto Chuck Lorre e Lee Aronsohn –os criadores de "Two and a Half Men"– continuarem escrevendo os roteiros da série, ninguém vai gastar uma lágrima com ele.
SPOILER: se você não quer saber detalhes da trama que ainda não foram ao ar no Brasil, não siga adiante
Seu serviço fúnebre é uma coleção de alfinetadas de ex-namoradas, interrompida apenas pelo anúncio da "open house" da casa de Malibu, feita pela própria mãe. Na dita casa de Malibu –certamente um dos cenários mais conhecidos da TV, hoje- os únicos problemas da ausência de Charlie são como pagar a hipoteca caso a venda não se concretize (vários astros de TV fazem aparições relâmpago como possíveis compradores), e o que fazer com suas cinzas (num velho gag de comédia pastelão, há um aspirador envolvido).
Seu substituto, o bilionário Walden Schmidt (Ashton Kutcher) surge subitamente das ondas da praia como uma espécie de Vênus masculina, inocente, amoroso e com mania de andar pelado. Para que a dinâmica da série se mantenha, Walden/Kutcher tem que colocar Alan/Jon Cryer num perpétuo e irritante segundo plano. Charlie/Sheen fazia isso às custas de sua alegre canalhice, assumindo com alegria sua voracidade de conquistador sem nenhum caráter. Como não é possível repetir essa persona, Walden Schmidt é de muitos modos o oposto: um romântico eternamente apaixonado pela namorada dos tempos do ginásio, e, mais que isso, um cara bonitão, bem dotado e bilionário que não tem a menor noção do que essa combinação de fatores pode fazer.
Ou seja, novamente Alan está empurrado para escanteio, dessa vez por um rival que não tem nem ideia do que está fazendo.
Vai funcionar a longo prazo? Muita gente aqui em Los Angeles especula que a série, criada em torno da personalidade de Charlie Sheen, teria sido cancelada se a briga entre ele e Lorre não tivesse sido tão pública e tão feia. Continuar a série com Kutcher é um modo de dar a todos os atores petulantes uma lição --ninguém é insubstituível nesta indústria. Mas será?
O primeiro episódio funcionou direito --talvez porque a ausência de Charlie fosse, na verdade, uma forma de presença. Agora é ver se a série ainda tem fôlego para realmente ir adiante.