| 18/07/2005 - 23h54 Apesar de incongruente, nova versão de 'Os Ricos' ressalta o fôlego do SBT em produções de época MANOELA PEREIRA Editora do UOL Televisão Quem assistiu a estréia de "Os Ricos Também Choram" na noite desta segunda-feira (18) deve ter ficado minimamente confuso. Afinal, a nova produção do SBT é ou não é um remake daquele melodrama água com açúcar protagonizado por Verônica Castro no México? Onde foram parar Mariana e Luis Alberto, que no primeiro capítulo da história original se casavam e partiam em lua-de-mel?
Ambientada no Brasil dos anos 30, a nova novela do SBT começou sinalizando que pouca coisa deve restar daquela trama que a emissora de Silvio Santos exibiu em 1982 e que acabou dando vazão na TV brasileira a um tsunami de produções mexicanas.
A nova história, que tem como pano de fundo a crise do café e os primeiros anos do governo Getúlio Vargas não mostrou, pelo menos no primeiro capítulo, nenhum vestígio da trama que lhe dá nome e origem. Sendo assim, por que então continuar mantendo a proposta de remake se a "nova adaptação" tem uma temática infinitamente mais interessante (e inédita!) que a da cubana Inés Rodena, autora do texto original?
Fôlego e know-how
Apesar da incongruência, "Os Ricos Também Choram" estreou com ares de superprodução para provar, em tempos de concorrência com a Record, que o SBT ainda tem fôlego para disputar a audiência no horário nobre das telenovelas. O Ibope da estréia confirmou a teoria: das 20h50 às 21h34 o SBT registrou 16 pontos de audiência, com picos de 20, e acabou ficando em segundo lugar no horário. (leia mais)
Com 40 minutos de duração e sem intervalos comerciais, a novela começou em grande estilo com uma vinheta de abertura de bom gosto, superbem editada e que acabou apresentando muito bem a época na qual vai se desenrolar a trama (1930 - 1932). Imagens em preto e branco gravadas na cidade cenográfica do SBT destacavam situações cotidianas da década de 30, enquanto placas de automóveis, letreiros e cartazetes no estilo art noveau apresentavam o nome dos atores que estão no elenco da trama. No entanto, a música de abertura, "Pensando em Ti", interpretada pela cantora Márcia, é pouco expressiva e não deve marcar a novela; artifício que a TV Globo utiliza com maestria em suas produções.
História
Dividida em dois núcleos principais, o remake de "Os Ricos Também Choram" começa em 1914 para situar a convivência de senhores e colonos numa fazenda de café do interior de São Paulo. Belas imagens de cafezais e trilha sonora épica ressaltam que, naquela época, o café era a vedete nacional.
Dezessete anos se passam, ou melhor, 25 minutos, até entrar em cena as ruas da próspera Ouro Verde, apelidada de "Pérola da Mogiana". É neste cenário, de réplicas de casarões antigos, que a trama vai se desenrolar até o seu final, no capítulo 167.
Muito bem caracterizados, com figurinos impecáveis, surgem aí os primeiros personagens marcantes da história, todos habitantes da impecável cidade cenográfica do SBT, em sua melhor forma. Engajados na política de Getúlio Vargas, homens de chapéu e mulheres com cabelos cortados à garçonne reproduzem diálogos que refletem momentos de transformação política, econômica e também a opulência dos ricos no trato com os serviçais. Tudo isso em meio ao "trânsito" dos primeiros automóveis, com o jazz fazendo fundo musical.
A religião católica, predominante na época, também aparece em vários momentos da novela: no começo trama com a presença de um vigário na festa que comemora a boa safra do café (1914), no nascimento da protagonista Mariana (Thaís Fersoza), que culminou com morte de sua mãe e até nas ruas da tal cidade próspera, que às seis horas da tarde teve sua rotina interrompida para um momento de oração.
A única coisa que não colou em "Os Ricos Também Choram" foi a maneira como o Coronel Evaristo (que exagerou no sotaque caipira) descobre que Mariana é sua filha. Falido e desiludido devido a crise do café, Evaristo ajuda a menina rebelde a colher sacas em sua plantação até reparar --aos 90 minutos do segundo tempo!-- uma estranha marca de nascença em seu antebraço. O coronel se lembra então, que há 17 anos, tinha tido um caso extraconjugal com uma bela colona, e acaba concluindo que Mariana é sua filha legítima.
Teria sido uma cena típica de novela se não fosse pela aparência da tal marca de nascença (um triângulo formado por três pontos) que mais se parecia com uma mordida de vampiro em mutação (com três dentes) ou mesmo uma marca de abdução feita por alguma criatura sinistra da série "Arquivo X".
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