Antônio Grassi analisa seu personagem em "Ribeirão do Tempo"
PopTevê
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Divulgação/Record
O ator Antônio Grassi em cena de "Ribeirão do Tempo" (2010)
A possibilidade de trabalhar em uma obra cheia de mistérios, envolvendo política e ecologia. Isso é o que mais instiga Antônio Grassi em "Ribeirão do Tempo", da Record. Para o ator, a novela de Marcílio Moraes se aproxima muito dos problemas reais enfrentados pelo Brasil. "Os personagens são muito fortes e a gente sempre fica identificando pessoas reais com as mesmas características", conta o intérprete do inescrupuloso Dr. Flores. Desde que foi chamado para o projeto, Antônio previu que seria complexo dar vida a um personagem cheio de contrastes. Na trama, Flores sempre lutou pelos direitos ecológicos e sociais da cidade. Porém, coloca seus ideais e interesses acima de qualquer bandeira. "Ele é muito admirado pelo povo de Ribeirão. Mas carrega consigo o lema de que os fins justificam os meios e, por isso, comete atrocidades", define o ator.
Esta é a quinta novela de Antônio na Record. Depois de participar de dois folhetins da emissora, no final dos anos 90, voltou em 2008 para interpretar o empresário Walter de "Chamas da Vida". A estreia na televisão, inclusive, foi tardia. Antônio confessa que no início da carreira nutria um pouco de preconceito pelo veículo. "A TV não era vista com bons olhos por quem tinha formação teatral. Experimentei e depois não larguei mais. É um veículo fantástico", conta.
Grassi também atua na política e foi recentemente nomeado pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, como presidente da Funarte --Instituição de fomento às artes subordinada ao Ministério da Cultura--, cargo que o ator já havia ocupado em 2007 e fora demitido pelo então ministro da Cultura, Gilberto Gil.
No início de "Ribeirão do Tempo", o Dr. Flores era visto como um homem do bem, depois se tornou o principal vilão da trama. A mudança estava prevista?
O Flores têm muitas facetas. No roteiro inicial, já tinha a história de ele não medir esforços para chegar onde quer. Ele tem princípios muito radicais e essa loucura revolucionária não tem limites. Ele manipula a cidade inteira. Agora, além de ser o grande vilão da novela, também tem a história com as mulheres que brigam pelo amor dele, que é o lado cômico. Isso dá uma certa leveza às maldades que ele pratica.
O Flores é um militante político radical. Como foi o processo de composição deste personagem?
Fui moldando o personagem junto com a equipe da novela. O Marcílio falava muito de um livro do Dostoiévski chamado "Os Demônios". Peguei essa obra como referência em relação ao pensamento político, filosófico e social do personagem. Essa composição é feita aos poucos e algo que me ajuda muito é a cenografia. Você entra na cidade cenográfica e ela te dá muitos elementos para construir a atuação.
Você estreou em um episódio do "Caso Especial", da Globo. A partir disso, trabalhou em diversas outras emissoras. Isso é uma forma de diversificar a carreira?
É bom variar. Às vezes, um papel repete muito a fórmula do anterior. Fico muito feliz em encontrar personagens diferentes e acho que esta minha segunda temporada na Record é umas das mais frutíferas. Em "Chamas da Vida", fiz um rico empresário, depois participei de "A Lei e O Crime", e agora estou fazendo o Dr. Flores, um personagem bem difícil. Estou feliz e trabalhando com pessoas que admiro.
Você foi nomeado presidente da Funarte e, atualmente, trabalha também como executivo da TV Brasil. De onde vem esse interesse em integrar arte e política?
Políticas Públicas é um assunto que sempre me interessou. Sou do tempo em que o teatro era uma ferramenta política. Antes da Funarte, fui Secretário de Cultura do Rio de Janeiro, depois assumi o Teatro Municipal. Penso a Política e a Cultura como uma coisa só. É uma área desgastante, mas gosto muito. O trabalho na TV Brasil é complementar ao trabalho na televisão aberta. Para a Record, dedico o meu lado ator, e na TV pública, exercito minha porção executivo. É um trabalho importante, estamos empenhados em fazer o canal unir qualidade e audiência para que a TV Brasil não se torne enfadonha.
(Por Geraldo Bessa)