 Humor inteligente de "A Grande Família" se aproxima de "Seinfeld" e "Simpsons"  Na quarta-feira (26), a série "A Grande Família", da TV Globo, ganhou o Prêmio Especial do Júri na edição 2005 do Mídia Q, premiação que destaca programas de qualidade, assistidos por telespectadores na faixa infanto-juvenil. Recompensando a programação televisiva "do bem", o Mídia Q é uma espécie de contraponto à campanha "Quem financia a Baixaria é Contra a Cidadania", que combate programas de baixa qualidade na telinha, considerados desrespeitosos da dignidade e dos direitos humanos.
A sitcom sobre a amalucada família Silva, um dos programas mais antigos da TV brasileira (a primeira versão entrou no ar em 1972), mereceu a deferência por estar entre os programas melhor avaliados em 2005, nas faixas de público entre 8 e 11 anos e entre 12 e 17 anos, tendo vencido nesta última categoria em 2004.
É verdade que a lista de competidores deste ano continha programas como "Big Brother Brasil", "Zorra Total" e "novela das 8 da Globo", que qualquer atração de qualidade mediana tem condições de derrotar. No entanto, também em termos absolutos, "A Grande Família" merece destaque pois trata-se de uma feliz e rara combinação de texto engraçado e de qualidade, roteiro criativo e um elenco à altura, comandado por Marco Nannini e Marieta Severo.
O episódio exibido nesta quinta-feira (27), que alcançou 44 pontos no Ibope, recorde de audiência de 2005, mostrou a briga de Agostinho (Pedro Cardoso), o genro trambiqueiro da família, que foi à Justiça para exigir uma pensão da ex-mulher Bebel (Guta Stresser). Agostinho é defendido nos tribunais pelo pasteleiro Beiçola (Marcos Oliveira), aliás, o advogado Dr. Abelardo, cuja alternância de identidades é responsável pelas melhores cenas da noite.
Repreendido por Nenê (Marieta Severo) por enfrentar os Silva no tribunal, Beiçola garante que, como pasteleiro, continua amigo da família, mas "...a senhora sabe como é advogado...", como se falasse de outra pessoa.
Já no tribunal, tentando sensibilizar o juiz, Agostinho se define como "um homem doente, com um sopro congênito no coração", mas Beiçola acrescenta que o mal foi adquirido "em uma vida doméstica cheia de sustos". A seriedade com que os dois se contradizem e a cara-dura com que pintam um quadro de violência doméstica, tendo como vítima o cínico Agostinho, e como algoz a pequenina Bebel, foi um momento de humor inteligente como pouco se vê na TV -me ocorrem, como similares, as enlatadas "Seinfeld" e "Os Simpsons".
Em vários aspectos, o pequeno mundo de "A Grande Família" se assemelha aos núcleos de classe média baixa que existem em quase toda novela, compostos por pessoas simples e de boa índole que moram em "vilas", vivem se metendo uns nas vidas dos outros e, em geral, fazem o melhor humor e o melhor drama dessas produções.
Como que a reforçar o parentesco, o episódio termina mostrando um solitário Agostinho, sem castigo pelo golpe, mas também sem a pensão, a espiar pela janela, tristemente e em silêncio, a ex-mulher e família em alegre confraternização doméstica. Nada disso, no entanto, foi piegas. Foi apenas a sugestão de que mesmo o mundo mais engraçado, para parecer humano, tem de levar uma pitadinha de melancolia.
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