UOL TelevisãoUOL Televisão
UOL BUSCA

RECEBA O BOLETIM
UOL DIVERSÃO E ARTE
 
28/12/2007 - 14h47
TV pública vai buscar 'conjunto da sociedade', diz Cruvinel

Denize Bacoccina
De Brasília
Presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), a jornalista Tereza Cruvinel diz que a TV Brasil, emissora pública criada em outubro pelo governo e que começou a operar em 2 de dezembro, vai buscar "o conjunto da sociedade" e não se dirigir a um público específico.

"Ela não pode ser uma emissora voltada para a elite e ela nem pode querer ser uma TV de classe. Ela é uma TV que tem que buscar o conjunto da sociedade", afirmou Cruvinel em entrevista à BBC Brasil.

Segundo ela, o Brasil precisa de uma TV pública para discutir assuntos que não têm espaço na TV comercial. "O debate das grandes questões nacionais não encontra espaço satisfatório nas TVs comerciais".

Leia a seguir a entrevista de Cruvinel à BBC.

BBC Brasil - Que audiência vocês esperam alcançar com a TV Brasil?
Tereza Cruvinel - É claro que queremos ter audiência, mas fixar meta é uma coisa que não condiz com a natureza pública de uma televisão. Uma TV pública tem sim que buscar audiência, mas, se ela ficar escrava da audiência, ela não cumpre as suas finalidades de ter uma programação muito pautada por um conteúdo educacional, artístico, científico, de valorização da cidadania ou da expressão da diversidade cultural brasileira. Então há que combinar bem a ambição de audiência com a fidelidade aos princípios da TV pública.

BBC Brasil - É uma TV paga por todos os contribuintes. Ela vai atender a quem, vai se dirigir a que público?
TC - Ela é uma TV paga por todos nós e por isso mesmo ela terá sua programação, sua política de comunicação regida pelo Conselho Curador, que é um órgão de expressão da sociedade civil. Este órgão é que aprovará sua linha editorial, seu plano de trabalho, fiscalizará a gestão da diretoria, podendo inclusive pedir seu afastamento. Ela não pode ser uma emissora voltada para a elite e ela nem pode querer ser uma TV de classe. Ela é uma TV que tem que buscar o conjunto da sociedade. É claro que algumas programações alcançam mais determinados segmentos de público, outras vão alcançar outro. Mas eu não estou procurando classe A ou B ou classe C e D. TV pública não pode trabalhar com isso.

BBC Brasil - E como vocês vão avaliar o sucesso da TV, saber se ela está sendo bem sucedida na função de atender ao interesse público?
TC - A audiência, claro, é um fator que se leva em conta. A avaliação da qualidade de sua programação. Sua capacidade de articulação com o campo público, a articulação com os diferentes Estados e regiões. O próprio Conselho terá os seus parâmetros, mas eu não sou do Conselho, eu sou fiscalizada pelo Conselho. Então esta é uma pergunta que cabe ao Conselho. Ele vai criar parâmetros de avaliação, vai criar normas.

BBC Brasil - Se as pessoas não assistem à TV, como é que vocês conseguem medir se ela atingiu o seu objetivo de disseminar essas informações?
TC - É claro, se ela tiver zero audiência, será um trabalho de enxugar gelo. Audiência ela tem que ter, mas não visa ser um campeão de audiência, disputar posições na audiência. Há uma faixa aí, eu não vou quantificar isso. Não vou dizer aqui hoje: tem que ter 5%. Isso não é uma coisa unilateral da diretoria.

BBC Brasil - Por que o Brasil precisa de uma TV pública?
TC - Por algumas coisas que eu já mencionei. Temos uma TV comercial bem sucedida, que cumpre bastante suas finalidades enquanto uma TV comercial, mas há uma série de tarefas que são próprias de uma TV pública. O debate das grandes questões nacionais não encontra espaço satisfatório nas TVs comerciais porque a lógica comercial delas não permite, a não ser em grandes momentos, nas eleições. Nós achamos que há uma carência de espaços maiores e mais freqüentes na TV brasileira para discutir as questões nacionais.

