 "Prova de Amor": No duelo com "Bang Bang", a Record aposta na tradição  Primeiro capítulo de novela é uma festa -e das caras. Tomadas aéreas, cenas de ação, belas paisagens, pouco (ou nenhum) intervalo comercial e um final com suspense. Tudo arquitetado para chamar e prender a atenção do telespectador, e assegurar que ele esteja lá novamente no dia seguinte.
"Prova de Amor", a nova novela que a Record estreou nesta segunda-feira (24), não quis reinventar a roda e tratou de seguir à risca o receituário: teve helicóptero, perseguição policial na orla do Rio, tiroteio, parto, vilões mostrando as garras, rapto de bebê e, na última cena, um malfeitor apontando o revólver para o mocinho.
Ainda que similar à rival "Bang Bang" em atrativos oferecidos na estréia --o primeiro capítulo da novela da Globo começou com tiroteio e terminou em duelo-- "Prova de Amor" não parece disposta a imitar os arrojos de linguagem e novidades de ambientação e roteiro do faroeste de Mario Prata, autor de uma história de época, passada numa cidade fictícia do chamado Velho Oeste e salpicada de ironia e nonsense.
Ao contrário, a atração da Record pretende usar como arma principal justamente a simplicidade: é passada no Rio de Janeiro, na época atual e seu roteiro tem elementos dramáticos batidos e assumidamente inspirados em clássicos infanto-juvenis, como "O Príncipe e o Mendigo" (usando gêmeos em vez de sósias) e "A Princesinha", com uma menina raptada em vez de órfã.
Na verdade, o conceito de "inspiração" em "Prova de Amor" é até bem elástico, pois a história não apenas reproduz características, como usa até os nomes da vilã Elza (Vanessa Gerbelli) e do bonzinho Velho Gui (Rogério Fróes), personagens também de "A Pequena Órfã", novela que a TV Excelsior exibiu no final dos anos 60. Em "Prova de Amor", assim como seus homônimos de quase quarenta anos atrás, eles serão a bruxa má e o anjo para a garotinha Mariana (Júlia Maggesse), cuja procura pelos pais, de quem é separada os três anos de idade, é a principal trama da novela.
E por falar em criança, soa exagerado a mesma história conter gêmeos separados no nascimento e uma garotinha tirada dos pais. Como sofrimento comove, e de criança mais ainda, espera-se que o criador e o diretor de "Prova de Amor" tomem cuidado para que a tripla dose de provações mirins não arraste a história para o melodrama e "mexicanize" a novela.
Sendo inevitável a comparação, dá para dizer que, visualmente, o primeiro capítulo de "Prova de Amor" não ficou longe do chamado "padrão Globo" de qualidade, ao qual superou em pelo menos um aspecto: cenas de ação mais verossímeis do que as das novelas globais. Por outro lado, o texto teve tropeços por redundância (a zelosa policial rosnando "detesto impunidade") ou excesso de lirismo (o rapaz diz à amada: "sua voz é o som mais lindo do universo" ao que ela responde: "quando te beijo, o tempo pára").
Apesar de ressalvas e arestas a aparar, "Prova de Amor" não deve ter dificuldade para ocupar um "nicho de mercado". É bem cuidada, sua trama tem uma estrutura familiar ao grande público e o elenco tem atores conhecidos e respeitados. Além disso, a competidora direta, "Bang Bang", não deve estar satisfazendo à parcela do público que, não sendo chegada a sátiras e experimentalismos, sente falta de um folhetim despretensioso e de fácil digestão -a velha e boa típica novela brasileira.
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