A autora Gloria Perez mostrou no primeiro capítulo da novela "Caminho das Índias", que estreou nesta segunda (19), pílulas dos aspectos mais marcantes da cultura indiana, bateu tudo no liquidificador e devolveu ao telespectador um resumão com todos os clichês ocidentais referentes ao país. Como um desses pacotes de turismo rápido com guia em português, a novela mostrou um apanhado do lugar e sua cultura em pouco mais de uma hora.

Logo na abertura, depois de um pouco de fumaça de incenso, aparecem os ghats de Varanasi, um dos lugares mais turísticos do país, com um nascer do sol no rio Ganges. A cidade está às margens desse sagrado rio, que, como bem explicou Opash (Tony Ramos), "desceu dos céus pela cabeça do deus Shiva". Os ghats são as escadarias que ficam às margens do rio para facilitar o banho e as cerimônias religiosoas ali realizadas, que trazem purificação espiritual, segundo a tradição.

Na sequência, o mesmo personagem, o mais didático da trama, logo apresenta o sistema de castas, modelo de divisão social indiano e questão central da novela. Depois, segue-se uma breve explicação do sagrado em cada pessoa, do poder do deus Ganesha (existem milhares de deuses e deusas na religião hindu), das expressões do idioma hindi (como "shukriya", obrigado), da força da deusa Lakshmi (mais uma!), dos costumes locais, da presença dos animais nas ruas etc.



Lendas, história, hábitos alimentares, curiosidades, expressões e maneirismos de Bollywood (a poderosa indústria de cinema local; contração de "Hollywood" e "Bombaim", antigo nome de Mumbai, sede dessa indústria) são elencados de modo organizado e breve. É notório que houve uma pesquisa ampla sobre a Índia para fazer a novela; as informações são bem fundamentadas, ainda que mostradas sob o olhar viciado e eurocêntrico que o Ocidente tem do país.

Por exemplo, é curioso ver como a maioria dos personagens da novela que vivem na Índia falam como profetas, como se dessem uma lição a cada cena. Muitos atores ainda não acharam o tom em seus papéis, assim como ainda não fazem o típico menear de cabeça dos indianos, principalmente quando dizem sim.

A dança, manifestação cultural bastante popular na Índia, também está presente nessa novela, como esteve em "O Clone", da mesma Gloria Perez. Em "Caminho das Índias", os personagens se levantam e começam a dançar durante a cena, a exemplo do que acontece nos filmes de Bollywood (quase todos musicais), numa mistura de dança moderna indiana e carnaval brasileiro.

Taj Mahal, logo ali

No primeiro capítulo não foi mencionado o nome da cidade onde os personagens vivem, apenas se falou que é no Rajastão, Estado no noroeste da Índia. Mas as cenas se passam na capital Jaipur, conhecida como cidade cor-de-rosa.

E é bem no centro dessa cidade com mais de 2 milhões de habitantes que Maya (Juliana Paes) e Bahuan (Márcio Garcia) se encontram novamente e ao acaso, no meio da rua --seria um sinal auspicioso dos deuses?. Então os dois marcam um encontro que mostra a primeira grande licença poética da autora Glória Perez. Eles combinam de se encontrar no Taj Mahal, no dia seguinte, como se fosse logo ali. Deslocar-se de Jaipur para Agra, onde fica o palácio mais conhecido do país, não é uma tarefa rápida. São necessárias seis horas ou mais para percorrer os 250 km de estrada bem precária que separam as cidades. Essa é a Índia e seus caminhos reais.

Mas a Índia da Globo é divertida e colorida como a Índia real. Assim como o país encanta quem o visita, a novela também deve conquistar o público. Como disse Shankar (Lima Duarte), "tudo que começa perto do deus Ganesha está fadado a dar certo". Principalmente porque nessa Índia carioca as mulheres usam sári de cintura bem baixa e umbigo à mostra. Namastê.

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