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08/11/2005
"Belíssima" renderá bem menos material para o "Casseta & Planeta"


Muito filme de aventura começa sem pressa, com o protagonista acordando com o bipe do rádio-relógio ou caminhando pacatamente pela rua, a caminho do escritório; e a ação esquenta aos poucos, até culminar nas explosões, perseguições e tiroteios que deixam a platéia grudada na poltrona.

Já em novela acontece o contrário: o primeiro capítulo tem tumulto na rua, correria, panorâmicas vertiginosas de helicóptero e depois os personagens se enfurnam em suas casas para brigar, conspirar, namorar e cair nas armadilhas que o "destino" arma para eles.

"Belíssima", a novela que a Globo estreou nesta segunda-feira (7) não fugiu à regra. Uma grife de roupas quis promover a nova coleção fazendo desfile de lingerie em locais movimentados de São Paulo, e provocou a ira de grupos conservadores, que saíram em passeata bradando contra a "sem-vergonhice", chegando ao extremo de tentar invadir a fábrica. E dá-lhe helicóptero, algazarra e cidade em comoção. Só em novela mesmo!

Em primeiro lugar, no mundo real, se um grupo tentasse reprimir um desfile de belas mulheres de calcinha e sutiã na rua, provavelmente se formaria uma turba cinco vezes maior para encher os reaças de porrada. Além disso, quem não suspeitaria daqueles cartazes perfeitos, com texto alinhado, centralizado e composto em letras certinhas, que pareciam impressos num bureau de serviços gráficos?

Contudo, foi preciso a maquiavélica Bia Falcão (Fernanda Montenegro), comandante da grife, confessar que armara o protesto para gerar polêmica e alavancar as vendas da coleção, para que a boazinha e ingênua neta Júlia (Glória Pires) soubesse do truque e se indignasse. E foi assim que o público tomou ciência do grande embate da novela.

Sei não, mas acho que "Belíssima" poderia ter começado de forma mais simplezinha, verossímil e barata. Para mostrar o quanto e porque Bia despreza Júlia, não precisava passeata alguma: bastava a vovó dar um peteleco na cabeça da neta e dizer "pedala, mocréia órfã!". Todos notariam que há um conflito, e que Bia não considera Júlia muito bonita -ao contrário de sua finada mãe Stella, de legendária beleza, morta num acidente de avião.

Brincadeira à parte, o primeiro capítulo da novela teve a inegável e usual competência técnica da Globo, com cortes bem feitos, ângulos criativos e imagens muito bonitas, tanto em São Paulo quanto no litoral grego, onde Pedro (Henri Castelli), o outro neto de Bia, vive com a adorável, lindinha e charmosa ex-menina de rua Vitória (Cláudia Abreu).

O casal tem um restaurante onde trabalha outro destaque, o personagem Nikos (Tony Ramos), um grego ranheta mas de ótimo coração, e que sabe falar português. Pois é, leitor, a gente já viu esse filme, mas Nikos tem a decência de falar português com sotaque -as escolas gregas não devem ser tão boas quanto as de Miami.

Também foi apresentado o núcleo pobre da novela, que por ser paulistano tem trilha "estilo Demônios da Garoa" (é legal, mas porque não tentar um sambinha do paulista de Tietê, Itamar Assumpção?), e um personagem "típico", o mecânico Pascoal (Reynaldo Gianecchini), para quem se prevê problemas dentro da novela -vai se engraçar com uma mulher casada, a exuberante Safira (Cláudia Raia)- e também fora dela, devido à atuação "orra, meu" pouco convincente.

Além da vilã Bia, das heroínas Júlia e Vitória e dos "calientes" Pascoal e Safira, "Belíssima" tem vários outros personagens-padrão: o "bobo da aldeia" Jamanta (Cacá Carvalho), irmão literário do Quebra-queixo de "Como Uma Onda"; a mãezona Katina (Irene Ravache); o patriarca esquentado Murat (Lima Duarte); o humilde e competente trabalhador André (Marcello Antony); e o rico que não tira a blusa dos ombros nem dentro de casa: Argemiro (Pedro Paulo Rangel).

Por último, mas não menos numeroso, há o barulhento núcleo infanto-juvenil, mais usual em novela das sete, que o autor Sílvio Abreu alojou na casa de Safira e do marido Takai (Carlos Takeshi): a dupla tem nada menos do que cinco filhos, de diferentes casamentos.

Resumindo, a novela começou exagerada e inverossímil como as outras, possui personagens estereotipados e conflitos milenares. Há uma vilã obsessiva e rica, amores impossíveis, o filho que desconhece o verdadeiro pai, o núcleo de gente pobre "mas limpinha". Nenhum problema, não há mesmo como reinventar a roda, em uma história condenada a se alongar por meses e meses.

O que diferencia a boa da má novela é principalmente o texto oferecido aos atores, o que eles fazem com esse material, a mão do diretor... E nesses quesitos "Belíssima" larga à frente da turbulenta "América" -cujos índices de audiência, no entanto, irão pairar como fantasmas sobre a história de Sílvio de Abreu.

Bem, pode ser que essa diferença não se traduza em números, mas as cenas entre Pedro e Vitória, apesar do excesso de babação, bem como o tenso confronto entre Bia e Júlia, passaram mais sentimento do que vinte capítulos somados da novela anterior. E Nikos falou mais grego, em apenas 15 minutos, do que a americana May falou de inglês em nove meses.

Sei que intuição masculina não presta para muita coisa, mas arrisco dizer que "Belíssima" renderá bem menos material para o "Casseta e Planeta" -e para mim também, modestamente. Em compensação, seria bacana ver uma novela das nove como entretenimento, em vez de outro duro osso do ofício.

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