Com Diane Lane e Tim Robbins, telefilme "Cinema Verité" mostra pré-história dos ''reality shows'' nos EUA

ALESSANDRO GIANNINI

Editor

"Cinema Verité" pega emprestado como título o nome da escola francesa de documentarismo, da qual o célebre Chris Marker ("La Jetée") foi um dos grandes expoentes. O telefilme que a HBO leva ao ar no Brasil neste domingo, às 19h30, apenas para assinantes, conta a história por trás de "An American Family". Produzido pela PBS, emissora pública americana, o programa é considerado por muitos historiadores o primeiro reality show da história da televisão. Lançado em 1973, o programa acompanhava a rotina dos Loud, uma família de classe média alta de Santa Barbara, na Califórnia.

O filme se passa em 1971, ano em que o produtor e diretor Craig Gilbert (James Gandolfini) se aproxima pela primeira vez da família Loud por meio da mãe, Pat Loud (Diane Lane). A proposta parece simples e muito ousada para a época: uma equipe de TV acompanhando os Loud em sua intimidade. Era, segundo Gilbert vendeu aos financiadores, uma forma de criar identificação com o público, acostumado com o universo edulcorado das famílias retratadas em seriados ficcionais, como "Família Dó-Ré-Mi".

Dois anos antes de o primeiro episódio de "An American Family" ir ao ar, o casamento de Pat e Bill (Tim Robbins) estava por um fio. E com o mais velho dos cinco filhos saindo de casa para uma temporada em Nova York, a equipe de filmagem invadindo a rotina da família e atraindo a atenção da comunidade muitas coisas ruins começaram a vir à tona. E muitas delas foram aproveitadas por Gilbert, retratado como um manipulador oportunista, interessado mais no sensacionalismo de uma crise do que em mostrar a verdadeira face da família americana.

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Quando "An American Family" finalmente foi ao ar nos EUA atraiu a curiosidade de 10 milhões de espectadores e críticas à família Loud, em especial à mãe, Pat. O que poderia parecer uma pá de cal numa relação fraturada serviu para unir e fortalecer a relação familiar. O desfecho surpreende tanto pela reviravolta quanto pela maneira abrupta como é lançado no colo do espectador. As cenas finais, ao longo dos créditos, que mostram mais dos personagens reais, ajudam a aplacar essa sensação ruim e ver que, ao fim, a realidade e o tempo sempre podem ser melhor e mais conciliadores do que a ficção nos faz imaginar.

O elenco experiente e bem afinado, tanto do núcleo de adultos quanto do jovem, a reconstituição de época e o uso de material documental pontuando a narrativa torna "Cinema Verité" um telefilme com cara de cinema industrial. O casal de diretores, Oscar Shari Springer Berman e Robert Pulcini ("O Anti-Herói Americano"), vai na contramão do óbvio: uma estética que emulasse também o formato do "cinema verité", com sua mistura de linguagem documental e recursos ficcionais. Em vez disso, aposta na narrativa, abrindo espaço de vez em quando para alguns momentos de realidade - momentos nos quais podemos ver como a ficção pode ser enganadora.

 

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