| 02/04/2008 - 10h00 Apesar da experiência, Marcos Caruso ainda tem medo da TV Do PopTevê Divulgação Marcos Caruso atua em cena de "Desejo Proibido" | São mais de 30 anos de envolvimento com a TV, mas Marcos Caruso confessa que ainda tem receio de trabalhar em um veículo de comunicação tão poderoso. "O meu medo é que ela cria atores de um papel só. Isso dá a impressão de que a televisão não tem criatividade ou não confia no talento do contratado", afirma. Por isso, não chega a ser surpreendente o entusiasmo do veterano com a oportunidade de viver Inácio, o bem-humorado padre de "Desejo Proibido", oito meses depois de emocionar o país com o sofrido Alex de "Páginas da Vida".
Segundo Caruso, sair de um trabalho denso e contemporâneo para mergulhar em um papel de época com viés humorístico é uma chance raramente conferida aos profissionais televisivos. "Estou muito feliz com essa oportunidade. Em pouco tempo, consegui reunir as duas máscaras, a da comédia e a do drama", comemora.
A diferença radical entre os tipos também facilitou na composição. Para tirar a imagem do personagem anterior da cabeça do público, Marcos explica que decidiu buscar o caminho inverso: ao contrário da voz grave e do olhar triste de Alex, Inácio fala em um tom histriônico e apresenta características típicas de um homem mais velho, como os passos curtos e a coluna levemente arqueada. "Fiz propositadamente o oposto", revela. "É como se eu tivesse uma tela cheia de cores e, de repente, jogasse um branco total."
O ator não se abala com os comentários sobre a baixa audiência na reta final da novela. "Não me importo com essa medição. Já cansei de ouvir que há muito tempo a Globo não fazia uma novela com tanta qualidade e isso é o que importa no trabalho", disse Caruso, que começou a se interessar pela profissão ainda criança, fazendo apresentações de fantoches que ele mesmo confeccionava.
Ator foi elogiado pelo seu papel em "Páginas da Vida" |
Pergunta - Você é ator, autor, diretor, mas nunca teve uma formação acadêmica. O que considera realmente importante na constituição de um ator? Caruso - O básico é o talento. Mas talento para ser ator, não para decorar texto nem para representar, e sim interpretar. Se a pessoa não tem isso, é melhor fugir dessa profissão. Se tiver, tem de estudar todas as possibilidades que o ofício proporciona. Ou seja: fazer aulas de canto, dança, voz, além de ler muito e se preparar para viver 24 horas por dia voltado para isso. Isso impede que a pessoa tenha uma atuação limitada.
Pergunta - E você vê isso na nova geração de atores? Caruso - Vejo mais nos atores que vêm do teatro do que da TV. Não porque um veículo seja melhor do que outro, mas porque o palco permite um cuidado maior, dá para estruturar o trabalho a partir de uma raiz. Mas também vejo uma juventude brilhante, talentosíssima também de autores e diretores surgindo no teatro.
Pergunta - Como ator, como é o processo de construção de personagem? Caruso - Meu trabalho é baseado em duas coisas: no que o personagem fala e no que falam dele. Eu não posso inventar além, porque estarei dando uma pista falsa para o público. Então, leio o texto - seja ele de TV, teatro ou cinema - e fico com a primeira impressão. Isso me ajuda porque, a partir daí, sei para onde o personagem vai e não crio expectativas falsas. É um processo intuitivo, muito mais do que técnico, porque o artista mexe com a sensibilidade e o poder de observação.
Pergunta - O tal "laboratório", então, nem pensar? Caruso - Acho que, se o personagem toca violão, eu tenho de aprender o instrumento. Mas não preciso rezar uma missa para viver um padre. Para quê me enfurnar em uma igreja para aprender como levantar um cálice? Isso alguém vai me ensinar, seja o diretor ou alguém da pesquisa. Eu preciso é me inteirar da alma desse homem que, no caso do Inácio, tem um espírito cristão, humano e generoso. Meu trabalho, então, é me ater à profundidade do personagem. Já a forma cênica dele não me compete mais.
(por Louise Araujo) | | |