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27/04/2007 - 19h42

"Parece que estou fazendo novela das oito na Globo", diz Marcelo Serrado; leia entrevista com o ator

Do PopTevê

Jorge Rodrigues Jorge/CZN

Marcelo Serrado pediu para interpretar o vilão de Vidas Opostas

Dia desses, Marcelo Serrado estava gravando "Vidas Opostas" como o delegado Nogueira no Leme, bairro da Zona Sul carioca, quando foi abordado por um pivete. Aparentando não mais que 15 anos, o rapaz roubou seu celular e fugiu. Atônito, o ator pediu ajuda ao segurança da Record, mas a procura pelo infrator foi em vão. "Só me resta rezar para que não aconteça de novo", ressalta.

A situação, rotineira nas grandes cidades, tem um significado especial para Marcelo. Afinal, grande parte das cenas que ele grava atualmente tem a violência como pano de fundo. Mas Nogueira não se empenha em combater o crime. Ao contrário. O bandido do colarinho branco é capaz das maiores atrocidades e não pensa duas vezes quando lhe oferecem propina em troca de favores. "É claro que existe corrupção na polícia. Vivemos em um país onde o salário é baixo, é fácil se corromper", avalia.

Vilão multifacetado

Mas Nogueira está longe de ser um vilão como os outros. Para interpretá-lo, o ator de 40 anos partiu de um princípio simples: "O verdadeiro vilão não sabe que é mau", explica. E é justamente isso que o fascinou desde o início. Na sinopse de Marcílio Moraes, estava previsto que Marcelo vivesse o traficante Jackson. Mas ao dar uma olhada "en passant" na história, viu que o papel de Nogueira estava em aberto.

Atraído pela possibilidade de encarnar um vilão "surreal", pediu ao diretor Avancini que o deixasse interpretá-lo. "Achei o Jackson interessante, mas ele segue uma linha vertical. O Nogueira é tudo ao mesmo tempo, sociopata, bipolar, arrogante, irônico, culto, cínico... Enxerguei múltiplas possibilidades", argumenta.

Na história, Nogueira é pago por traficantes para manter a "barra limpa" nas bocas de fumo. Como se não bastassem suas intermináveis falhas de caráter, ele se revela, a cada capítulo, um verdadeiro lunático. O delegado persegue a ex-mulher, Neusa, interpretada por Ana Paula Tabalipa, e a ameaça com as maiores torturas psicológicas.

Quando os personagens ainda eram casados, sua rotina era chegar do trabalho e "desestressar": espancava e estuprava a coitada com a maior brutalidade. Seguindo-se a uma cena dessas, o doido aparece tomando chá e ouvindo música clássica. Ou seja, nunca se sabe o que esperar dele. O delegado pode estar em uma ação policial ferrenha, num momento introspectivo --sensibilizado pela beleza de uma obra de arte--, ou praticando "sexo animal" com Erínia, de Lavínia Vlasak, sua não menos inescrupulosa aliada.

Insano, mas querido

Diante de tanta loucura, o ator diz que a resposta do público é surpreendente. "Parece que estou fazendo novela das oito na Globo. Nas ruas, só me chamam de delegado. O melhor é que apesar das maldades, as pessoas o adoram, divertem-se com ele", gaba-se.

Com 20 anos de carreira, Marcelo Serrado comemora a boa repercussão de seu segundo papel na Record. Antes de Nogueira, ele foi o mocinho injustiçado de "Prova de Amor', outra trama da emissora. Talvez por esse caminho vem traçando, Marcelo seja enfático ao afirmar que, com exceção da Globo --onde trabalhou por 12 anos--, ele só acredita na Record como uma empresa capaz de investir e colher bons frutos com a teledramaturgia. "Não acredito nas outras emissoras. Estaria infeliz se estivesse fazendo outra novela que não fosse esta", afirma ele, contratado da casa até 2008.

Assim que "Vidas Opostas" acabar, Marcelo vai gravar a segunda temporada de "Mandrake", série do canal pago HBO. No teatro, viverá Tom Jobim na peça que será dirigida por Wolf Maya e contará a vida do compositor, no fim do ano. Mas o projeto de sua vida, como ele mesmo define, é um filme com a atriz Ana Beatriz Nogueira, onde ele vai interpretar um autista. "É o que me fascina. Deliciar-me com um personagem como o Nogueira, o Tom, e esse autista que pretendo fazer. Nós, atores, temos de matar um leão por dia", diz.

(por Fabíola Tavernard)

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