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05/09/2007 - 12h44

"A TV é cruel com as mulheres mais velhas", diz Rosamaria Murtinho, a Otília de "Sete Pecados"

Do PopTevê

Pedro Paulo Figueiredo/CZN

Rosamaria Murtinho, aos 72 anos, interpreta Otília em Sete Pecados

Em "Sete Pecados" Otília, personagem de Rosamaria Murtinho, não tem onde cair morta. Mas sua pose de madame é capaz de enganar os desavisados: ela é uma legítima perua que insiste em propagar que come caviar no almoço, embora sua realidade seja bem diferente. "Ela almoça sardinha com pão, mas tem o nariz tão em pé que não dá para acreditar", diverte-se a atriz.

Por aí, dá para perceber que humor é o que não falta à personagem. Para deixá-la no ponto, Rosamaria cortou os cabelos, tingiu em três cores e observou trejeitos de algumas dondocas. "Você vai encaixando coisas aqui e ali. Mas quando a personagem é bem escrita é mais fácil", diz, referindo-se ao autor Walcyr Carrasco, com quem já havia trabalhado em "Chocolate Com Pimenta".

Aos 72 anos, Rosamaria tem sua trajetória entrelaçada à da TV brasileira. A atriz estreou no teatro, por acaso, aos 18 anos, ao substituir uma atriz na peça "Studio 53", de Paulo Francis. Após uma temporada em Portugal, ela voltou aos palcos brasileiros e estreou na TV como a protagonista de "A Moça que Veio de Longe". De Ivani Ribeiro, a trama foi exibida pela extinta TV Excelsior em 1964, e seu último capítulo foi encenado ao vivo no programa "A Cidade se Diverte".

Por isso mesmo, a atriz tem conhecimento de causa ao analisar as mudanças de lá para cá. "Como fiz TV ao vivo, essa tecnologia toda ainda me espanta. Mas sou ativa, vou lá e faço. Não fico pensando. Quando eu for para o caixão terei muito tempo para descansar", brinca ela, que em outubro estréia no Rio de Janeiro uma peça sobre a vida da pintora mexicana Frida Kahlo, com direção de Caco Ciocler.

Pergunta - Você sempre escolheu seus papéis? Já recusou algum?
Rosamaria Murtinho - Já recusei algumas coisas no teatro e no cinema e me arrependi. Na TV, não deixaram que eu fizesse. Fui preterida por outra atriz. Mas isso acontece, é normal.

Pergunta - A que você acha que isso se deve?
Rosamaria - A TV é cruel com mulheres mais velhas, nunca tem papel. Para os homens, tudo é permitido. Coloca uma barba e vira um Comendador. Um bigode, vira um fazendeiro, um "bon vivant", e por aí vai. Para senhoras acabadas é mais difícil. Nem é o meu caso, porque eu sou uma senhora mas ainda não estou caindo aos pedaços. Mas acredito que o teatro seja mais generoso. O teatro é mágico. Você bota um ator e um banquinho, e aquilo vira uma encenação de "Ricardo III", de Shakespeare. Nem precisa de um trono dourado.

Pergunta - Com 54 anos de carreira, o que você ainda quer realizar profissionalmente?
Rosamaria - Penso em parar um dia. Pode ser que não aconteça, mas tenho essa vontade. Sabe de uma coisa? Nunca fui uma apaixonada pelo teatro. Descobri isso uma vez antes de entrar em cena. Estávamos eu e uma atriz no camarim, e ela ansiosíssima para entrar, falando das maravilhas de atuar. E eu só queria que acabasse logo. É lógico que acredito no meu talento, mas acho que não tenho essa vocação toda.

Pergunta - Então, se pudesse escolher, você teria tido outra profissão?
Rosamaria - Bailarina. Eu dançava, mas tive um problema no joelho e parei. Por isso que gosto tanto dos musicais. Quando fiz "Ô Abre Alas", sobre a vida de Chiquinha Gonzaga, descobri a alegria de interpretar com música. É uma delícia.

Pergunta - Você passou a vida inteira sendo uma pessoa pública. Como lida com isso?
Rosamaria - Já tive fases de não ter tanta boa vontade com a imprensa. Mas vejo isso como uma relação profissional. Não entendo essas atrizes de hoje em dia que não podem dizer que estão namorando. É engraçado. É normal que fotografem. Acho que ou você se acostuma com isso, ou vai ser camelô.

(por Fabíola Tavernard)

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