Fora do ar, Tuca Andrada impressiona pelo porte atlético, com 1,80 m de altura mas, principalmente, pelo jeito quase tímido. Mas quando entra em estúdio, ele abandona os gestos contidos e abusa do rosto de traços marcantes --reforçado pelo cabelo curtíssimo-- para encarnar o cruel vilão Eric, que atormenta a vida dos mocinhos em "Caminhos do Coração".

"Ele é aquele vilão clássico de folhetim, daqueles que aprontam muito e se dá mal no final", brinca o ator. Não é a primeira vez que Tuca encarna o mal: sua estréia na TV, em 1991, foi como o mau-caráter Ladislau de "O Dono do Mundo". O ator, no entanto, ressalta as particularidades de seu atual papel. "O Eric é sádico, ver os outros sofrendo lhe dá prazer. Esse é um tipo que eu nunca tinha feito", conta.

Mesmo com o diferencial, Tuca diz que passou longe do "laboratório" - técnica popularizada pela escola de teatro novaiorquina Actors Studio e que ele considera "desgastada". Egresso do teatro, ele explica que prefere encontrar no texto tudo aquilo que o autor espera do personagem. "Muitas vezes o ator se distancia do texto por causa de uma só característica, quando o personagem é um mundo de nuances", avalia.

Dedicado aos tipos que interpreta, o recifense, que saiu de casa para tentar a sorte no Rio de Janeiro ainda na década de 80, não nega que gosta de emocionar o público. Quando encarou o papel-título do musical "Orlando Silva - O Cantor das Multidões", cuja turnê de três anos se encerrou em 2006, ele teve a oportunidade de vivenciar aquilo que considera a maior vaidade da profissão: o aplauso. Apesar de valorizar o trabalho mais "artesanal" do ator no teatro, Tuca reconhece que, na TV, o impacto sobre o espectador é ainda maior e menos controlável.

Reconhecimento

Divulgação Tuca Andrada, como Kaike, contracena com Giovanna Antonelli na novela ''Da Cor do Pecado"

Observação que ganha reforço com o entusiasmo que o ator ainda recebe graças à interpretação do bom-moço Kaíke, de "Da Cor do Pecado". Exibida originalmente em 2004, a novela está no ar no horário do "Vale a Pena Ver de Novo" e continua a render frutos ao artista. "É impressionante. Jamais imaginei que fosse possível, mas o assédio é o mesmo, exatamente igual ao de três anos atrás", revela.

Com mais de uma década de experiência em novelas, Tuca faz questão de frisar que a carreira tem também seu lado difícil. Para garantir as cenas de Eric, por exemplo, ele tem visto seus dias serem totalmente consumidos pelas gravações --rotina que o faz valorizar o trabalho dos atores televisivos brasileiros, que classifica de "geniais". "A gente faz um filme por dia. No cinema, são três meses de preparação, outros três de filmagem e o ator faz dois trabalhos por ano. É moleza!", brinca.

E é por conta dessa dedicação que o ator não tem meias palavras para avaliar o trabalho de quem começa a se aventurar pela seara da interpretação. Para ele, estudo é a principal lacuna na formação dos jovens que estão chegando à TV. "Sem medo de ser injusto, 70% das pessoas que começam hoje não querem atuar, querem ser convidados para área vip. Só que isso é uma parte ínfima de ser ator", critica.

Mesmo com a desconfiança diante dos novos nomes, ele não deixa de elogiar a companheira de cena Preta Gil, que vive Helga, mulher do vilão. As cenas da personagem, escritas pelo autor Tiago Santiago com base na personalidade da cantora, têm surpreendido Tuca. "Mesmo sem ser experiente, acho que a Preta está indo muito bem. Ela dá conta do recado tranqüilamente", elogia.

(por Louise Araújo)

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