"Viajar é um aprendizado. Até sangue de cobra afrodisíaco eu já bebi", conta Álvaro Garnero
ANA JARDIM
Da Redação
Álvaro Garnero, apresentador do "50 por 1", revela experiências e mostra objetos de viagem
Veja Álbum de fotos Em um imponente escritório na avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, o apresentador do "50 por 1" da Record, Álvaro Garnero recebeu o UOL para uma entrevista. Acompanhado de dois assessores, Álvaro contou sobre suas experiências pelo mundo, --ele conhece 78 países. Lembrou do sangue de cobra afrodisíaco que tomou no Vietnã, contou sobre os perrengues da viagem de dez dias em um navio cargueiro, no trajeto entre a Inglaterra aos Estados Unidos, e afirmou que a Mongólia foi o país mais fascinante que conheceu. Sobretudo a aldeia em que ficou hospedado por dois dias e viveu a rotina do lugar integralmente.
Álvaro também contou que a gastronomia de cada local que conhece é o que mais fascina. Durante passagem pela China, o apresentador esteve em um restaurante que oferecia diversos pratos que tinham como ingrediente principal o pênis de animais variados. "Comer pênis de cavalo, jegue, leão marinho, cachorro e veado foi algo inusitado. Aquele negócio 'daquele tamanho' e você paga 700 dólares", disse ele, aos risos, contando ainda que o prato é servido com saladas e sopas e aquele "tamanho de instrumento".
No escritório no 21º andar, com vista para a cidade de São Paulo e de onde se via um temporal, Álvaro espalhou seus objetos favoritos sobre uma mesa junto aos dois passaportes, --um brasileiro e outro italiano-- e calmamente foi relatando as experiências vividas nos últimos quatro anos do programa, enquanto os assessores "refrescavam" sua memória. Leia mais na entrevista abaixo.
UOL - Você é empresário, como foi se adaptar como apresentador de TV?
Álvaro Garnero - Eu acho que foi de uma forma diferente e fui me adaptando, pegando uma dica aqui, outra ali e nunca encarei como se fosse um apresentador, mas uma pessoa que mostrava as coisas sob uma perspectiva diferente. Uma coisa que a principio tive dificuldade foi com o modo de falar, já que sou muito rápido. No entanto, consegui moldar isso. Para apresentar o "50 por 1", os meus diretores chegaram com a ideia de que eu fosse mostrando os países, do ponto de vista que tenho o perfil e naturalidade para fazer isso, compartilhar as experiências. Mas ser apresentador não é algo que eu tenha definido em uma carreira programada.
Álvaro Garnero ensina como fazer as malas
UOL - Como é definido o roteiro de viagens do programa?
Álvaro Garnero - Na verdade, o roteiro de viagens depende muito. Eu costumo dizer que o que é mais importante é o percurso. Nesta temporada, a volta ao mundo foi uma coisa mais na intuição mesmo. Sabíamos o tempo que tínhamos, uma ideia dos países onde iríamos passar, as datas, e aí a gente fez um pré-planejamento, viu questões como áreas de conflitos e dificuldades, entender que faríamos essa temporada exatamente como um reality. Nas temporadas anteriores, tudo foi muito tranquilo, pois tínhamos tempo para agendar e fazer adaptações na pauta, o que não foi possível desta vez já que não havia outra opção além dos 80 dias previstos.
UOL - Falando da quarta temporada, como foi a entre a Inglaterra e os Estados Unidos à bordo de um navio cargueiro ?
