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02/12/2008 - 01h29

Filmes da "Sessão da Tarde" e professora ajudaram Aílton Graça a virar ator

PopTevê
Não raro, o bairro de Americanópolis tem a pouco honrosa "distinção" de figurar nas estatísticas sobre a violência em São Paulo. Mas foi exatamente nessa área pobre da periferia da capital paulista que, ainda criança, Aílton Graça começou a se sentir atraído pela arte. Além de passar as tardes de sua infância acompanhando os filmes da "Sessão da Tarde", o ator encontrou na escola em que estudava o incentivo para ingressar na área. "Lá tinha uma professora de artes sempre fazia trabalhos ligados ao teatro, como exercício de cidadania. Acho que esse foi o meu grande estímulo e onde eu me encontrei", analisa ele, atualmente no ar como o sonhador Jacaré de "Três Irmãs".

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A professora não foi o único apoio que teve. Um belo dia, sua mãe, Nair, chamou os filhos para uma conversa séria. "Ela avisou que ia dar um presente para a gente vencer na vida e entregou uma caneta para mim e uma para o meu irmão", relembra. "E disse: "Essa é a grande arma dos dois. Vocês vão vencer na vida pelo conhecimento"", complementa. Apesar de nunca ter tido uma educação formal na área, Aílton seguiu o conselho. Fez diversos cursos e nem mesmo o orçamento familiar apertado o fez se afastar da arte. Quando não tinha dinheiro para o ingresso, batia na porta dos teatros e conversava com o diretor do espetáculo. "Dizia que era estudante de teatro e que precisava ver a peça. Sempre fui muito fuçador e cara-de-pau nesse sentido", reconhece, entre risadas.

Hoje com diversos trabalhos no currículo, Aílton se dedica às trapalhadas de Jacaré. O personagem tenta levar a vida com calma, mas se divide entre dois amores bem diferentes: a explosiva Janaína, de Solange Couto, e a quase mítica Sylvie L'Eclair, atriz de cinema vivida por Antonia Frering. "Ele gosta da Janaína, talvez até a ame. Mas não conseguiu resolver esse amor platônico pela Sylvie", justifica. "Depois que ele resolver isso, talvez consiga ter uma vida diferente", arrisca.

Até hoje, quase todos os seus papéis em tevê foram mais próximos de tipos populares. Como é a reação do público quando aborda você?

É bem legal, porque vejo que acompanham o meu trabalho. Talvez a coisa mais difícil seja isso, cair na graça das pessoas como artista popular. E tudo o que busquei, na minha pesquisa da cultura brasileira, foi quebrar um pouco esse paradigma com relação aos atores. Parece que a gente pertence à quintessência da humanidade, enquanto a população está atrás. Isso não existe.

Você fala isso com relação à questão da celebridade?

Isso. Os atores de tevê trabalham em uma mídia que dá projeção. E eu não gosto nem permito que o meu trabalho pareça diferente do trabalho de um médico ou de um gari. Porque não é diferente, somos todos operários. A referência do artista é importante também, mas não desqualifica o trabalho dos outros. Procuro desmistificar essa barreira.

Na novela, você está trabalhando com duas atrizes de perfis bastante diferentes. Isso contribui para reforçar a diferença que existe entre as personagens dentro da trama?

Elas têm energias totalmente diferentes. Sou muito amigo da Solange e sei que ela é um furacão. Já a Antônia tem toda uma coisa de requinte. É fina. Isso também é muito bom para trabalhar os universos das personagens. Como essa paixão dividida se dá na cabeça desse cara, que é um homem simples? É essa pergunta que a gente tenta responder.

Durante mais de 20 anos você participou do Balé Folclórico de São Paulo. O que te motivou a ingressar nessa área?

Os americanos têm o jazz, o sapateado - é a escola dos atores de lá. Aqui no Brasil a gente não tem uma escola com a nossa identidade.
Precisamos de uma linha de trabalho ligada à cultura popular. Acho que não existe um país com tantas danças folclóricas quanto o nosso. Dentro dos grandes centros urbanos a gente só tem a referência do samba. Mas temos outras coisas maravilhosas e precisamos mostrar isso.

(Por Louise Araújo)

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