Personagens ranzinzas têm se tornado figurinhas fáceis em seriados. Para se juntar à lista da qual já fazem parte os doutores House, da série homônima, e Cal Lightman, de "Lie to Me", chega a partir desta terça (12), na Sony, Megan Hunt, uma legista que além de obstinada por fazer justiça aos corpos que jazem a sua frente, também tem sérios problemas de relacionamento.

Hunt (interpretada pela atriz Dana Delany, que já foi Katherine Mayfair em "Desperate Housewives") nem sempre teve esse trabalho. Um acidente de carro acabou com sua carreira como neurocirurgiã (ela sente dormência frequente nas mãos) e, desde então, o desenvolvimento da nova posição tem sido sua única preocupação na vida. Segundo a própria personagem, "perdi minha filha por causa da minha carreira e depois perdi minha carreira".

Apesar da personalidade difícil, Hunt é extremamente boa no que faz, seja dando dicas de diagnósticos para seus colegas de hospital, seja para confrontar suspeitos e desenhar teorias sobre os crimes que investiga. Para isso, tem o apoio de Peter Dunlop (Nicholas Bishop), ex-policial que trabalha com ela nas autópsias, e de outros médicos, como Dr. Curtis Brumfield (Windell Middlebrooks) e o Dr. Ethan Gross (Geoffrey Arend). Acima deles está a responsável pelo laboratório, Kate Murphy (interpretada por Jeri Ryan, que já esteve no elenco de "Voyager" e "Boston Public", entre outras séries). Suportando a personalidade de Megan pelo bem de suas próprias investigações estão os detetives Bud Morris (John Carroll Lynch) e Samantha Baker (Sonja Sohn).

Na vida pessoal, porém, a protagonista tem vários dramas a resolver. Separada do marido, que conseguiu guarda integral da filha de ambos provando que a mulher era ausente, a arrogância da personagem vai abaixo quando ela tenta se aproximar da menina. É claro, porém, que mesmo as lágrimas depois de um almoço desastroso com a garota podem servir de estalo para a genial resolução de um crime.

Megan Hunt, porém, não tem o mesmo carisma de House, por exemplo. Ao menos nos primeiros episódios, é difícil torcer pela personagem, mesmo sabendo que seus objetivos são nobres. Fica a cargo de Brumfield e Gross servirem de alívios cômicos na trama.

Fungos escandinavos

Para John Carroll Lynch, a grande diferença entre "Body of Proof" e outras séries do gênero está em quanto o roteiro se importa em mostrar a vida da vítima. "O corpo fica na cena do crime e nunca mais se ouve falar dele. Fala-se de fungos escandinavos e do ângulo em que a bala entrou no corpo, mas nunca mais sobre o morto", comenta, fazendo uma comparação com "CSI" em entrevista concedida à imprensa internacional da qual o UOL Televisão fez parte. Lynch acredita que mais do que a satisfação por ter o culpado preso ao final de um episódio de "Body of Proof", a audiência vá se sentir consternada pela morte da vítima.

Dana Delany, que interpreta a protagonista, vai mais além. Além do fato de que a personagem se conecta demais aos corpos das vítimas, o que não acontece em outras séries, para ela "o novo emprego de Megan é algo como um psicopompo [palavra grega que representa um 'guia de almas', um condutor que leva os mortos desta para outra vida]; ela mesma precisa disso para se tornar mais humana".

Apreciando a vida

As autópsias reais a que o elenco assistiu para se preparar para a série parecem ter marcado muito todos os envolvidos. Para Jeri Ryan, o procedimento "faz você realmente apreciar a vida". Para Windell D. Middlebrooks, apenas a inspeção do corpo de um jovem de 20 anos, que morreu em um acidente de moto durante uma madrugada, já foi o bastante para perceber que havia necessidade de tomar cuidado com as mais pequenas coisas. "Influencia a todos nós", completa Geoffrey Arend.

Dana Delany concorda. "Tenho de cuidar da minha máquina [eferindo-se a seu corpo]. Seja lá quem tenha feito isso, agradeço todos os dias, e é minha responsabilidade fazer com que tudo corra bem com ela".

* A jornalista viajou a convite da Sony Entertainment Television.

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"BODY OF PROOF"
Onde: Sony
Quando: estreia terça (12), às 22h. Reprises aos domingos, às 18h