| 27/07/2007 - 21h35 Série revela mudanças de duas décadas de desenvolvimento no Xingu Da Redação Divulgação / TV Cultura Índio anda de moto com criança em aldeia no Parque Nacional do Xingu | Em 1984, o jornalista Washington Novaes, editor-chefe dos tempos áureos do "Globo Repórter" (1977 - 1981), se embrenhou durante três meses nas matas do Mato Grosso para registrar o cotidiano e as tradições de tribos indígenas que viviam isoladas no Parque Nacional do Xingu. O resultado foi a série "Xingu, A Terra Mágica", exibida em 11 episódios pela TV Manchete em 1985. Sucesso de crítica e público, seu episódio final atingiu 20 pontos no Ibope.
Vinte e dois anos depois, o jornalista voltou à região e, em três semanas de filmagens, registrou as mudanças ocorridas nas mesmas comunidades indígenas. O material deu origem à série "Xingu, A Terra Ameaçada", que a TV Cultura exibirá em cinco episódios semanais a partir de outubro. A partir deste domingo, o canal reprisa a série original.
Novaes, que conseguiu reunir quase a mesma equipe do primeiro projeto para voltar ao Xingu, encontrou uma região ilhada entre pastagens, estradas, hidrelétricas e extensas áreas desmatadas para o plantio de soja. A série revela os efeitos da devastação ambiental e das ações desenvolvimentistas no parque.
As transformações são mais evidentes entre os jovens. Pedro Novaes, diretor de produção, conta em texto publicado no blog da série que "embora boa parte dos jovens reproduza as manifestações culturais tradicionais", eles também "demostram um desejo imenso pela tecnologia e afluência material". Esse desejo se traduziria em "um certo ressentimento disfarçado em relação aos brancos e numa imitação destorcida de certas manifestações de nossa cultura". "O principal programa dos jovens Yawalapiti [nome de uma das tribos documentadas] é rodar na caminhonete L200 cedida à comunidade pelo Estado do Mato Grosso, ao som de música brega", conta.
Outro sintoma das mudanças é a falta de pajés. Em 1984, o nascimento de um bebê foi acompanhado por 13 desses mestres espirituais. Hoje, os jovens não se dispõem aos sacrifícios necessários para o exercício da função.
Novaes, ao mesmo tempo que registra as mudanças, também fez parte delas. Além de difundir os ritos e a cultura da tribo, foi ele, em 1984, quem primeiro pagou aos indígenas direitos por uso de imagem --o dinheiro inserido na vida comunitária desde o contato com os brancos foi um dos grandes catalisadores das transformações.
O jornalista também enviou, por meio de seus patrocinadores, um trator para ajudar a aumentar a colheita de um dos grupos. Na época, talvez ele nem imaginasse que ações tão pequenas poderiam desencadear transformações tão profundas.
XINGU, A TERRA MÁGICA Onde: TV Cultura Quando: aos domingos, a partir de 28/7 Horário: 18h
XINGU, A TERRA AMEAÇADA Onde: TV Cultura Quando: aos domingos, a partir de 7/10 Horário: 18h
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