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16/11/2005
"CSI" ganha concorrente à altura, mas por pouco tempo


Por ironia do destino, dois canais da TV paga exibiram nesta terça-feira (15), no mesmo horário, séries policiais com resultados totalmente opostos em termos de prestígio e sucesso.

Enquanto a Sony mostrava o segundo episódio da sexta temporada de "CSI" (Crime Scene Investigation), a série de maior sucesso nos EUA, a Fox levava ao ar a estréia de "The Inside", que os gringos detonaram ainda na primeira temporada, depois de apenas sete episódios.

"CSI" surgiu em 2000 com várias inovações, a começar da ambientação na árida e luminosa Las Vegas, centro da jogatina americana, em vez das usuais Nova York ou Los Angeles. Bem integrada à embalagem, a música tema da banda inglesa The Who, "Who Are You", remete à atividade rotineira dos policiais da série: identificar a vítima, descobrir a causa da morte e arregimentar o maior número de pistas do assassino.

Em vez da pontaria certeira e da agilidade na perseguição, o bem treinado time de "CSI" se destaca pela habilidade em vasculhar o local do crime, colher evidências e examiná-las em laboratório. Cérebro em vez de músculos é do que trata a série, que prende o telespectador por lhe deixar xeretar cada passo da investigação, onde usa o estado-da-arte em técnica e equipamento. E, nesse aspecto, "CSI" vai onde nenhuma série jamais esteve.

Notável no tratamento de imagem, com câmeras ágeis e ângulos atípicos, a série usa caprichados efeitos visuais e sonoros para reviver o crime, mostrando muito mais do que o criminoso atacando a vítima. Vê-se -e ouve-se!- como o órgão é perfurado pela bala, como o osso é fraturado pelo pára-choque do carro, como o punhal secciona a artéria... Cenas que fazem "CSI" ser reputada, além do esmero da produção, por um hiper-realista e chocante nível de violência.

Não bastassem as virtudes técnicas, a arrojada linguagem visual e roteiristas com incrível talento para inventar novas formas de matar gente, "CSI" se dá ao luxo de aliviar o clima pesado fazendo graça. Dotados de ácido senso de humor (negro, "por supuesto"), os policiais fazem piada com a morte sem dar bola para o politicamente correto.

Bom exemplo houve no episódio que marcou o segundo episódio da 6ª temporada, quando o legista Dr. Robbins, depois de fotografar o cadáver de um ator famoso, explicou que a foto era para uso particular: "em meu álbum há um espaço perfeito entre Tupac e Entwistle". Explica-se: o astro do hip-hop Tupac Shakur (assassinado a tiros), e o baixista do The Who, John Entwistle (por overdose) morreram ambos em Las Vegas, e seriam submetidos à perícia do Dr. Robbins, se ele existisse na vida real.

Enquanto "CSI" se apóia na tecnologia, a sinistra "The Inside", passada em Los Angeles, mostra o FBI às voltas com crimes escabrosos cometidos por serial killers, que demandam muita ciência de comportamento para serem entendidos e pegos antes de fazer outra vítima. Na busca desses discípulos do costureiro perverso de "O Silêncio dos Inocentes", destacam-se o frio e calculista comandante da equipe, Virgil Webster, personificado pelo ator Peter Coyote, e a detetive Rebecca Locke (Rachel Nichols), que, tendo sido ela mesma sequestrada por um psicopata quando criança, desenvolveu uma habilidade especial para entender o funcionamento de mentes criminosas.

Mais conservadora do que "CSI" na linguagem visual, sem piadas para amenizar o clima, focada antes em duelos psicológicos do que nas possibilidades da tecnologia, e com mais ação de campo -leia-se, perseguição e tiros- "The Inside" iguala a prima mais velha apenas na falta de cerimônia com que exibe o sanguinolento resultado da ação dos malfeitores.

Quanto à qualidade como entretenimento, o primeiro episódio não decepcionou: a caça a um metroviário que mutilava o rosto e a mão direita das vítimas foi um razoável "thriller" policial, cujo roteiro, com algumas adaptações, provavelmente não faria feio em um longa-metragem.

Comparando as duas séries, a premiada "CSI" mostra evidentemente mais qualidade, atrativos e inovações, mas "The Inside" está longe de ser um lixo. Sendo assim fica a dúvida: Por que uma já passa de cem episódios e a outra não chegou a dez? Ora, acontece que a durabilidade dos programas de TV não pode ser tomada como simples reflexo da diferença de qualidade.

Se é fato que, lá como cá, a audiência e o decorrente retorno publicitário são o que determinam a longevidade de um programa, é igualmente verdadeiro que esses números não têm relação direta com o que o senso comum chama de "qualidade". Às vezes o programa é lançado na época errada, ou a divulgação é mal feita, ou ele apenas sofre o efeito de uma idiossincrasia do público, cujo gosto tem dinâmica própria e pode fazer naufragar, sem motivo aparente, uma produção que em outras circunstâncias poderia ser um sucesso.

No caso específico de "The Inside", o próprio presidente da Fox, Peter Liguori, se penitenciou por não ter lançado a série mais cedo, pegando carona na audiência dos finais de temporada de "24" e 'American Idol". Com essa ajudinha, talvez "The Inside" tivesse chamado mais a atenção do público, ganhando movimento próprio e evitando que os astros tivessem de procurar novos empregos: Coyote foi se engajar na duvidosa "Commander In Chief", e Nichols em "Alias".

Enquanto isso, a competente "CSI" já gerou até duas "franquias", em Miami e Nova York, com design igualzinho, inclusive músicas do Who como tema. Próspera e admirada, ela segue navegando em águas tranquilas, com a segurança de quem marcou um número milionário -não na roleta, mas nos medidores de audiência.

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