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12/10/2005
"Hoje é Dia de Maria" é leve para adultos e pesada para crianças


Chamada pomposamente de "segunda jornada", a nova temporada da minissérie "Hoje é Dia de Maria" estreou nesta terça-feira (11) depois do "Casseta & Planeta", já perto de 23h. Se a escolha do horário, bem tardio para uma atração teoricamente destinada ao público infantil, já deixa uma pulga atrás da orelha, assistir ao primeiro capítulo confirma a suspeita: "Hoje é Dia de Maria" é meio leve para adultos, meio pesada para crianças.

A série parte de uma concepção infantil --o roteiro é feito de retalhos de contos de fadas, a partir da protagonista maltratada pela madrasta, feito a Gata Borralheira. Pobres madrastas, novamente pagando o pato, mas vá lá: para fugir dela, a menina sai pelo mundo para se encantar e levar sustos, conhecer gente de todo o tipo e aprender um bocado, como fizeram, entre outros, Pinóquio e a Dorothy, de "O Mágico de Oz".

Os cenários também são do ramo dos baixinhos: usando material reciclado, são criativos e coloridos. Parece coisa de teatro infantil moderno, essas produções caprichadas que têm atores da Globo e ingresso a preço de show da Marisa Monte. Na mesma linha, figurinos vistosos e maquiagem carregada ajudam a compor um ambiente de sonho, quase lisérgico.

Mas a série, apesar de elementos infantis, tem um ar sombrio. Para tanto, a primeira contribuição vem da trilha musical, que soa tristonha, e com mais cantoria do que o necessário --ou conveniente, pois o telespectador brasileiro não é muito fã de musicais. Mesmo quando a música se anima, como no número de vaudeville de Maria, continua o clima pesado, com ela intimidada pelo patrão malvado e pela platéia hostil.

Outro foco opressivo vem de uma novidade da série, a ambientação integralmente feita em cenário fechado, em forma de oca. Por causa disso, em "Hoje é Dia de Maria" tudo é cenário e efeito de luz, não se vendo céu, sol, lua ou estrelas naturais. Original, mas provoca um certo efeito claustrofóbico: as cenas urbanas chegam a lembrar o filme "Dogville", de Lars von Trier, só que pintado à aquarela.

A direção da série também contribui, dando closes em expressões carregadas e assustadoras, como as de personagens vivos como Asmodeu Cartola, ou dos bonecos estilo "Guernica" na platéia do teatro de variedades. Nessa linha, deve ter dado medo em muita criança, a cena violenta em que Asmodeu Cartola retalha Dona Boneca e atira os despojos no meio da rua.

A derradeira contradição funcional tem a ver com a linguagem. Maria é tão simples e rústica que fala como os matutos de antigamente, usando termos como "escuita", "antão", "vossa mercê" e "pregunta". Nesse aspecto, chega a ser irônico que, à noite, a protagonista da arrojada e inovadora produção da Globo preserve a ingenuidade e a linguagem caipiras, enquanto de manhã a emissora segue esquartejando o matuto "Sítio do Pica-Pau Amarelo" a golpes de modernidade adolescente.

Somando tudo, resulta que a estranha e interessante "Hoje é Dia de Maria" tanto parece um programa infantil para adulto ver, quanto um programa adulto para criança xeretar. Convém assistir um pouco mais para resolver.

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