"Para mim, a questão não é se Tony ficou vivo ou morreu", diz criador de "Família Soprano"
Jake Coyle
-
HBO/Divulgação
Jun.2007 - Cena do episódio final da série "Família Soprano", com James Gandolfini, Edie Falco e Robert Iler
Em uma entrevista recente com David Chase sobre o seu novo filme, "Not Fade Away" (sem título em português, nem previsão de lançamento no Brasil), a conversa inevitavelmente caiu em "Família Soprano" e o seu fim infame. Abaixo, os comentários de Chase sobre assistir ao episódio final pela primeira vez, dois anos atrás, com apenas uma interferência do repórter
"Eu achei que o episódio em si poderia ter sido meio bobo, mas não foi. Eu fiquei orgulhoso. E satisfeito com o que fizemos. O que não entendi foi o fato de que o fim foi tão comentado que obscureceu todo o resto do episódio que veio antes. Nunca ninguém viu, falou sobre ele, mencionou ou falou algo - e acho que nem interpretaram corretamente porque só o que se falava era sobre o fim. Não sabia que isso poderia acontecer.
"Acho que muitas pessoas pensaram que estavam sendo feitas de bobas, que eu estava sendo meta... - é esta a palavra? - e pós-moderno ou apenas exibindo meu paternalismo pelo público ou dizendo: 'Rá rá rá. É só um programa de TV'. Nada disso era o que realmente estava acontecendo. Aquele era o melhor fim que eu poderia ter pensado e achei que dizia algumas coisas, mas ninguém entendeu porque estavam todos irritados. Ou porque talvez não tenha sido feito direito.
"Eu gostaria que aquela conexão tivesse sido melhor feita. Para mim, a questão não é se Tony ficou vivo ou morreu, e isso é tudo o que as pessoas queriam saber: "Bem, ele vive ou ele morre? Você não terminou o programa. Você não respondeu à pergunta". Isso é um absurdo. Havia outra coisa que eu estava dizendo que era mais importante do que se Tony Soprano ficou vivo ou morreu. Sobre a fragilidade de tudo isso. A série inteira foi sobre o tempo de uma certa maneira, e o tempo destinado a esta Terra. Que toda a viagem para a Califórnia era tudo sobre isso - que as pessoas chamavam uma sequência de sonho. E todas as sequências de sonhos dentro da série. Tony estava lidando na mortalidade a cada dia. Ele estava servindo a vida e a morte. E ele não estava feliz. Ele estava recebendo tudo o que ele queria, aquele cara, mas ele não estava feliz. Tudo o que eu queria fazer era apresentar a idéia de como a vida é curta e como ela é preciosa. A única maneira que eu senti que eu poderia fazer isso era para tirá-la. E eu acho que as pessoas entenderam. Deixou-as emocionalmente frustradas, mas intelectualmente não entenderam. E isso tudo pode muito bem ser resultado de execução ruim.
"Será que Tony morre ou que ele não morre? Bem, primeiro de tudo, ele realmente se resume a isto: havia, o que, seis temporadas da série? Sete? Eu deveria fazer uma cena final para mostrar que o crime não compensa? Bem, nós vimos que o crime compensa. Nós estamos vendo por quantos anos? Agora, em outro sentido, vimos que o crime não compensa porque não o fazia feliz. Ele era um homem extremamente isolado, infeliz. E então, finalmente, de vez em quando ele fazia uma conexão com sua família e era feliz lá. Mas neste caso, o que aconteceu, nunca chegamos a ver o resultado disso. Foi tirado dele e de nós. Eu esqueci o que estava dizendo."
Que o significado da série não tinha que estar lá no momento final. Estava lá o tempo todo.
"Exatamente. Foi o que senti. Realmente, era sobre o tempo, para mim - só para mim - e amor. O que mais temos nesse universo? É um universo gelado. As pessoas dizem: "Oh, a série é sombria". E com isso a ideia de que ninguém muda nunca. Essa nunca foi a minha intenção. Mudar é algo difícil de se fazer, e como a maior parte de nós, ele não estava tentando com tanto empenho. As pessoas diziam: "Oh, estava ficando pior e pior e pior". Acho que ele era o mesmo cara no começo que ele foi no fim. Talvez ele tivesse um pouco mais de capacidade de sentir compaixão pelas pessoas, não sei.
"Eu disse que era um universo frio e não estou dizendo isso metaforicamente. Se você for para o espaço, é frio. É muito frio e não sabemos o que há por lá. Acontece que estamos nesse pequeno bolsão onde existe um sol. O que mais temos, além de amor e uns aos outros para guardar de todo esse isolamento e solidão?"