04/08/2004 - 09h00
Dubladores de "Perdidos" falam de bons tempos e problemas da profissão DJEFERSON BARBOSA
Especial para UOL Televisão
Os fãs que comprarem a caixa de DVDs com a primeira temporada da cultuada série "Perdidos no Espaço", recém-lançada pela Fox Home Entertainment Brasil, terão o prazer de ouvir um verdadeiro tesouro perdido: a dublagem original brasileira feita na década de 60 nos estúdios da AIC - Arte Industrial Cinematográfica de São Paulo, atual BKS.
A versão brasileira para a clássica série do produtor americano Irwin Allen é considerada uma das melhores já feitas no Brasil. O ponto forte são os dubladores, que foram homenageados em 24 de julho, no lançamento da caixa.
Gilberto Baroli (terceiro a interpretar a voz do robô B-9), Maria Inês (voz de Will Robinson a partir do episódio 24), Helena Samara (a matriarca Maureen Robinson) e Borges de Barros (o marcante Dr. Smith), os únicos ainda vivos do elenco, receberam um troféu e muito carinho dos fãs que lotaram o espaço de eventos da Fnac Pinheiros, em São Paulo.
Espantados com o número de presentes, eles creditaram o sucesso da versão à sintonia entre os membros do elenco. "Eles acharam as vozes certas para os personagens certos, e todo mundo amava dublar", disse Baroli, uma voz bastante conhecida do público brasileiro.
Para Helena Sâmara (também conhecida pelas vozes de Vilma Flintstone, da Endora, da série americana "A Feiticeira", e da "Bruxa do 71", do sucesso mexicano "Chaves"), tudo era uma grande festa. "Era uma beleza, ninguém queria ir para casa", conta. "Naquela época, a gente dublava com todo mundo junto. Eu entrava no estúdio com o Dr. Smith (Barros), falava com ele e ele respondia, saía um diálogo natural. Hoje, as gravações são separadas, transformando a interpretação em algo totalmente frio", avalia.
Os dubladores aproveitaram para revelar os muitos problemas que a classe sofre hoje. Entre eles, a falta de regulamentação, o domínio das produções legendadas e a substituição de dubladores por atores de renome para tentar aumentar a bilheteria.
Borges de Barros, um das vozes mais lembradas graças a quase 60 anos de profissão e a interpretações memoráveis como a do Moe de "Os Três Patetas", colocou pra fora sua indignação. "Uma das broncas que eu tenho é exatamente isso. Enquanto um Santorinho (Rodrigo Santoro) ou um Gianecchini é creditado nas produções, nós, com até 60 anos de carreira, temos de correr atrás das migalhas".
"É muito fácil saber se um filme é feito por um dublador ou por um ator. O que é feito pelo dublador não é creditado", completou Baroli.
Com relação à disputa desigual entre dublagem e legendagem - devido ao baixo custo para legendar um filme em comparação ao valor da dublagem -, Baroli disse que os dubladores não lutam só em causa própria, mas também para que o público tenha o direito de escolher como quer ver o filme.
O público, aliás, foi fundamental para o lançamento da caixa com o áudio original em português. Grupos de fãs de todo o país desenvolveram uma estratégia de convencimento para que a Fox mantivesse as vozes originais. Comprando a briga dos fãs, a própria filial brasileira teve problemas para aprovar o lançamento da empreitada junto à matriz americana.
A matriz achava que o trabalho era muito velho e comprometeria a qualidade do produto - que teve o seu áudio original remasterizado para o sistema Dolby Digital. Assumindo os riscos e lançando os DVDs assim mesmo no mercado, a Fox brasileira se surpreendeu com a procura na temporada de pré-venda nas lojas virtuais. Por isso, assessores anunciaram que a empresa vai antecipar para o final deste ano o lançamento do box com a segunda temporada. E, claro, com a opção da versão original em português.