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15/02/2008 - 22h06

"Nosso vilão é o cretino do torturador", diz autora de "Queridos Amigos", que estréia nesta segunda

Do PopTevê

Divulgação

Dan Stulbach interpreta Léo, que recebe diagnóstico de esclerose múltipla e decide reunir os amigos

Nos versos iniciais de "Canção da América", Milton Nascimento e Fernando Brant escrevem que "amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito". É em torno dessa idéia e dessa melodia que gira "Queridos Amigos", minissérie que estréia nesta segunda-feira (18) na Globo após o "Big Brother Brasil".

"É a história de uma grande parte da minha vida e que faz um resgate de um amigo muito importante para mim", explica a autora, Maria Adelaide Amaral. A menção que ela faz é ao jornalista e intelectual Décio Bar, que se suicidou em 1991 e cuja morte motivou Maria Adelaide a escrever o livro "Aos Meus Amigos".

Apesar de ser a base da produção de 25 capítulos, o romance não foi fielmente adaptado pela autora. "As pessoas podem não identificar alguns personagens, já que as características de alguns aparecem em outros", alerta Débora Bloch, que será a artista plástica Lena.

O reencontro

A trama tem início em 1989. É nesse ano que Léo, vivido por Dan Stulbach, se descobre doente, com suspeita de ter esclerose múltipla. Na época quase uma sentença de morte, a moléstia não abala o anárquico intelectual: decidido a não "entregar os pontos", ele reúne em sua casa na serra os amigos com quem formava na juventude o que chamavam de "família".

"Ele é movido por esse amor. O Léo não quer perder os laços com as pessoas que o marcaram e isso fica mais forte com a proximidade da morte", define Dan. A partir daí, a história mostra como cada um reage à desagradável novidade sobre o protagonista, e explora ainda os vínculos afetivos que os uniram no passado.

A força dessas relações, aliás, tem mexido também com seus intérpretes. "A gente sai do estúdio com vontade de recuperar esse tempo perdido e ligar para todos os nossos velhos amigos. É um assunto que fala a todos nós", diz emocionada Denise Fraga, que dará vida à sofrida Bia.

A ditadura

O perfil psicológico dos personagens da minissérie, aliás, segue na contramão do folhetim clássico, com mocinhos e vilões: cada um deles é capaz de mesquinharias e de atos grandiosos, no formato "gente como a gente". O único antagonista pleno é a Ditadura Militar que assolou o Brasil nos anos anteriores e cuja memória --e conseqüências econômicas, sociais, psicológicas-- serve de pano de fundo na vida dos amigos.

"Nosso vilão é o cretino do torturador", brinca Maria Adelaide. "Essa geração enfrentou um inimigo cruel mas manteve sempre a coragem. É muito enriquecedor poder mostrar isso", diz a diretora da produção, Denise Saraceni.

Fatos históricos mundiais também estarão presentes na minissérie. Acontecimentos como a queda do Muro de Berlim e o fim do Socialismo serão revividos com reportagens exibidas na época, mas também com o idealista Tito. O comunista convicto vivido por Matheus Nachtergaele vai representar o fim das utopias na transição do mundo bipolar para a hegemonia capitalista. "É um passado muito recente e doloroso que não pode ser esquecido. Os anos 80 deixaram marcas profundas na nossa sociedade", adverte Matheus.

O hedonismo, aliás, também estará presente, encarnado no Benny de Guilherme Weber. Cínico, sarcástico e em muitos momentos cruel, o personagem tem um prazer especial em chocar a sociedade. "O Benny é um judeu homossexual que namora um negro. Estou representando todas as minorias!", diverte-se Guilherme.

Simplicidade

Diferentemente das últimas minisséries da Globo, que tiveram duração entre dois e três meses, "Queridos Amigos" ficará no ar por pouco mais de 30 dias. Outra diferença é o investimento, bem longe das grandiosas produções que deslocaram profissionais e equipamentos para a floresta, como em "Mad Maria" e "Amazônia".

Mesmo assim, não falta quem defenda o esquema mais simples, como a veterana Fernanda Montenegro, que será a intensa Araci. "Sou apenas uma coadjuvante, mas fico feliz de participar de um projeto como esse, com o qual a gente pode contestar a ditadura", sorri, marota.

(por Louise Araújo)
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