BBC Brasil - A TV Brasil vai ser mais voltada para isso?
TC - Não só para isso. Mas vai ter o que estamos chamando de faixas de reflexão, voltadas para o exercício do pensamento do cidadão. Para que ele tenha alternativas de informação. Uma democracia se expressa também pela diversidade das possibilidades de se informar. Nós temos esta oferta do setor privado de uma série de emissoras privadas, que fornecem bons produtos enquanto emissoras privadas, e temos TVs governamentais. Até aqui a Radiobrás foi uma emissora governamental, embora tenha exercido nos últimos cinco anos uma independência muito grande no seu jornalismo. Quase todos os países europeus têm TVs públicas, rádios públicas. Isso é uma expressão do amadurecimento democrático.

BBC Brasil - A crítica que se faz à TV Brasil é que, embora ela tenha o nome de pública, vai ser totalmente financiada com recursos do governo, que pode dar o dinheiro ou não, à medida em que ele achar conveniente. Qual é a garantia de que ela será independente do governo?
TC - A única TV verdadeiramente independente dos cofres do governo é a BBC, que pode se dar ao luxo de cobrar uma taxa dos cidadãos ingleses. A Grã-Bretanha pode se dar a este luxo, o Brasil não pode, por duas questões principais. Primeiro, a nossa desigualdade, e a própria carga tributária que já é muito alta. Eu examinei todos os sistemas de financiamento de TV pública do mundo, e todas têm Estado, numa proporção que varia de 50% para cima. Mas temos outras fontes de recursos que podemos buscar: patrocínios, recursos do financiamento cultural, pode prestar serviços a terceiros, e pode ainda fazer campanha de doações.

BBC Brasil - Mas são duas coisas: uma é que o governo está repassando o dinheiro que é proveniente dos impostos das pessoas. Outra é a independência. Falou-se muito sobre independência, que será pública e não estatal, mas isso não está escrito isso no decreto de criação da TV Brasil. Como a gente pode saber que vai ser independente de fato, para além deste governo e do compromisso das pessoas que estão dizendo isso?
TC - Está expresso na Medida Provisória que o controle de conteúdo é do Conselho.

BBC Brasil - Mas o Conselho é indicado pelo governo.
TC - Se você tiver uma proposta de como indicar conselheiros diretamente pela sociedade, eu examino, proponho o exame para o Congresso.

BBC Brasil - Você acha que não há alternativa?
TC - Nós não encontramos fórmulas assim. Nem na experiência internacional. A outra fórmula é a fórmula corporativa: partidos, sindicatos, associações. Mas aí seria um Conselho muito grande, para incluir todos os representantes, com o problema da desfuncionalidade. O Conselho como está, com pessoas que representem a sociedade, é mais completo.
Mais
TV Brasil é criticada por modelo de gestão e ênfase no jornalismo


ÚLTIMAS NOTÍCIAS
06/01/2010

20h20- Antes da votação, peões comem torta de palmito

20h18- Garis dizem não guardar mágoas de Boris Casoy

20h08- Sheila Mello e Leozinho dançam funk embaixo do chuveiro

19h54- Garis mostrados na Band dizem não guardar mágoas de Casoy

17h41- Ator de "Dawson's Creek" integra elenco de seriado médico "Mercy"

17h28- Fazendeiros jogam "Polo Aquático Biruta" sem brigas

17h25- Record lança "Game Show de Verão" com a participação de famosos

17h11- "BBB 10": Participantes mandam seus recados na Globo

16h59- Globo diz que especial de "Lost" serviu como 'degustação' aos telespectadores

16h48- Record anuncia mudanças na sucursal do Rio de Janeiro



Hospedagem: UOL Host