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01/07/2011 - 07h00

"A vida é feita de música para as pessoas que sabem cantar", declara Marco Camargo, jurado de "Ídolos"

AMANDA SERRA
DO UOL, em São Paulo

Característico por seu jeito mal-humorado, pelas frases típicas -- "Estou me sentindo em um cemitério ouvindo você cantar", "Quem te incentivou a vir aqui?" "Quem disse que você canta?"--, Marco Camargo, apresentador, diretor musical e jurado do programa “Ídolos”, revelou seu lado extrovertido, mas não menos crítico, para o UOL Televisão durante a gravação do programa “Entrevista Record Música”, no qual ele ao invés de julgar, recebe músicos para um bate-papo. "Tem que cantar para a maioria. A vida é feita de música para as pessoas que sabem cantar. Outras pessoas só sabem ouvir", afirma.

Assim que chegou na emissora, Camargo foi para o camarim e em seguida para o estúdio, onde perguntou pelos entrevistados da semana --os integrantes da banda Restart -- que ainda estavam se arrumando. Ele leu o roteiro, viu os últimos detalhes e às 12h25 iniciou as gravações. “Encheu o saco já esse lance dos coloridos?”, perguntou Marco para os músicos teen, nos bastidores. “A gente gosta de cor, somos assim”, respondeu o guitarrista Pe Lu, aos risos.

Já em sua sala, fotos dos cantores Roberto Carlos, Tina Turner, Xuxa, entre outros, compõem a decoração do espaço. Caixas de som de alta potência, também revelam a paixão do “temido” jurado pela música. “Se a pessoa acha que é mais que a música seu fracasso é imediato."

UOL - Por que você adota a postura de durão no programa “Ídolos”?
Marco Camargo -
Não sou durão, sou verdadeiro. As pessoas que falam a verdade passam para os que não gostam de ouvir a verdade a imagem de durão ou mal educado. Durante muito tempo as pessoas ficaram nessa de passar a “flanela”. Eu sou um cara engraçado, brinco com todos, canto. Não me considero um cara chato, bruto ou qualquer outro adjetivo que possa denegrir minha imagem, sou uma pessoa normal, com momentos tristes e felizes. O que me tira do sério é estar lá [nas audições] há horas, cerca de 12h aproximadamente, julgando, e entrar um candidato para fazer exatamente nada, achando que vai te convencer de uma enganação. Pô, quem não ficaria irritado? Às vezes eu me irrito, mas eu insisto. Estou ali [no “Ídolos”] como jurado.

Por que os candidatos têm medo de você?
Marco Camargo -
É respeito profissional. Do profissional que vai te falar a real, não vou passar “flanela sem curativo”. A partir do momento que você se inscreve e sabe as regras, sabe que também vai me encontrar ali.
 

  • Luiza Sigulem/UOL

    "Ninguém atinge um 1 milhão de pessoas à toa. A gente tem que respeitar e tirar o chapéu para quem consegue conversar com 1 millhão. Sem hipocrisia", Marco Camargo elogia os músicos da banda Restart (29/6/11)

UOL - Você tenta imitar o Simon Cowell, jurado de “American Idol”?
Marco Camargo - Não, não tem nada a ver. Vim descobrir isso depois que eu fui contratado para participar da versão brasileira, mas não ligo, pois o Simon é muito bom e sincero.

UOL - Tem algum candidato favorito em “Ídolos 2011”?
Marco Camargo -
Eu não tenho um favorito. É preciso cantar para maioria. Antes de você ser um artista conhecido nacionalmente, é preciso ter noção que a música é o verdadeiro ídolo. Se a pessoa acha que é mais que a música seu fracasso é imediato. As pessoas querem cantar com você, viver aquele momento. Essa edição está bem homogênea, a votação está oscilando, de fato não veio uma pessoa que arrebatou. Vai ganhar que tiver mais persistência no estilo.

UOL - Você acha que essa audição está fraca?
Marco Camargo -
Sinceramente eu penso que sim. Esperava mais dos candidatos, dos 50 mil, como um todo. Sempre tem temporada que você gosta mais, que tem mais talentos. Eu gostei mais da segunda temporada, pois havia várias pessoas, como o Diego Moraes, Saulo, Hellen Lyu. Vários setores musicais e acho legal isso.
 

Não me considero um cara chato, bruto ou qualquer outro adjetivo que possa denegrir minha imagem, sou uma pessoa normal, com momentos tristes e felizes.

