Série transforma ator de "Fargo" em símbolo sexual; "Por essa eu não esperava", conta William H. Macy

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL, de Los Angeles

Quando, no último domingo de março, a série "Shameless", da Showtime, encerrou sua primeira temporada, o canal a cabo tinha estabelecido um novo recorde de audiência: 1,5 milhões de espectadores, o maior índice para uma série estreante desde "Queer As Folk" em 2001. Era uma vitória especialmente importante porque quando a Showtime disse sim à série, a HBO tinha desistido dela, alegando que seu protagonista --Frank, um pai de família irresponsável, alcoólatra e paupérrimo-- jamais conseguiria cativar a plateia.

“Ele é um viciado, um egoísta, um narcisista completo, mas tem um bocado de energia. Ele se empenha em tudo que faz, com enorme paixão, um tremendo amor pela vida”, diz William H. Macy, que vive Frank e se tornou um inesperado símbolo sexual graças à série. “Está certo que a maior parte de sua energia é devotada a dar golpes e falcatruas. Mas ele faz isso com dedicação.”

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Eu vivi situações de pobreza extrema em minha vida e conheci muitas pessoas na mesma situação. Não me ocorreria fazer graça em cima disso. Muito menos sobre o óbvio alcoolismo de Frank.

William H Macy, falando sobre o tom da série, que não é de pura comédia

"Shameless", o surpreendente sucesso do começo do ano na TV na norte americana, começou como uma premiada série britânica, criada pelo legendário Paul Abbott ("Coronation Street" e "Cracker") em 2004. Na versão original, Frank era um cliente assíduo da generosa assistência social britânica, vivendo com seus oito filhos num conjunto habitacional nos subúrbios de Manchester, gastando seu pouco dinheiro com bebida e farras variadas, e atraindo uma constelação de tipos em sintonia com suas prioridades: ladrões, traficantes, cafetões.

Várias vezes premiada ao longo de suas oito temporadas, a série atraiu a atenção de John Wells ("ER" e "West Wing"), produtor-roteirista de calibre semelhante ao de Abbot na TV norte-americana. A HBO começou a desenvolver a série com Wells em 2008, mas o projeto não foi adiante. Parte do problema, Wells conta, era a tendência da TV norte-americana de ver o material como um convite à comédia rasgada na linha de "Roseanne" ou mesmo "Raising Hope", que também estreou recentemente na Fox. “O ambiente é de classe operária, na verdade lumpemproletariado, bem abaixo do que já vimos na TV”, Wells explica. “E a reação automática da TV americana é querer tratar isso como comédia. A série britânica respeita a humanidade e a integridade desses personagens. A comédia vem de situações normais do dia a dia deles. Isso para mim era essencial resguardar --a noção de que a pobreza não é algo distante, da qual só podemos rir, mas de algo próximo de nós.”

A escolha de William H. Macy, ator de talento enorme e camaleônico --do ex-menino prodígio de "Magnólia" ao vendedor de automóveis canalha de "Fargo", entre muitos outros-- para viver o Frank norte-americano selou o destino da série em sua nova casa, a Showtime.

“Eu tinha decidido fazer uma série e tinha lido vários roteiros durante um ano e meio sem me entusiasmar”, Macy conta.”Isso mudou quando li o piloto que John Wells tinha escrito. Lá pela página 20 eu vi que tinha encontrado meu projeto.”

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    William H. Macy no quinto episódio de "Shameless", "Three Boys"

Macy viu os primeiros sete episódios da série britânica, mas parou ali.”Não queria cair na imitação. Eu me senti imediatamente desafiado a criar algo no mesmo nível.”

O Frank da  versão americana de "Shameless" mora com seis filhos num bairro pobre da zona sul de Chicago e, como sua contrapartida britânica, vive de golpes para garantir o produto mais importante em sua vida: a  bebida. Como as mães das crianças há muito desistiram de Frank, o encargo  de administrar a família cabe à filha mais velha, Fiona (Emmy Rossum).

“Eu vivi situações de pobreza extrema em minha vida e conheci muitas pessoas na mesma situação”, diz Macy. “Não me ocorreria fazer graça em cima disso. Muito menos sobre o óbvio alcoolismo de Frank. Conversamos muito sobre isso, eu, John Wells e Paul Abbot. A série mostra claramente que Frank paga um preço por suas bebedeiras. Num episódio eu acabei no hospital. Essa é uma realidade, as pessoas se viciam em bebida, em drogas e em remédios. Não faria bem a ninguém ignorar esse fato.”

E porque, em seu estado alterado, Frank se torna um voraz conquistador, William H, Macy acaba de se tornar, aos 60 anos, um símbolo sexual. “Por essa eu não esperava”, Macy ri. “Mas ei, Felicity [a atriz Felicity Huffman, sua mulher] sempre disse que eu era muito sexy! Agora me param na rua, tiram fotos! Se bem que muitas vezes me confundem ou com David Caruso ou com Mick Jagger…”

"Shameless" acaba de ser renovado para uma segunda temporada. “Vamos divergir mais da série inglesa nesta segunda temporada”, Macy conta. “Wells encoraja muito o improviso durante as filmagens e isso tem trazido novos contornos para nossos personagens. Vamos enveredar por loucuras mais americanas.”

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