O ator Antonio Calloni (18/9/2010)
Quando surgiu o convite para atuar em "Escrito nas Estrelas", Antônio Calloni sentiu que o papel merecia uma composição mais elaborada. Por isso, o ator começou a pesquisar os assuntos que faziam parte da vida do personagem: a medicina e a religião. Na trama, escrita por Elizabeth Jhin, o ator dá vida ao espiritualizado médico Vicente, um especialista em reprodução humana. "Hoje em dia a gente sabe um pouco de tudo. Já tinha um certo embasamento religioso, mas precisava ir além na questão da fertilização. Conversei com médicos e estudei o processo", relata o ator, que frequentou o hospital Copa D'Or, no Rio de Janeiro, para complementar a criação do personagem. A novela entrou em sua reta final e Calloni, apesar de algumas dificuldades, se mostra satisfeito com o resultado. "Vicente é um personagem difícil. Pois, não é do tipo espetaculoso ou que tenha cenas grandiosas. Tive que trabalhar com a sutileza e com o drama interno que ele carrega", explica.
Em "Escrito nas Estrelas", Daniel aparece no meio de uma conversa entre Ricardo e Vicente
Na trama, Vicente guarda um segredo que pode colocar em xeque a amizade dele com Ricardo (Humberto Martins). No passado, Vicente teve um caso de amor com a mulher do melhor amigo, Francisca (Cássia Kiss). Além disso, após uma sessão de regressão, o médico descobre que é o verdadeiro pai de Daniel (Jayme Matarazzo). "A revelação muda muita coisa em relação a vários personagens da trama", garante.
O folhetim de temática espírita marcou a volta deste paulistano de 49 anos ao horário das seis, --a última novela na faixa foi "Era Uma Vez...", de 1998. Para Calloni, os bons números da trama no ibope comprovam que o êxito de uma novela é diretamente ligado à qualidade da história. "O que acontece em "Escrito nas Estrelas", deveria acontecer em todas as novelas e seriados. A grande estrela é o texto. Os atores e a produção trabalham em função dele. A gente percebe a repercussão da história que está sendo contada", avalia.
A trama principal de "Escrito nas Estrelas" é centrada na religião espírita. Você se identifica com a doutrina?
Não sigo nenhuma religião, mas sou um curioso no assunto. Tenho formação católica, mas minha mãe era médium, então conheço bastante do
universo kardecista. Além disso, fiz treinamento de médiuns e já frequentei sessões de candomblé. Penso bastante sobre religião e participar da novela foi uma possibilidade de discutir a questão da fé e da ciência, em como e até onde as crenças podem, ou não, andar juntas.
Na pele de um personagem que está inserido em uma trama dramática, é possível não se envolver com os dilemas do Vicente?
Quando faço um persongem sempre acontece uma mistura do meu momento pessoal atual com o do personagem. Faz parte do jogo do ator. No início achava que ao sair do estúdio, eu deixava o personagem lá, mas não é bem assim. São nove meses de trabalho, carregando um pouco
do papel no nosso cotidiano e nas nossas emoções. Para mim, as coisas funcionam assim.
Em "Caminho das Índias", você era o inescrupuloso César e agora está interpretando um personagem mais leve e de bom caráter. Você gosta mais de fazer o vilão ou o bonzinho?
Não tenho uma preferência. Gosto de personagens bem escritos. O Vicente é contido, discreto e batalhador. Totalmente diferente do César, que
era exuberante, para fora. Enquanto com o papel anterior eu estava sempre um tom acima, agora é a oportunidade de exercitar uma abordagem delicada e sutil. Foi exatamente isso que me atraiu quando fui convidado. Com papéis desse tipo, a sensação de vitória é bem maior e prazerosa.
A televisão tende a limitar o ator a fazer o mesmo tipo de personagem. Você tem alguma tática para fugir desta padronização?
É uma postura minha. Acho um barato fazer tipos diferentes, mas a única coisa que faço é procurar bons personagens. Nunca tive preocupação com o tamanho do papel, mas sim com a qualidade deles. Porém, faço questão é de mostrar o meu trabalho. Já recusei alguns papéis por sentir que não iria contribuir para a trama. Não adianta trabalhar sem gostar, sem sentir prazer.
(Por Geraldo Bessa)