Referendo: programas de TV debatem, informam e induzem Será que os programas de TV conseguem informar o telespectador sobre o referendo do desarmamento sem tomar partido? No último domingo (16), dois debates sobre o referendo foram exibidos simultaneamente na TV aberta e, dependendo de o telespectador haver assistido a um ou outro programa, a pergunta pode ser respondida com um ou outro dos votos que têm sido pedidos ao eleitor.
Pelo que se viu no "Dois a Um", do SBT, dá para dizer "sim". Quem assistiu ao "Canal Livre" da Band, responderia "não". No SBT, respeitando nome e formato do programa, que sempre recebe dois convidados, a jornalista Mônica Waldvogel tentou reproduzir os debates da época das eleições, porém com menos formalidade. Waldvogel levou ao estúdio os deputados federais Raul Jungmann (PPS-PE) e Alberto Fraga (PFL-DF), cada um representando, respectivamente, a frente pelo voto no "Sim" (a favor da proibição da comercialização de armas de fogo e munição), e pelo "Não" (contra a proibição). Na Band, o "Canal Livre", que usualmente faz entrevistas e debates no estúdio, preferiu exibir reportagens e depoimentos pré-gravados com partidários de ambas as frentes. O material foi comentado pelos jornalistas da casa: Joelmir Beting ("Jornal da Band"), Fernando Mitre (Diretor de Jornalismo) e Marcelo Parada (Vice-Presidente da emissora). Garantindo tempos iguais de exposição a cada deputado, Mônica Waldvogel não renunciou à função de jornalista e fez mais do que pedir justificativas para o voto pelo "sim" ou pelo "não". Valendo-se da possibilidade de interagir com os convidados, ela tentou se colocar como telespectadora e pediu esclarecimentos sobre pontos não resolvidos pela propaganda gratuita. Foi às vezes incisiva, quase brusca ao questionar os adversários, mas evitou ao máximo julgar as posições apresentadas. O "Canal Livre", por seu turno, pareceu equilibrado no tempo de material exibido pró e contra o desarmamento, mas a neutralidade parou por aí. Nas análises, o trio de jornalistas não fez questão de esconder sua simpatia pelo "não", chegando a ironizar defensores da proposta contrária, como o movimento Viva Rio e a deputada Denise Frossard. Nessa linha, não surpreende que tenha ido ao ar até uma belicosa entrevista de um adepto do "não", tachando de "fascista", "fetichista" e "falsa" a plataforma adversária.
Ambos programas terminaram de forma coerente com a condução que tiveram. Na conclusão do "Canal Livre", os três jornalistas abriram o jogo e se manifestaram pelo "não" com variada ênfase: Parada afirmou que não quer "tirar o direito de quem precisa ter arma", Mitre observou que o voto pelo "não" lhe parece mais "consciente e saudável", e Beting disse que "não adianta fechar a loja de armas da esquina". Já no SBT, Waldvogel limitou-se a pedir cautela ao eleitor: "os números são confusos, é melhor você decidir com outros argumentos". Isso depois de ter mediado cerca de uma hora de discussão que, em geral, como disse Joelmir Beting, tem gerado "mais calor do que luz". O que cada programa conseguiu passar ao eleitor sobre o referendo será repercutido em sigilo no dia da votação. Contudo, no que diz respeito ao telespectador, SBT e Band foram muito ilustrativos da diferença que existe entre informar e induzir. | | |