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18/05/2009 - 05h31

Nível mental do telespectador brasileiro é de nove anos de idade, diz Falabella

PopTevê
Miguel Falabella nunca foi de meias-palavras. Diz o que pensa e o que quer com força e opinião, qualidades raras no meio televisivo, onde as pessoas temem se chamuscar com assuntos explosivos. Autor e ator do seriado "Toma Lá Dá Cá", em que vive o corretor de imóveis Mário Jorge, ele não abranda as críticas nem quando fala de seu próprio personagem. "Ele é um traste, um homem que não serve para nada. Não soube educar os filhos. Aliás, todos os personagens são péssimos", diverte-se ele, falando dos tipos instalados no fictício condomínio Jambalaya, encravado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

MIGUEL FALABELLA FALA DE "TOMA LÁ DÁ CÁ" E OUTROS PROJETOS

  • Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias
O programa, que tem se mantido acima dos 20 pontos de audiência, emplaca sua terceira temporada sem saber se permanecerá na grade. A dúvida, porém, não abala Miguel. "Não sou de ficar na mesma coisa a vida inteira. As coisas terminam. Ficamos três anos, já está de bom tamanho", avalia ele, que acredita ainda ter material suficiente para emplacar mais um ano do humorístico. "Acho que ele ainda tem fôlego para mais, mas não cabe a mim decidir. Se não tiver de ser, faço outra coisa. Graças a Deus, trabalho não falta", garante.

Entre os projetos, estão peças de teatro - uma delas, "Gaiola das Loucas", em que Miguel aparecerá ao lado de Diogo Vilella - e o esboço de uma nova série, que gira em torno do culto à celebridade. "Essa cultura transformou todo mundo na mesma coisa", sentencia. "Eu não vou mais a lugar nenhum, porque você é obrigado a ser fotografado ao lado de vagabundos, ladrões, assassinos, com tudo. Vai tudo no mesmo saco", argumenta.

O que ainda vai ter de novidade para o programa?

A Isadora vai ser juíza. Não teve agora essa juíza loura, uma mulher corrupta, que está aí nas páginas? E alguém diz alguma coisa? Se bobear vai estar na "Caras" mostrando a casa, daqui a pouco. Não vai? Claro que vai! E todo mundo vai achar lindo. O Brasil perdeu os valores básicos. O "Toma Lá" é uma brincadeira, mas denuncia isso tudo.

E você acha que o público entende dessa forma? Em "A Lua me Disse", por exemplo, você foi acusado de racismo por causa das personagens Latoya e Whitney...

Eu respondo a seis processos até hoje. O nível mental das pessoas que assistem à tevê no Brasil é por volta de 9 anos de idade. Em comparação a um jovem francês, o que lê um jovem brasileiro? Um jovem francês lê 200 vezes mais. E um país que não tem educação nos condena à mediocridade. Aqui mesmo tem diálogos e piadas que as pessoas não entendem, porque não têm informação. É o que eu brinco: para entender o "Toma Lá Dá Cá" tem de, pelo menos, ter lido "A Moreninha". Mas o público entende a transgressão e a brincadeira, gosta do absurdo.

A recepção, então, é boa?

Com certeza. Quando você acharia que uma senhora, uma avó como é a Copélia, poderia se comportar dessa maneira? Uma mulher que só pensa em sexo? Mas o público ama a Copélia. Acho que a gente está tão farto de mentira, de hipocrisia, que, quando alguém diz uma loucura - e diz de verdade, porque eles acreditam naquilo - as pessoas gostam.

O que falta na tevê?

Ela precisa se repensar urgentemente, como um todo. Nós precisamos apontar novos caminhos - mas é muito difícil. Porque nós trabalhamos com uma matéria-prima que é a palavra. Quanto menos educado é o povo, menos você pode dizer as coisas, por que as pessoas não entendem. As pessoas não leem e não sabem escrever. É aterrador. Por isso enfatizo a educação. O povo precisa ser educado, a leitura tem de ser incentivada. Não sei o que vai acontecer, mas, obviamente, mudanças são necessárias.

(Por Louise Araujo)

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