William Hurt diz que prefere não julgar personagens da crise financeira, tema do docudrama "Too Big to Fail"

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL, de Los Angeles

"De um modo geral eu evito docudramas", diz William Hurt. "Trata-se de um documentário, vamos tentar ser objetivos? Ou é um drama e vamos nos permitir  emoção, interpretação dos acontecimentos?" Hurt está falando especificamente a respeito de "Too Big To Fail", o docudrama dirigido por Curtis Hanson ("Los Angeles Cidade Proibida") atualmente na programação da HBO, adaptando o best seller do jornalista Andrew Ross Sorkin sobre a crise financeira de 2008.

Em "Too Big to Fail", contrariando suas próprias convicções, Hurt vive o Secretário do Tesouro norte americano, Henry Paulson, encabeçando um elenco de grandes atores que inclui Paul Giamatti como o chefe da Reserva Federal, Paul Bernanke; Tony Shalhoub como o CEO da Morgan Stanley, John Mack; James Woods como o presidente da Lehman Brothers, Ricahrd Fuld; e Billy Crudup como o presidente do banco da Reserva Federal de Nova York, Tim Geithner.

O que teria mudado seu ponto de vista? "O excepcional roteiro de Peter Gould, que me animou a ir em frente e ter uma oportunidade para compartilhar com o público uma discussão inteligentes sobre temas que afetam a vida de todos nós".

Resumindo e simplificando a detalhada investigação de Sorkin, "Too Big to Fail" desenha em traços largos o que levou à  paralisação e quase completa implosão do sistema financeiro norte americano: uma super oferta de crédito de alto risco seguida de inadimplência maciça, com várias jogadas financeiras pelo meio.

É o mesmo tema do documentário vencedor do Oscar, "Trabalho Interno", mas com uma lente um pouco mais amena. Hurt sabe que, por exemplo, sua presença como Paulson e sua interpretação introspectiva e atormentada tornou o personagem bem mais acessível e simpático.

"Procuro não julgar as pessoas. Não acho algo muito inteligente viver constantemente julgando os outros, determinando se uma pessoa é do bem ou do mal, não somos Deus ", diz Hurt. "Isso não quer dizer que as pessoas não sejam capazes de coisas muito ruins, mas em termos de um julgamento moral defiitivo eu prefiro me manter à distância. Já passei por muita coisa na minha vida para fazer um erro desses. E para um ator é sempre péssimo abordar um personagem com um julgamento moral pré-estabelecido a seu respeito."

Uma coisa, Hurt diz, ele aprendeu ao longo de sua ilustre trajetória de ator: "As pessoas no comando são, quase sempre, excepcionalmente talentosas, disciplinadas, motivadas. Mesmo as que depois nos decepcionam ou sobre as quais fazemos julgamentos negativos, muitas vezes começaram suas trajetórias com grandes ideais, metas nobres… e, sim, acabaram gananciosas. Mas essas são as falhas que todos os seres humanos têm em comum."

Para viver Paulson, Hurt passou três dias convivendo com ele e sua esposa, Wendy, "num ambiente repleto de coisas que tínhamos em comum: natureza, observação de pássaros, caiaque, conversas sobre ecologia. Criei minha vesão de Paulson baseado no conceito mais importante que aprendi com nossa convivência: no quadro geral da crise ele era apenas uma parte de algo maior, o jogador num campo muito vasto. Num caso assim, você tem que jogar pelas regras e saber muito bem quando você tem uma folga para manobrar. Meu papel, como ator, nunca é julgar - meu papel é explorar a natureza humana em todas as suas facetas. Neste caso, encontei uma personagem que me obrigou a perguntar a mim mesmo, várias vezes, o que era certo ou errado nas circunstâncias específicas em que ele se encontrou. E as respostas que encontrei me conveceram a vê-lo, na minha cabeça, como um homem honrado."

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