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20/11/2008 - 01h29

Stênio Garcia fala de seu personagem no "núcleo da loucura" da nova novela das oito

Pop Tevê
Marasmo não é com ele. Aos 76 anos, Stênio Garcia mal se despediu do preconceituoso Barretão de "Duas Caras" e rumou para Salvador, na Bahia, onde gravou como o Gerônimo de "Ó Paí, Ó". E agora que a série está no ar, o ator só tem olhos para o Doutor Castanha, o psiquiatra com nome e atitudes pouco convencionais, que faz parte do chamado "núcleo da loucura" em "Caminho das Índias", próxima novela da Globo no horário nobre. "Esse é o desafio da tevê: conseguir um comportamento que diferencie um personagem do outro nesse veículo que mostra você seis dias por semana", pondera.

Pedro Paulo Figueiredo/ CZN
O ator de 76 anos prepara-se para nova novela
VEJA CENAS DAS GRAVAÇÕES DE "CAMINHO DAS ÍNDIAS"


Experiência no assunto é o que não falta ao ator. Em 2005, por exemplo, Stênio se dividiu entre o "remake" de "Carga Pesada" e as duas partes da microssérie "Hoje é Dia de Maria". A dedicação, ele atribui aos anos em que trabalhou com diretores de teatro como Antunes Filho e Ademar Guerra. "Eles me deram essa "insatisfação" que eu considero uma grande satisfação: a de não aceitar fazer duas coisas iguais. Por isso tenho disposição", orgulha-se. Seguindo essa lógica, Castanha é totalmente oposto a Barretão, último personagem do veterano em novelas. Boêmio e irreverente, o médico promete chamar a atenção pelos métodos heterodoxos de cuidados aos doentes mentais a que atende. "Ele entra no processo de delírio do paciente. É uma forma de conquistar a confiança do outro para conseguir tratá-lo", analisa.

Para construir a base do personagem, Stênio passou os últimos dois meses em visitas a instituições voltadas para o atendimento a pacientes mentais, como o Hospital Psiquiátrico Nise da Silveira. A médica que batiza o local, aliás, é uma das fontes de inspiração do ator. Ela foi uma opositora ferrenha de tratamentos agressivos, como eletrochoques e lobotomias, comuns no cuidado de pacientes mentais durante os anos 1930 e 1940. "Nise foi uma figura bastante contestada ao longo da vida, justamente por criticar esses métodos", recorda Stênio, que tem acompanhado as oficinas em que os pacientes são estimulados a manifestar-se artisticamente. "É contagiante ver a manifestação deles tocando instrumentos, cantando ou dançando. Tudo isso é fantástico", empolga-se.

Mas não é só de temas sérios, como história e medicina, que o ator tem tirado referências. Fontes inusitadas também têm servido bem ao ator, e um bom exemplo é cabelo no estilo moicano exibido pelo jogador Léo Moura, lateral-direito do Flamengo. O visual do psiquiatra deve ter influências diretas do corte do atleta. "Claro que não é igual, até porque eu também não tenho aquela habilidade toda no futebol. Mas gosto de pegar um dado popular, me inspirar nele e transformá-lo", explica.

O dado pop cai como uma luva no estilo de vida que Castanha leva fora do consultório. Desdobrando-se em análises psiquiátricas durante o dia, o doutor se transformará em um talentoso bailarino ao cair da noite. "Como disse um dos diretores da novela, o Castanha é bom nos dois extremos: na cabeça e no pé", diverte-se. Freqüentador de gafieiras, o personagem tem obrigado Stênio a uma rotina de aulas de dança. Uma mudança e tanto para o ator, que estava longe de poder ser considerado um pé-de-valsa. "Dançava daquele jeito meio "mocorongo". Um passo para lá, um para cá", ironiza.

Como boa parte da equipe viajou para a Índia para gravar as primeiras cenas da novela, o elenco de outros núcleos ainda não entrou em estúdio. "Já tenho cenas escritas, mas eles precisam primeiro editar o material que veio de lá", explica o ator. O que poderia ser motivo de insatisfação ou ansiedade é só mais uma razão de alegria para Stênio, que valoriza o período de elaboração do personagem. "É um processo tão agradável e entusiástico quanto gravar em estúdio, com figurino e cenografia prontos", garante, entre sorrisos.

(Por Louise Araujo)

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