Álvaro Garnero - A gente começou essa parte aí em Londres e não foi como o planejado. Eu achando [sic] que essa seria a parte bacana da história, viajar em um navio de luxo, maravilhoso, com lançamento de tudo o que há de mais interessante. Havíamos visto as datas e chegamos lá programados para essa viagem, no entanto e não havia mais nenhum lugar disponível. Como fazer? Já estávamos com uma viagem agendada no Canadá e teríamos que ir da Inglaterra para os Estados Unidos de qualquer jeito e de barco. Então o José Ramalho [escritor que acompanhou Álvaro na temporada] teve a ideia de irmos em um navio cargueiro. O preço era razoável, sem luxo nenhum, uma torre de sete andares, três refeições diárias e nada mais para você fazer. Um tédio completo, mar, mar e mar o tempo todo. Passei dez dias assistindo todas as séries de TV e filmes possíveis, fora os imprevistos como as tempestades no mar e as ondas de mais de 12 metros. [Álvaro faz uma pausa e comenta sobre a chuva que cai em São Paulo. "Nossa, olha essa chuva, lá no mar tava se formando um 'hurricane' assim. Dá até uma 'bad' você olhar lá em baixo e ver o carros boiando na água que está na rua"]. Mas foi uma experiência fantástica, e pouca gente sabe que 90% da economia mundial é movimentada pelos navios cargueiros e quantas são as vidas que movimentam aquilo.
UOL - Como era a alimentação no navio?
Álvaro Garnero - No primeiro dia foi ótimo porque eu "passei um dinheiro" na mão do cozinheiro e ele fez um prato caprichado. No segundo, terceiro, sexto dia também, mas depois eu acho que ele ficou meio desmotivado porque parei de dar dinheiro a ele. Sorvete, por exemplo, só às sextas-feiras, mas comemos normalmente na maioria dos dias. E sinceramente, há um planejamento de estoque de comida, você está em alto mar, não dá para fazer muita coisa além.
UOL - Nesta volta ao mundo, qual país mais te impressionou?
Álvaro Garnero - A Mongólia, sem dúvida nenhuma. Já havia tido referências sobre lá e de fato fiquei bastante impressionado, é uma coisa incrível. É um país muito pobre, a economia de lá é algo equivalente a metade do que uma empresa como a Nestlé movimenta. É muito fantástico, aí você lembra que a Mongólia já conquistou o mundo, e vai ao deserto e encontra uma estátua gigantesca de Genghis Khan [imperador e conquistador mongol], um cavalo enorme que você entra pela barriga, passa pelo corpo é incrível. Os mongóis são povos bárbaros, passei dois dias com eles em um vilarejo e dormindo em uma cabana. Lá 80% das pessoas vivem neste tipo de moradia. No programa eu construí uma casinha dessas em menos de uma hora. No centro da cabana há um local onde eles cozinham, é a fonte de calor, o lugar sagrado. Eles são nômades e a cada seis meses estão em um lugar. As pessoas são receptivas, um povo muito interessante. Eu fiquei cinco dias na Mongólia e não mostrei tudo o que eu gostaria.
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Álvaro Garnero na foto com máscara que comprou durante viagem ao Zimbábue (17/2/2011)
Qual foi a situação mais inusitada que você viveu durante suas viagens?
Álvaro Garnero - Várias coisas aconteceram, mas duas situações foram marcantes. Uma vez na Índia, gravando em Mumbai no hotel Taj Mahal, tínhamos autorização, mas aí a polícia chegou e prendeu meu diretor e o assistente. Queriam colocá-los dentro daqueles caminhões com os outros presos e levá-los para a delegacia, mas aí meu assessor conseguiu sair correndo e veio no hotel me avisar e conseguimos resolver tudo. A outra situação foi em Moçambique e íamos gravar em umas ilhas paradisíacas na região, tudo agendado, data, horário e então quando chegamos no aeroporto, nos disseram que não teria mais o voo e que estava tudo lotado. Rolou um estresse, ligamos a câmera, mas sem gravar nada fizemos uma "rebelião". Fecharam o aeroporto, vieram os guardas com metralhadoras, queriam tirar nossa câmera, um rebuliço total. No final das contas não embarcamos e uma hora depois apareceu o presidente da companhia aérea, conhecia o "50 por 1" e deu um jeito de nos ajudar. Notei que é incrível a força que a Record tem no exterior, as pessoas nos reconhecendo e querendo ajudar resolver o problema.
