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14/11/2005
Maquiagem já não corrige mais o velho "Fantástico"


Eu confesso: toda vez que começa o "Fantástico", com aquela musiquinha que é, literalmente, variação sobre um mesmo tema usado há décadas, sempre canto mentalmente: "olhe bem, preste atenção / nada na mão, nesta também..." Afinal, o programa está há trinta e dois anos martelando a mesma vinheta na cabeça da gente, todo santo domingo.

A convivência do "Fantástico" com o público brasileiro é longa. E já que se fala em domingo, a atração me parece uma iguaria tradicional de família, dessas que cada um já sabe direitinho o que irá comer e o que vai parar na borda do prato.

Ao longo dos anos a receita até que mudou: o creme de leite tradicional foi trocado pelo light, a dose de sal diminuiu, usa-se azeite em lugar de óleo, entrou tomate seco na composição... Zelosa, a "mamma" vem tentando melhorar o sabor do prato, e já pensou até em substituí-lo. Mas, como nem ela nem o resto da família têm idéia do que poderia entrar no lugar, continua cozinhando todo domingo o mesmo prato.

Tentando agradar a todos, o "Fantástico" combina num só programa "Jornal Nacional", "Vídeo Show", "Globo Repórter", "Globo Esporte" e até novela das sete. Tem notícias, marketing de produtos "da casa", jornalismo investigativo, ciência digerível, turismo --geográfico e cultural--, gols da rodada e dramaturgia leve, tudo embaralhado em duas horas e meia de duração, que tornam o programa demasiado longo, difícil de ser assistido integralmente.

Assim, a tradição gera uma contradição e, enquanto coça a cabeça e não resolve a equação, a Globo vai mexendo no programa de leve, pelas beiradas, mudando apenas para que fique a mesma coisa.

Exemplo: há alguns meses, Berto Filho (foto) foi contratado para fazer chamadas e narrações para o programa, mas não exatamente como uma segunda voz, um contraponto ao veterano Cid Moreira. Filho foi escolhido porque tem o timbre de voz similar ao de Moreira, e, com pouco esforço, consegue imitá-lo tão bem que chega a ser difícil distinguir um do outro.

Outra mexida de embalagem que convém ao programa, mas pode incomodar o telespectador impaciente, é segmentação de matérias de impacto em blocos diferentes, para obrigar os interessados a assistir outras reportagens enquanto aguardam o desfecho de sua matéria preferida. O truque, usado há tempos no quadro Gols da Rodada, passou a ser aplicado em outras áreas com adaptações "interativas".

Em um estranho quadro chamado "1,2,3", por exemplo, os telespectadores foram convidados a identificar qual o único depoimento verdadeiro entre três narrativas envolvendo animais. O curioso nesse quadro foi que, por motivos que só a produção do programa poderia explicar, um grupo de estudantes de direito foi considerado especialmente apto a separar a verdade das mentiras, e o resultado da votação entre eles serviu de base de comparação para as pessoas "comuns".

Numa outra linha, mas não menos interativa, estão os testes. Na edição do último domingo (13), após a exibição de uma matéria sobre a diminuição da capacidade de memorização das pessoas, o programa propôs ao telespectador avaliar o estado de sua própria memória. Embora tivesse umas poucas perguntas bem simples, o teste foi desdobrado em inacreditáveis quatro blocos.

E nessa onda de colocar um artificiozinho aqui, uma novidade ali, o "Fantástico" chegou à beira do surreal na série comandada pelo Dr. Dráusio Varella sobre métodos contraceptivos. Para explicar a mulheres pobres o funcionamento da pílula anticoncepcional, o médico se valeu de um enorme corpo feminino grafitado em um muro, e um rastro de luz verde que simulava um spray de tinta seguia seu dedo mostrando o trajeto de hormônios e mensagens nervosas entre cérebro e ovários. Desta vez alguém da produção achou que um grafite falaria mais de perto às pessoas das classes D e E, enquanto o efeito especial atrairia os mais ricos, acostumados ao cinema.

O uso de tantos truques para prender o telespectador sugere que a Globo anda preocupada com sua "revista eletrônica", tanto que lançou um almanaque para alavancar seu nome também nas bancas. Chega a ser compreensível, afinal, depois de trinta e dois anos na mesma posição e formato, qualquer um se cansa. Ou fica cansativo -e esse é o grande problema do velho "show da vida", que maquiagem alguma deverá resolver.

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