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16/09/2009 - 10h09

"Big Brother" completa 10 anos ainda polêmico e popular

A primeira transmissão do programa "Big Brother", há exatos dez anos na Holanda, foi um marco para a televisão mundial e, ao evoluir do conceito de mero reflexo do cotidiano para um verdadeiro desfile de extravagâncias, continua contestado, mas igualmente popular. "Não tinha nem ideia do fenômeno global que tínhamos em nossas mãos. Quando nos veio a ideia, ficamos desenvolvendo por dois anos. Pensávamos que estávamos trabalhando em um formato local", explicou à Agência Efe Paul Römer, que junto a seu irmão Bart, Patrick Scholtze e John De Mol criaram um fenômeno televisivo sem precedentes.
  • Alexandre Campbell/Folha Imagem

    Os participantes da primeira edição do "Big Brother" no Brasil, que estreou em 2002


Desde então, o gênero reality começou a aparecer com mais frequencia na televisão. Foi inaugurado o formato de programa com 24 horas de transmissão e se testou a capacidade de interagir com o público de maneira especialmente lucrativa.

Termos como "confessionário", "indicação" e "paredão" adquiriram novos significados. Nos EUA, foram criados neologismos como "edredoning" (sexo furtivo sob lençois) e o mundo assumiu seu papel de bisbilhoteiro impune sem nenhum tipo de pudor.

"Quando um programa tem algum sucesso, é desencadeada uma espiral de audiência 'porque todo mundo o viu ou todo mundo fala disso'. É um modo de justificar nossos comportamentos quando não nos parecem muito adequados ou simplesmente absurdos", explica à Efe José Antonio Ruiz San Román, professor de Sociologia da Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madri.

A Endemol, produtora da grande ideia, quis dignificar sua proposta tomando como referência o personagem onipresente da obra "1984", de George Orwell, e combatia a polêmica que causou ao trancar várias pessoas em uma mesma casa sob vigilância continua se apoiando em um máscara de estudo sociológico.

"O 'Big Brother' é um espelho da sociedade e em cada país os moradores da casa refletem sua própria cultura. É por isso que o 'Big Brother' sempre será relevante e interessante para os espectadores e o programa sempre será atual", defende Römer, dez anos depois do 16 de setembro de 1999 em que o programa estreou.

No entanto, Ruiz San Román despreza essa vocação antropológica. "Inicialmente se utilizou como argumento para justificar um programa arriscado que estávamos perante um experimento sociológico. Na realidade estamos e estávamos perante um programa de televisão na busca de espectadores", explicou.

"A princípio, o formato foi chamativo. Agora, como o formato já não é inovador, requer protagonistas os mais extravagantes possíveis", argumenta. E assim, se for preciso falar de interesse sociológico, não seria preciso apontar para questões de convivência ou de audiência enganchada na intimidade alheia. "A questão é saber até onde alguém está disposto a se mostrar perante uma câmera", assinala.

O caso da participante Jade Goody, do "Big Brother" britânico, que midiatizou sua morte por câncer, foi a expressão mais radical dessa questão. Mas o "Big Brother" viu passar por suas casas de todo o mundo - 67 países o transmitem hoje em dia - padres com conflitos de fé, prostitutas e strippers, transexuais e mulheres com nanismo que depois posaram nuas.
  • Phil McCarten/Reuters

    A ex-participante do "Big Brother" britânico Jade Goody, que morreu em decorrência de um câncer em março de 2009, aos 27 anos


"A seleção para o 'Big Brother' era feita com consciência. Tentaram nos dizer que era gente comum: não era exatamente assim. É gente que procura descaradamente a fama ou, pelo menos, chamar a atenção, pelo motivo que seja. Os perfis sociológicos da população não são os dos protagonistas do Big Brother. Provavelmente também isso seja parte do sucesso", assegura Ruiz San Román.

Efetivamente, o sucesso das primeiras edições, que davam a seus participantes espaço em revistas e programas de fofoca, transformou o "Big Brother" não em um concurso pelo prêmio final, mas em uma escola desse subgênero de famosos.

O próprio programa desembocou no chamado "Big Brother VIP" em alguns países, onde entre os participantes figuravam antigos "Big Brothers" originais que viraram celebridades.

Essa ambição foi utilizada de forma radical recentemente na Turquia, onde sob o chamariz de um "Big Brother" nove mulheres foram sequestradas durante dois meses.

Apesar disso, Römer assegura estar satisfeito com sua criação. "Estou muito orgulhoso do 'Big Brother' e de todas as suas vertentes. Os outros realities já não são minha responsabilidade, porque embora o 'Big Brother' tenha popularizado o formato, ele existia antes de 1999", comentou. (Mateo Sancho Cardiel)

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