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Álvaro Garnero mostra alguns dos objetos que trouxe das viagens que fez (17/2/2011)
UOL - E com relação a tomar banho. Você teve de se adaptar a condição local dos lugares que esteve, como foi isso para você?
Álvaro Garnero - Várias vezes fiquei sem tomar banho. Na Mongólia mesmo eu fiquei sem banho três dias. Nos trens, por exemplo, alguns tem banheiros e outros não. Quando estive na amazônia peruana também rolou negócio meio estranho para tomar banho no meio de um lago e muito frio, não dava para ficar abusando.
UOL - Em algumas gravações você usa roupas típicas e muitos acessórios. Você não se sente constrangido em ter que se vestir às vezes com esses trajes?
Álvaro Garnero - Eu e a minha produção aprendemos em quatro anos de "50 por 1" que as pessoas gostam de ver ao Álvaro em situações macabras, de desconforto. As pessoas gostam de rir. Então a produção entendeu que tinha que me escalar para todos os tipos de danças e pautas, para eu aprender a cultura de cada local e interagir. Não é só ir lá e apresentar, tenho que me inserir no contexto, entender aquilo que estou mostrando. Um dos grandes micos que vivi, mas um incrível aprendizado que tive, foi minha participação no Balé de Bolshoi, aqui no Brasil, em Santa Catarina. Aquela roupa, fazer os passos... Naquela gravação eu aprendi a dar um valor enorme ao balé, porque é praticamente impossível fazer aquilo com o corpo. Muito difícil mesmo, aquelas meninas são "elásticas".
UOL - Quais foram as comidas mais exóticas que você provou?
Álvaro Garnero - A gastronomia é uma coisa fantástica, de todas experiências, essa é a que mais me impressiona. Já comi coração de cobra, tomei sangue de cobra. Provei pênis de cavalo, jegue, leão marinho, cachorro e veado, algo inusitado, mas ao mesmo tempo uma experiência interessante, aquele negócio "daquele tamanho", é a cultura asiática. Na China você paga 700 dólares e é servido com aquele "tamanho de instrumento". Junto com esse prato eles servem umas saladas e um sopão e vão te dando os pedaços para você provar. Te garanto que quando essa matéria for ao ar vai dar o que falar. Tive também a experiência de comer aquele ovo de pata fecundado há 18 anos nas Filipinas, aquilo é horrível.
UOL - Você falou que tomou sangue de cobra, como foi isso?
Álvaro Garnero - Sim, no Vietnã há uma vila que se chama "Snake Village", um lugar no interior de Hanoi que é um viveiro de cobras, com todos os tipos de serpente que você imaginar. E lá existe um restaurante enorme, onde é servido todo tipo de cobra. Você escolhe no cardápio e eles te trazem a cobra vestindo uma capa, toda agitada, e então o garçom corta ela toda inteira, tira o coração e coloca em um prato, o sangue em um copo e a bilis em outro. Aí deixam em cima da mesa para você provar e realmente o negócio é interessante, o sangue inclusive é afrodisíaco e o coração você divide com o dono do restaurante e come ele ainda pulsando. Com o que sobra da cobra você prova mais sete ou oito pratos diferentes, a carne é similar a do frango.
UOL - Você disse que o sangue da cobra é afrodisíaco. Fez efeito em você?
Álvaro Garnero - É, eu provei o sangue (risos). Fez efeito sim, dá uma diferença, te deixa meio "zureta" (gargalhadas). É um Viagra potencializado.
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Álvaro Garnero veste roupão que comprou em Alepo, na Síria, por 600 dólares (17/2/2011)
Você já sofreu algum tipo de acidente durante as gravações do programa?
Álvaro Garnero - Sim, andando de skate em uma gravação no Rio Grande do Sul. O diretor é sacana, ele me diz que se eu não fizer não tem matéria. Aí eu subi no skate, fui para a rampa e voei longe, fiquei dois dias "sentando no saco de gelo" após o acidente.
