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23/11/2005
TV da Gente e a suave dor do parto


Mesmo o mais distraído telespectador repara que são todos negros: as apresentadoras dos programas infantil e feminino, a âncora do telejornal, o comentarista do noticiário de esportes e o entrevistador do programa sobre cidadania. E também se nota que, diferentemente de outros canais em UHF, a emissora só passa videoclipes nos intervalos, não exibe infomercial de eletrodomésticos, não leiloa gado, jóias ou tapetes e, seu programa feminino, não vende um alfinete sequer à telespectadora.

É claro que, cedo ou tarde, patrocinadores irão preencher as lacunas na programação -e no cofre- da emissora, mas o visual étnico, modesta compensação pela escassez de negros na linha de frente de outros canais, deve ser marca registrada da estreante TV da Gente, que entrou no ar no último domingo (20), no canal 50, Dia da Consciência Negra.

Concebida e liderada pelo apresentador e cantor Netinho de Paula, a emissora confere à palavra "Gente" de seu nome um sentido sutilmente distinto do que tinha em "Domingo da Gente", o açucarado programa de Netinho na TV Record. Se neste o termo significava genericamente "nós, o povão", o "Gente" na denominação da emissora sugere "nós, a comunidade negra".

De toda forma, a TV da Gente não parece ter a pretensão de ser canal exclusivo "para" a comunidade negra, mas sim "pela" comunidade, ou seja: divulgando e valorizando a cultura, destacando sua problemática e cobrando soluções -de forma veemente, a julgar pela frase de Netinho citada no jornal londrino "The Guardian": "quem diz que quer um Brasil [racialmente] integrado, agora vai ter que mostrar a cara".

A PROGRAMAÇÃO

Baixando a bola para o lado do entretenimento, acompanhar um dia na programação da TV da Gente dá indícios de que, em formato e linguagem, ela não pretende ser ousada. Por outro lado, tem muito a ganhar em dinamismo quando superar as dificuldades naturais de projeto em início de operação -nestes primeiros dias, a emissora tem ido ao ar em condições muito limitadas, quase precárias.

Exemplos: no infantil "Turminha da Hora", a apresentadora Cinthya Rachel, ex-"Castelo Rá-Tim-Bum", precisou de várias tentativas para conseguir entrar em contato com uma criança ao telefone. Já no feminino "Encontro da Gente", Adyel Silva teve de "enrolar" cantando em playback, para esgotar o tempo do programa. E no telejornal "Notícias da Gente" que foi ao ar nesta terça-feira (22), teve só uma reportagem de campo -e mesmo assim, era sobre a inauguração da emissora. No resto do tempo, a âncora Cláudia Alexandre leu notícias sem qualquer imagem ilustrativa, tendo ao fundo uma tela exibindo o logotipo do programa.

Há também comerciais que demoram a entrar e o som que oscila em volume e qualidade, mas algumas dessas "dores do parto" servem até para realçar o jogo de cintura do pessoal: à vontade diante da câmera, Rachel enfrenta a adversidade com bom-humor e Adyel não altera seu jeito manso de falar, destoando das "metralhadoras verbais" de voz aguda, de outros programas femininos.

Por ora, uma das atrações mais "resolvidas" da emissora é o "Esporte da Gente", com a loura Polyanna Morbach na apresentação e comentários do (pouco à vontade) ex-jogador Müller. O programa já funciona de forma similar à concorrência, com reportagens externas próprias e algum material cedido pela Band, parceira de Netinho no projeto.

Outro que já tomou corpo é "Questão de Direito", sobre questões de cidadania, comandado por Hédio Silva Júnior, secretário da Justiça e Cidadania de São Paulo. Autoridade de um governo tucano, Hédio recebeu ontem a ministra Matilde Ribeiro, secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do governo federal petista, e falaram de temas caros aos negros, sem nada do tom belicoso com que seus colegas de partido têm se dirigido uns aos outros no noticiário da TV.

Certamente não faria sentido trocarem farpas, pois, embora em partidos antagônicos, os dois têm várias causas comuns. Mas, muitas vezes, a obviedade é oportuna para reforçar um conceito. Afinal, não custa lembrar que a própria criação da TV da Gente se deve, em boa parte, à dificuldade de afirmar princípios também óbvios, mas pouco respeitados, sobre igualdade de direitos.

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