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01/02/2008 - 18h13

Produzida por Spielberg, "Into the West" oferece releitura politicamente correta da história dos EUA

CÁSSIO STARLING CARLOS
Especial para o UOL

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O casal Jacob Wheeler e Thunder Heart Woman

Tantas vezes dado como morto, o western é um gênero que vive sendo ressuscitado. No cinema recente, "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", "Onde os Fracos Não Têm Vez", "Os Indomáveis" e, em certo sentido, "O Segredo de Brokeback Mountain" vêm promovendo um revival do Oeste selvagem e seus personagens.

Na TV, depois do sucesso de "Deadwood", a minisérie "Into the West", que estréia na Fox, às 18h, neste sábado, marca o retorno ao gênero mais presente na TV americana nos anos 50. Ao longo de mais de sete horas (divididas em seis episódios), a série, que começa a ser exibida amanhã na Fox, reconstitui o avanço da fronteira oeste dos EUA durante o século 19.

O oeste reconstruído

"Into the West" traz a grife de Steven Spielberg como produtor-executivo, o que é garantia, mais que tudo, de qualidade visual. Como já havia feito com o desembarque na Normandia durante a Segunda Guerra em "Band of Brothers", a marca de Spielberg se reconhece em "Into the West" na magnitude da reconstituição de época. Para além da sofisticada direção de arte, que recria figurinos e cenários históricos, a perfeição se estende na reconstrução da natureza, feita com abundância de recursos digitais, como um ataque de búfalos que garante o espetáculo já no primeiro episódio.

Para evitar o risco de ficar tudo com cara de programa do History Channel, a série adota como guia o personagem Jacob Wheeler, um jovem carpinteiro de rodas que abandona a calma vida em família na Virginia para se lançar na aventura da conquista do oeste selvagem. O tema da roda (presente desde o nome do personagem: wheel=roda, em inglês) percorre e une todas as pontas da trajetória de Jacob. O símbolo torna complementares as trajetórias individuais, com sua luta pela sobrevivência, e a contribuição coletiva na fundação da nação que hoje conhecemos como Estados Unidos.

Os desafios impostos pela natureza e as difíceis condições de sobrevivência na travessia de longos espaços inóspitos fornecem os elementos necessários para a saga humana, mas o tema central que percorre toda a série é o das relações com as nações índias, presença original em um território depois ocupado pelos brancos à custa de violências físicas e culturais.

A valorização do índio

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Em Into the West índios co-protagonizam, ao lado dos brancos, a construção dos EUA

Neste aspecto, "Into the West" oferece uma releitura politicamente correta da história, ao apontar em vários momentos os efeitos nefastos da chegada do homem branco e, sobretudo, ao eleger o personagem índio Amado pelo Búfalo como co-protagonista.

No cinema, o ocaso do western, nos anos 60, coincidiu com o início do reconhecimento das minorias. Por isso, o tratamento de inimigos selvagens que os índios costumavam receber passou a ser considerado incorreto, e assim o western entrou em uma fase chamada "crepuscular". Nela, até mesmo o cineasta John Ford, o mais importante diretor do gênero, reconduziu os personagens índios a uma posição menos injusta em 1964 com "O Crepúsculo de uma Raça".

Seguindo esta linha, a produção de Spielberg traz uma versão mais democrática, na qual a América não é só fruto da vitória do homem branco. A multiplicidade étnica e sua riqueza cultural, tenta dizer a série, é o caldo no qual frutificou a força da nação. Mesmo que retome uma velha história, que muitos já conhecem, "Into the West" busca oferecer outra visão do paraíso.

INTO THE WEST
Onde: Fox
Quando: sábados
Horário: 18h

Cássio Starling Carlos é crítico da "Folha de S. Paulo" e autor de "Em Tempo Real - Lost, 24 Horas, Sex and the City e o Impacto das Novas Séries de TV" (Ed. Alameda)

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