| 27/08/2008 - 18h00 Chico Diaz comenta as surpresas de Átila, seu personagem em "A Favorita" Do PopTevê Jorge Rodrigues Jorge/CZN Nada mais impressiona o veterano ator Chico Diaz, de "A Favorita" | Há algumas semanas, ao ler mais um capítulo de "A Favorita", Chico Diaz levou um susto. Seu personagem, Átila, explicava para o sogro Copola - vivido por Tarcísio Meira - que havia cometido um erro ao não se casar com Cida, a caminhoneira interpretada por Cláudia Ohana. "Quando li aquilo, não acreditei. Pensei 'como vou fazer isso?'", relembra o ator. Pela sinopse, o envolvimento entre os cunhados não teria nenhuma raiz no passado. Essa, porém, foi apenas uma das mudanças que o personagem sofreu desde a estréia da novela, em junho. De operário ele passou a desempregado e, hoje, assumiu uma inacreditável colocação como fotojornalista - graças à influência da irmã, a colunista social Amelinha, de Bel Kutner.
Com 30 anos de carreira, o ator já não se impressiona mais. Cria do teatro e do cinema, ele se encanta com a diversidade que a televisão proporciona. "A gente se surpreende a cada capítulo que chega, porque o autor não nos prepara para as curvas que ele vai fazer. Mas o exercício é esse: fazer tudo isso sem ter nada preparado antes", decreta.
Curioso observar que os desvios de rota já fazem parte da vida de Chico há bastante tempo. Filho de uma brasileira e de um paraguaio que trabalhavam no serviço diplomático, ele nasceu no México e, ao longo da infância, morou no Peru, Estados Unidos e Costa Rica antes de vir parar no Brasil, onde se tornou um dos fundadores do grupo de teatro Manhas e Manias. "Até os 30 e poucos anos, eu tinha a sensação de estar de fora", revela. "E isso me dava uma capacidade maior de análise. É como o turista, para quem tudo é novidade. Mais capacidade de enxergar", define.
Pergunta - As últimas quatro novelas em que você trabalhou foram produções que se intercalaram no horário nobre. Você vê isso como um reconhecimento do seu trabalho? Chico Diaz - Não acho que seja uma valorização racional ou proposital, mas é uma coincidência boa. É bom estar em uma vitrine nobre podendo fazer trabalhos diferenciados, como foi em "Celebridade", "América" e "Paraíso Tropical". É uma aceitação do veículo, da crítica e do público, o que me dá um maior conforto como artista.
Pergunta - Em "Paraíso Tropical", o seu personagem, Jáder, fez bastante sucesso. Mudou a relação do público com você? Chico - Não. Acho que o que mudou foi a minha relação com o público - no sentido de estar agradecido pela acolhida constante. Porque o que realmente diferencia o contato é estar no ar, freqüentando a casa das pessoas sem pedir licença. E independe se é no horário das seis, das sete ou das oito. Já acho um grande mérito conseguir enxergar a profissão. Poder olhar para a profissão e fazer dela motivo de orgulho, assim como de crítica. Não que eu seja uma autoridade, mas viajei todo o país com meus personagens e consegui tecer uma realidade brasileira com eles. E isso me dá muito orgulho.
Pergunta - Você esteve em vários filmes nos anos 80, quando era ainda mais difícil produzir cinema no Brasil. Foi uma coincidência, ou você correu atrás? Chico - Calhou de acontecer. Participei de "O Sonho Não Acabou" a convite do diretor Sérgio Rezende, que tinha me visto em uma peça de teatro. Eu tinha o perfil do personagem e deu muito certo. Depois disso, foi um convite atrás do outro e confesso que não teria batalhado para ser ator de cinema, porque não acho que a arte acontece assim.
Pergunta - Tem algum tipo de personagem que você tenha mais vontade de fazer? Chico - Acho que a gente sempre se apaixona pelo próximo personagem. Mas gosto muito da história do homem brasileiro, no que ele tem de comum. A luta cotidiana dessas pessoas é emocionante. Gosto desse Brasil profundo, que não é visto, e acho que a gente tem de trazer esse país à tona.
(por Louise Araujo) | | |