"O Melhor do Brasil" é diferente, mas ainda não é "especial" Com a proposta de ser uma "competição artística que revelará talentos de todo o país" estreou no último sábado (5), às 15h, o programa de variedades "O Melhor do Brasil", comandado pelo ator e apresentador Márcio Garcia. A atração ocupa na grade da Record a metade do tempo do "Programa Raul Gil", que pegou seu banquinho e se transferiu pra tela da Band.
Vindo da novela "Prova de Amor", em que fez o malfeitor Barão, cuja carreira foi abreviada por um tiro fatal da policial Diana (Patrícia França), Garcia tem agora a difícil missão de preservar a audiência conseguida pelo antecessor --um "macaco velho" da TV-- que sempre teve público fiel e formato de programa --a competição de calouros-- de retorno garantido. Muito provavelmente, para prender o público habituado ao modelo do programa de seu Raul, "O Melhor do Brasil" contém o mesmo ingrediente principal: a apresentação de artistas novatos, que são avaliados por um júri de "celebridades". A cada duelo vencido, os participantes vão acumulando prêmios em dinheiro. A novidade é que Márcio Garcia quer dar ênfase à diversidade geográfica e cultural, buscando candidatos por todo o Brasil e não apenas na região de São Paulo, sede da emissora. Sem a versatilidade de Raul Gil, um apresentador que além de apresentar conta piadas, canta e faz imitações, Garcia não tem o dom de se fazer, ele mesmo, uma atração artística. Assim, o timing do programa depende muito de sua habilidade de interagir com convidados, júri e auditório, coisas que ele faz com razoável desenvoltura, e até extraindo boas piadas dos imprevistos de palco.
TOURO "DO BEM" O programa teve atrações chamativas, como um touro "do bem", que poderia dar aulas de etiqueta ao maloqueiro Bandido de "América". Levado ao palco, o nelore de 900 kg se comportou como um inofensivo cãozinho: obedeceu a comando de "fica", se fingiu de morto e fez até mesura para o adestrador. Bacana mesmo.
Em oposição, no entanto, houve um bizarro concurso de gritos de fãs, vencido pela mocinha que simulou o chilique mais expressivo diante do ídolo. Esse foi daqueles que nos fazem pensar: "meu deus, o que as pessoas não fazem por uma graninha... e a TV pela audiência!" Para se diferenciar da concorrência e fazer mais jus ao nome, "O Melhor do Brasil" mostra curtas reportagens com pessoas especiais de lugares esparsos como o sertão da Bahia e a cidade de Goiás. O material da estréia foi bom, mas pareceu "jogado", ou seja, um corpo estranho sem vínculo com o que foi exibido antes e depois. Para esse segmentos, ainda há pontes a serem construídas. Um tanto estranha ao mote do programa, talvez tendo o duplo papel de "seguro-audiência" ou "encheção de lingüiça" (haja calouro para quase quatro horas!), foi a presença de celebridades. Começou com uma apresentação do trio musical KLB, um "playback" que não pegou bem em um programa com amadores que não receiam soltar a voz ao vivo e sem efeitos de estúdio. Depois, houve uma competição musical entre apresentadores do jornal matutino "Hoje em Dia" e os garotos do KLB, que venceram de lavada. Divertida, até, mas não tinha nada a ver. Resumindo, "O Melhor do Brasil" tem o mérito de procurar um eixo simpático e interessante, mas deve penar um pouco para balancear a proposta de painel de integração nacional com competição artística. Até lá, o adjetivo "diferente" será mais adequado do que "especial". | | |