 |  12/06/2007 - 01h35 Globo começa a revelar faces do Brasil com "A Pedra do Reino" MARINA CAMPOS MELLO
Enviada especial ao Rio de Janeiro | Divulgação / TV Globo  Quaderna, o protagonista-narrador de A Pedra do Reino |
"Há uma grande quantidade de informação estrangeirada todos os dias e que vai nos despersonalizando. Ficamos querendo saber quem somos nós, enquanto tudo parece ir se esvaindo. Há uma necessidade natural da geração mais nova de entender e lutar pelo que é o Brasil".
As observações acima, extraídas dos cadernos de anotações do diretor Luiz Fernando Carvalho (da microssérie "Hoje é Dia de Maria" e do filme "Lavoura Arcaica"), resumem e indicam o espírito do Projeto Quadrante, que visa redescobrir o Brasil através da transposição de obras literárias para a televisão, saindo do eixo Rio-São Paulo. O projeto será inaugurado nesta terça (12) com a estréia da microssérie "A Pedra do Reino", baseada no romance homônimo do paraibano Ariano Suassuna,
Realizada pelo mais artesanal dos diretores da TV brasileira, "A Pedra do Reino", que será exibida em cinco capítulos após os programas que seguem a novela "Paraíso Tropical", "dialoga" com o romance, como faz questão de frisar Carvalho, que rejeita o termo "adaptação". "A idéia de adaptação sempre me pareceu redutora. Nos melhores momentos, seja trabalhando para a TV ou para o cinema, talvez tenha alcançado uma espécie de resposta aos textos, ou, no meu modo de sentir, um diálogo, uma reação criativa à literatura", afirma.
A obra à qual o diretor se dedicou mais de um ano é a história de Pedro Dinis Quaderna, o Quaderna, interpretado por Irandhir Santos (dos filmes "Cinema Aspirinas e Urubus" e "Baixio das Bestas"). Quaderna é um palhaço envelhecido que percorre as estradas sertanejas e, em uma carroça-palco, conta suas memórias em um espetáculo popular.
| A HISTÓRIA DE "A PEDRA DO REINO" |
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A "Pedra do Reino" é história de Quaderna, um palhaço envelhecido que percorre as estradas sertanejas e, em uma carroça-palco, conta suas memórias em um espetáculo popular. Um dos fios condutores de sua narrativa são os fatos ocorridos no sertão de Pernambuco e da Paraíba na década de 1930, que culminaram com sua prisão no ano de...| Leia mais |
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A musicalidade da fala sertaneja é outro elemento que norteou "A Pedra do Reino". Durante o estudo da obra de Suassuna, tornou-se evidente para Carvalho a necessidade de trabalhar com atores locais: "A musicalidade da fala sertaneja é transposta lindamente por Ariano. Impossível (eu diria) de ser alcançada por um ator que não tenha a vivência do território sertanejo", afirma o diretor.
Fala, aliás, que o pernambucano Irandhir Santos, intérprete do protagonista Quaderna, diz que tem som de galope: "Li quase todo o romance --são quase 700 páginas-- em voz alta, pois a sonoridade do texto e a seqüência das palavras têm um ritmo próprio de uma galopada, que não nos deixam parar de ler", conta o ator pernambucano, que se inspirou na idéia de "buscador" para compor o seu Quaderna. "Ele é um ponto de interrogação ambulante. Questiona muito e ao mesmo tempo busca suas raízes, suas origens", explica Irandhir.
Divulgação  Cena da microssérie A Pedra do Reino, de Luiz Fernando Carvalho |
O ator, que que viveu no sertão quando criança, durante este processo de busca diz ter redescoberto sua terra. "Sempre tive a idéia do sertão duro, cinza, ligado à morte, lugar de sobrevivência. Eu morei no sertão quando era criança e mantive essa idéia. Mas 'A Pedra do Reino' me mostrou outro sertão. Um lugar de vida, histórias, força, cor. Um lugar onde chove em um dia, e no dia seguinte está tudo verde", conta.
Não por acaso "A Pedra do Reino" inaugura o Projeto Quadrante, que tem como base revelar o país aos brasileiros. O romance de Suassuna, publicado pela primeira vez em 1971, precedeu o Movimento Armorial, lançado pelo autor pouco tempo depois. Como explicou Suassuna em entrevista concedida à revista "Caros Amigos", o Movimento Armorial tinha duas preocupações: em primeiro lugar, lutar contra o processo de descaracterização e vulgarização da cultura brasileira; em segundo lugar, procurar uma arte erudita brasileira baseada nas raízes populares da nossa cultura.
Tornando ainda mais orgânico o processo de revelação e incorporação da diversidade da cultura brasileira à televisão, Luiz Fernando Carvalho optou por trabalhar com artistas locais. E não só com atores. Músicos, dançarinos e artesão --que elaboraram todo o figurino e a cenografia da série em um ateliê local-- integraram a equipe que trabalhou em Taperoá, cidade da Paraíba em que são ambientados romance e série. No local, foi construida uma arena/cidade cidade cenográfica "tumular" de 2 mil m2
Também chegaram à vila, atores de todas as partes do Nordeste, desconhecidos do grande público. E esse será o modelo de todas as obras do Projeto Quadrante. "É assim que quero trabalhar, com atores locais e desconhecidos", diz Carvalho. "Não quero sentir um país se desperdiçando a favor de um modelo único centralizado no eixo Rio-São Paulo", conclui Luiz Fernando Carvalho.
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