Marco Camargo, jurado de "Ídolos"

UOL - Por que os talentos revelados em “Ídolos” não emplacam na mídia? Há algum tipo de preconceito?
Marco Camargo -
Tem dois momentos. O primeiro é que o “Ídolos” escolhe o melhor que se inscreveu, isso não significa que o melhor se inscreveu. Se eu tenho dez medianos, ele será o melhor dos medianos, não o bom. Entretanto, não é o caso, pois já tivemos pessoas boas. Segundo, quando o melhor candidato, o escolhido sai do “Ídolos”, existe sim um preconceito, porque saiu de um programa da Record e não pode ir em outras emissoras. Entende-se, hipocritamente, que vai lembrar a atração, a rede de televisão, e se esquece de dar atenção a um talento nacional. É por isso que eles não têm o sucesso que a gente gostaria que alcançassem. Tem a questão administrativa também, pois quando a pessoa sai ela vai para uma gravadora, tem um empresário e precisa ter um investimento financeiro. Às vezes não há. Por isso que em muitos casos não se vira um ídolo por excelência.

 

UOL - Arrependeu-se de algum comentário que tenha feito?
Marco Camargo - Nunca. Eu não falo para chocar, falo o que eu realmente acho. Não faço comentários para machucar ninguém, destruir a pessoa, eu falo para o bem da vida dela. Quando eu digo: --“Você não canta nada!”-- é porque estou enxergando essa pessoa com 50 anos, cantando em barzinho, ganhando R$ 60 ou cantando por um prato de comida. Conheço muitas pessoas assim. Eu estou ali em um momento que eu posso modificar o futuro daquela pessoa, tirando ela do pesadelo que acha ser um sonho. Eu critico para ela seguir a carreira que merece. A vida é feita de música para as pessoas que sabem cantar. Outras pessoas só sabem ouvir, você precisa saber qual classe você está. A maioria nasceu para ouvir.

  • Divulgação

    Imagem do livro de Marco Camargo (2010)

UOL – Você lançou um livro de auto-ajuda, "Descubra o Ídolo que existe em você" (2010). O que te motivou?
Marco Camargo - Eu comecei a falar algumas coisas no “Ídolos”, sobre o que eu achava da apresentação e daquelas pessoas. Então minhas frases começaram aparecer em sites, matérias e ganharam uma proporção que eu achei interessante. Era uma coisa que eu estava falando sem a menor pretensão e começou a ajudar as pessoas que ouviam. Muita coisa que eu digo dá para levar para diversas áreas da vida. Tudo o que eu falo é para ajudar alguém, é duro sim, mas sempre é para ajudar. A editora Matrix me procurou e perguntou se eu não queria produzir um livro com as frases das temporadas de 2008 e 2009 de “Ídolos” e dissertar sobre como elas poderiam servir nas vidas de pessoas “comuns”, que não querem cantar. Todo mundo nasce ídolo, deixa de ser quando muda o foco daquilo para o que realmente nasceu para ser. Você nasceu um excelente chefe de cozinha e depois resolve que vai cantar, então deixa de cozinhar, ter um restaurante, para ser um cantor mediano e ruim. Esse é o fato, descobrir o ídolo que há dentro de você.

UOL - O que é ter talento?
Marco Camargo - Na música, o básico do básico é ser afinado e isso nasce com você, não tem escola que ensine. Muitas vezes o ídolo não sabe que é um ídolo. O verdadeiro talento é aquele que quando pisa no palco lhe prende, quando canta emociona, lhe causa inúmeras sensações emocionais e às vezes nem percebe isso.

UOL - Muitos telespectadores criticaram essa nova versão de “Ídolos”, com você, a Luiza Possi e o Rick Bonadio. Ao que se deve a “rejeição”, em sua opinião?
Marco Camargo -
É natural que qualquer mudança tenha estranheza. No “American Idol” [versão americana exibida pela FOX] é normal mudar. Temos aí quatro profissionais muito bons --Calainho, Paula Lima, Luiza Possi e Rick Bonadio. São perfis diferentes. É um direito das pessoas gostarem mais ou menos. Espero que gostem de mim (risos). Tem momentos que eu prefiro a versão antiga e às vezes a nova, porque é natural gostar mais ou menos de algo. Não tem tempo certo. Cabe quem está lá, inclusive eu, se adequar ao que as pessoas estão esperando, isso é o primordial. Atritos vem e vão, passam.

UOL - Como é sua relação com o Rick Bonadio?
Marco Camargo -
É uma relação profissional, de trabalho e boa. Eu o respeito profissionalmente, é inegável o sucesso que ele tem. Bonadio tem vários discos e produções espetaculares, e tenho certeza, que é recíproco do outro lado. O que há, quando há, isso seja com Rick, Luiza, Calainho ou Paula, não só comigo, entre eles também, são divergências sobre a pessoa que está cantando. O programa é feito para isso.

