Formato bem-sucedido do "Tudo a Ver" inspira outros programas na Record Levado ar de segunda a sexta-feira, das 17h30 às 19h15, período em que terminam os chamados programas femininos e começam os primeiros telejornais noturnos, o "Tudo a Ver', da TV Record, é uma combinação dos dois: assim como os femininos tem seções de culinária, moda, beleza e fofocas de celebridades. Dos telejornais herdou o formato de noticiário, informações econômicas, prestação de serviços e quadros em defesa do consumidor.
Apresentado pelo veterano Paulo Henrique Amorim, que ficou conhecido do grande público durante sua longa temporada como correspondente da TV Globo em Nova York, e por Patrícia Maldonado, vinda para a Record depois de cinco anos no canal pago SporTV, "Tudo a Ver" tem pouco mais de um ano no ar, audiência estável e pelo menos um ponto nítido de distinção em relação aos demais programas jornalísticos: o bom humor. Amorim, que dá o tom e marca o ritmo do programa, costuma ancorar a parte jornalística, com Maldonado concentrando os temas mais leves. Com esta divisão a dupla mantém o programa em equilíbrio. Sóbrio sem ser sisudo, e descontraído sem chegar ao esculacho, "Tudo a Ver" consegue informar e arrancar risadas. O principal papel de "humorista" também cabe a Amorim, com os membros da equipe lhe servindo de "escada" -não se vê o contrário, afinal, ele é "o chefe". Usando linguagem coloquial, o âncora acaba chamando Olivier Anquier de "doido varrido", por pegar uma travessa quente sem luvas nas mãos, e a socialite Paris Hilton de "desmiolada", pelo conjunto da obra. O robusto repórter, Luciano Faccioli, e Patrícia Maldonado também nunca fogem da mira de Amorim: um pela reputação de guloso (Faccioli) e a outra pela inabilidade culinária (Maldonado).
UM CHEF TRAPALHÃO
Entre os destaques do "Tudo a Ver" estão as receitas do chef francês Olivier Anquier. Embora se atrapalhe um pouco com o idioma português e com instrumentos de trabalho, o risonho marido da atriz Débora Bloch consegue se beneficiar desse humor involuntário e passa bem seu recado. Anquier foi contratado em agosto para substituir o culinarista Eduardo Guedes, que acabou sendo transferido para a revista "Hoje em Dia" (uma espécie de versão matinal de "Tudo a Ver") junto com a modelo Ana Hickmann (sucedida pela também modelo, Isabella Fiorentino). Sem traquejo de repórter, mas sem se intimidar por isso, Fiorentino apresenta o quadro "Estilo", que sempre traz uma reportagem externa sobre um tema específico, que é complementada por uma conversa em estúdio entre ela e Maldonado. Num bom exemplo da informalidade do programa, nesta sexta-feira (23), as duas "tricotaram" longamente sobre casamentos, debatendo preferências de buquês, vestidos, bolos e convites, com direito a referências aos namorados delas e comentários sarcásticos de Paulo Henrique Amorim sobre o preço da cerimônia.
HARD NEWS
Quando abre espaço para o jornalismo diário, o programa se caracteriza por comentários especialmente ácidos sobre deslizes dos três poderes, como ocorreu nesta quinta-feira (22), quando Amorim fez um irônico "jogo dos sete erros" sobre o milionário roubo na sede carioca da Polícia Federal.
Na sexta-feira (23), foi a vez de Luciano Faccioli dar a sua "alfinetada" no quadro "Assim Não Dá", quando questionou a prefeitura paulistana pela criação de rampas "antimendigos" embaixo de viadutos na região da avenida Paulista. Pelo fato de "Tudo a Ver" ser feito ao vivo é inevitável que haja escorregões. Talvez caísse bem reparar ao menos os mais sérios, como o do dia 23, quando uma repórter disse que, devido ao alagamento de ruas no Rio de Janeiro, "os motoristas enguiçaram". Pegou mal também ter visto Amorim atribuindo erradamente à ANATEL, em vez da ANEEL, o controle das tarifas de energia.
Ainda no campo do "podia ser melhor", valeria uma revisão do tempo dado ao repórter-mirim Rafa, pois crianças e microfones não se dão bem por mais de 30 segundos. Já a repórter de celebridades Chris Flores poderia conter um pouco o riso alto e farto com que ilustra seu quadro de fofocas. Para terminar, o início do programa costuma atrasar, sendo "empurrado" -sem motivo relevante- pelo programa de Sônia Abrão. Tendo a ambiciosa meta de misturar entretenimento com jornalismo, "Tudo a Ver" foi bem sucedido e é, de fato, autêntico e divertido. Mérito maior de Paulo Henrique Amorim, que acertou a mão na condução do programa e trabalha em boa sintonia com a simpática Patrícia Maldonado. O êxito da dupla explica porque a TV Record, em atitude incomum, acabou transformando o programa numa espécie de "franquia" e abriu uma "filial" em sua programação matutina. | | |