| 10/06/2008 - 14h18 "Do lado de fora, Flora carrega a cadeia com ela", diz Patrícia Pillar Do PopTevê Jorge Rodrigues Jorge/CZN Patrícia Pillar, que interpreta a ex-presidiária Flora em A Favorita | De pouco adianta toda a publicidade em torno da dúvida sobre quem é a vilã de "A Favorita". Apesar de o autor João Emanuel Carneiro tentar criar mistério em torno da identidade da verdadeira assassina da novela, para Patrícia Pillar, uma das protagonistas da história, não existe incerteza: intérprete de Flora, ela defende a personagem com unhas e dentes.
"Já comprei a briga dela, sim. A Flora tem uma história de vida sofrida, passa 18 anos da cadeia e, quando sai, busca justiça. Tenho certeza de que ela é inocente", defende a atriz, que fez laboratório na Penitenciária Feminina Talavera Bruce, complexo localizado em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Rival de Donatela, vivida por Cláudia Raia, a ex-detenta não terá com ela apenas um passado em comum. "Elas têm uma relação de simbiose, em que uma é colada com a outra. E a vida vai juntando cada vez mais as duas", analisa. Um desses reencontros acontece quando as duas se apaixonam por Zé Bob, o combativo jornalista interpretado por Carmo Dalla Vecchia.
Mulherengo assumido, o repórter terá com Flora uma relação que flerta com o tradicionalismo de uma família de comercial de margarina. "Ele acolhe a Flora. Ela faz a comida e limpa a casa, que são as coisas que aprendeu na cadeia. Mas, ao mesmo tempo, o Zé Bob dá a ela um amparo que ela não tem", explica Patrícia, que não integrava o elenco de uma produção de horário nobre desde 1996, quando viveu a bóia-fria Luana de "O Rei do Gado".
Divulgação Flora deixa o presídio e constata que ninguém a espera | Pergunta - Você está defendendo abertamente o ponto de vista da sua personagem. Por quê? Patrícia Pillar - Eu sigo o que está escrito no texto, a história que me foi dada até agora. A Flora diz que a Donatela comprou a testemunha e manipulou o julgamento. Acredito nessa verdade, porque a Flora tem ações de quem está mesmo em busca de justiça. É uma posição fácil de ser defendida, pois é sólida. A novela é bem escrita, e o ponto de vista de cada um, muito embasado.
Pergunta - Você visitou um presídio em busca de inspiração. Como foi a experiência? Patrícia - É terrível mas, ao mesmo tempo, impressionante como o ser humano é capaz de se adaptar. Dentro da cadeia, repetem-se as relações sociais que existem aqui fora, apesar de um pouco diferente. No Talavera Bruce, por exemplo, as detentas produzem um jornal que tem até classificados. E me chamou a atenção a esperança que cada uma tem de reconstruir a vida. Elas saem de lá como a Flora, sem uma profissão e vendo as portas se fecharem. É uma das piores coisas para quem está preso: saber que não tem ninguém te esperando lá fora.
Pergunta - E como você se preparou para transmitir essa sensação através da Flora? Patrícia - Está sendo muito difícil porque esse é o personagem para o qual eu menos posso lançar mão da minha experiência para compor. Não vivi nada parecido com que a Flora vive. Acho que nunca fiquei presa nem do lado de fora de casa! E essa situação é algo que permeia o personagem não só no momento em que ela sai da cadeia. Do lado de fora, a Flora carrega a cadeia com ela. Isso é muito pesado.
Pergunta - É uma história parecida com que a Sônia Braga viveu em "Dancin' Days", como Júlia Matos. Foi uma fonte de inspiração? Patrícia - Não, não tem nada a ver. "Dancin' Days" foi uma das primeiras novelas que acompanhei, e eu amava a história. Mas não busquei nada do personagem da Sônia. Eu vou fazer a minha Flora, porque, para mim, não é nada parecido. A única coisa em comum é que elas ficaram presas.
(por Louise Araújo) | | |