UOL - Que tipo de experiências você tira das viagens para sua vida?
Álvaro Garnero - O encontro das pessoas por esse mundo afora, as diferentes culturas, a gastronomia... Por todos os lugares onde eu passo as pessoas me recebem com um sorriso, é incrível, é a parte mais marcante. Eu gosto muito dessa troca de experiências e de como as pessoas encaram esse contato. São coisas inacreditáveis que você conquista pelo mundo e ainda descobre que no fundo todas as pessoas tem calor humano, isso é o mais importante.
UOL - Qual foi o objeto mais interessante que você trouxe das viagens?
Álvaro Garnero - Apesar de ter viajado o mundo todo, foi no Brasil que encontrei o objeto mais interessante. Esse lance [sic] aqui que parece uma camisinha de madeira os índios usam para proteger o pênis durante as batalhas e depois usam para beber um licor que eles fazem lá e isso vira um copinho.
UOL - Eles usam esse objeto no pênis e depois usam para beber algo? Esse aí é seu?
Álvaro Garnero - Exatamente, eles fazem o molde, usam isso para as duas funções, esse não é meu deste tamanho (risos). Esse é muito pequenininho (gargalhadas), mas eu ganhei com muito orgulho do índio que tava com a gente lá. Neste mesmo dia eu ganhei esse cigarrinho de madeira, que eles fumam, mas não tem nenhum efeito alucinógeno.
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Álvaro Garnero mostra objeto que trouxe da Amazônia usado pelos índios para proteger o pênis durante as batalhas. O cone também é usado como uma espécie de copo (17/2/2011)
Existe algum objeto ou acessório que você viu em alguma de suas viagens e por algum motivo não comprou, mas depois se arrependeu de não ter trazido?
Álvaro Garnero - Ah, eu tento comprar uma coisinha aqui, outra ali para não passar em branco. Mas já deixei de comprar coisas sim, como um terno Ermenegildo Zegna maravilhoso que vi em uma loja na Mongolia, mas não tinha espaço na mala. Também adoro relógios e já deixei de comprar alguns modelos incríveis. Já quis trazer até cadeiras, mas não consegui.
UOL - Falando em compras, há um tempo atrás a Daniela Cicarelli falou brincando que Ronaldo Nazário, marido dela na época, disse que levar malas em viagem era coisa de pobre e que o necessário mesmo era apenas o cartão de crédito. Você concorda?
Álvaro Garnero - Olha que essa é uma ideia bem interessante e eu até me lembro disso, mas quando o Ronaldo viajou comigo para a Rússia, ele levou uma mala, não foi só com o cartão. Eu gosto de levar mala, nem que seja uma só, acho útil. Não descarto a possibilidade de ir complementando a bagagem fazendo compras. Gostaria sim de viajar sem malas e só com o cartão de crédito, mas não é viável.
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Álvaro Garnero conta que esteve em 78 países
e que as viagens não atrapalham seu namoro (17/2/2011)
UOL - Você viajando tanto, como fica seu relacionamento. Rola ciúmes entre você e a Cristiana [Arcangeli]?
Álvaro Garnero - Não, não tem essa de ciúmes. Eu e a Cris temos um relacionamento bastante maduro. Claro que sentimos saudade e que é ruim ficar longe. Nesta viagem em que fiquei 80 dias distante a gente tentava se falar por Skype, celular, se fazer presente. Vamos completar um ano de namoro e está tudo bem, somos muito próximos.
UOL - E como as pessoas te tratam na rua? Elas te reconhecem?
Álvaro Garnero - Sim, a televisão te aproxima muito do público. Recentemente estava voltando de Portugal para Londres, um rapaz de Moçambique que mora na Islândia e assiste a Record internacional me reconheceu, foi muito legal isso. Aqui no Brasil as pessoas são muito simpáticas e carinhosas, elas conversam, elogiam e comentam sobre as viagens, as comidas e as danças.