UOL – Você já encontrou algum candidato ao qual tenha dito “não” no programa? Como foi?
Marco Camargo -
Sim. Recentemente fui a um casamento e o garçom que estava servindo a mesa bateu no meu ombro e falou que gostaria de me abraçar, eu levantei e ele disse: – “Há dois anos eu fui no ‘Ídolos’ e você perguntou quem havia me mandado ir lá. Você perguntou o que eu fazia, contei que era garçom e você pediu para eu voltar para o meu restaurante. Naquele momento foi muito duro ouvir aquilo, pois eu tinha pedido as contas do meu trabalho para ir ao programa. Na época minha namorada brigou comigo, pois queria que eu continuasse no restaurante. Voltei para meu trabalho e hoje sou maître, casei com aquela que era minha namorada, temos uma filha e minha vida está indo super bem.” O verdadeiro amigo, e eu me considero amigo de todos ali, é aquele de fato te fala ‘a real’. Não adianta ser engraçado dez minutos, você precisa ser engraçado o resto da vida.
 

  • Luiza Sigulem/UOL

    "Tem muita gente que canta muito, mas não tem carisma e não vai virar sucesso jamais" (29/6/11)

UOL - Você se arrependeu de ter eliminado algum candidato?
Marco Camargo -
Nenhum. Se eu eliminei é porque ele não estava preparado para a minha verdade. Não sou o dono da verdade, a verdade é que é minha dona. Eu penso muito para falar no programa, se eu disse não, é porque naquele momento não estava bom.

UOL - Os pais dos candidatos já lhe ofenderam?
Marco Camargo -
Uma vez fui para a Bahia e um homem me pegou pelo braço e disse: “Marco Camargo eu sou o pai do Coxise. E ‘coxise’ foi um “apelido” que surgiu na época do Calainho e da Paula, tudo que era ruim era ‘coxise’. Só que ‘coxise’ é o nome de um candidato. O pai do menino disse: “Vocês acabaram com a vida minha família. Aqui na Bahia tudo que é ruim é ‘coxise’.” Eu olhei para ele e expliquei que quem havia inventado aquilo tinha sido o Calainho (risos)”. Mas disse a ele que “se o seu filho soubesse usar isso, hoje ele teria um nome nacionalmente conhecido de alguma forma, que eu não sei dizer qual é, que ele poderia faturar com isso (risos).

UOL - Na sua opinião, quais foram os melhores cantores revelados em “Ídolos”?
Marco Camargo -
Os que ganharam, pois acho que todos que venceram mereciam. O programa se chama “Ìdolos”, não “A Melhor Voz do Brasil”, as pessoas confundem isso. Tem muita gente que canta muito, mas não tem carisma e não vai virar sucesso jamais. Para o candidato a ídolo, cantar é obrigação. O primeiro colocado pode não cantar tão bem como aquele que ficou em segundo, terceiro, mas ele tem outros ingredientes que levaram milhões de pessoas a votar nele para vencer. Tivemos artistas maravilhosos, com a Nisi (edição de 2010), o Diego Moraes (edição 2009), o Rafael Bernardo (edição 2008), eram pessoas que tinham o timbre diferente, uma personalidade artística aguçada e eram bons artistas. Eles estão aí se apresentando. Não torço para ninguém. Na verdade eu torço quando vejo aquela pessoa que não tem a menor condição, aí eu torço para ela sair. Tem muita coisa ali que eu vejo e é uma mentira. Mas nesses quatro anos, todos os que eu disse que estavam fingindo caíram, nenhum ficou. Estou feliz com a minha atuação ali, pois eu nasci com o gosto popular. Não vejo nada errado em ser popular, pois é falar com a maioria. Eu sou produtor, compositor, mexo com música e se não falasse com a maioria estaria morto.

UOL - Quais seus ídolos na música?
Marco Camargo -
Nacionalmente, o Roberto Carlos. Tudo o que ele faz agrada, as letras têm coerência. Eu tive o prazer de produzi-lo e vi que tudo aquilo é merecedor. Ele é um cara altamente detalhista. Eu já era fã do Roberto e depois de trabalhar junto fiquei muito mais. Internacionalmente, eu gosto do Elton John, pois tenho o piano como meu instrumento de origem, componho em cima do piano. Elton canta muito bem, gosto dele.

  • Luiza Sigulem/UOL

    "O mundo trata melhor quem se veste bem", afirma Marco Camargo, que revela seu lado vaidoso (29/6/11)

UOL – Você é assediado nas ruas?
Marco Camargo -
Sim. Tenho muitos fãs, graças a Deus. Fui notando essa popularidade aumentar nos últimos quatro anos. Não tem nenhum lugar que eu vá hoje e as pessoas não peçam para tirar foto, abraçar ou cantam para mim.

UOL - Você é vaidoso?
Marco Camargo -
Sim. Não fiz nenhum tratamento estético, mas não tenho preconceito. Se precisasse fazer, faria. Tenho medo de injeção gratuita e eu sou feliz com o meu formato (risos). Procuro ter uma alimentação saudável, caminho todos os dias. Adoro perfumes, relógios, me vestir bem e combinar as peças de roupas com os acessórios. Isso é natural em uma pessoa que se gosta. O mundo trata melhor quem se veste bem.

 

 

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