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12/05/2010 - 12h40

Fecham-se as cortinas de "Lost"; produtores falam do verdadeiro significado da série

Ian Spelling
The New York Times Syndicate

Adam Larkey/ABC

Os produtores de "Lost", Damon Lindelof (à esq.) e Carlton Cuse

OK, fãs de “Lost”, tudo levou a isto: “Lost” partirá na direção do pôr-do-sol em 23 de maio, com um episódio final de duas horas e meia chamado “The End” (O Fim).

E o que veremos?

O produtor executivo e responsável pela série, Carlton Cuse, se mantém previsivelmente nebuloso.

ALERTA: SE VOCÊ É CONTRA 'SPOILER' -TEXTO QUE REVELA FATOS CRUCIAIS DE UMA OBRA -, NÃO SIGA EM FRENTE.

“De uma forma resumida, com ‘Lost’ se aproximando do final, qual será o destino dos personagens que acompanhamos na série?", provoca Cuse.

A sexta e última temporada da série da ABC tem sido uma viagem lisérgica viciante, um feito notável para uma série que começou reescrevendo o livro do que é alucinante. O Monstro de Fumaça/Homem de Preto assumiu a forma de Locke (Terry O’Quinn). Claire (Emilie de Ravin) retornou, inicialmente maluca. Sun (Yunjin Kim) e Jin (Daniel Dae Kim) finalmente se reencontraram, apenas para se afogarem juntos, de mãos dadas, no naufrágio de um submarino –e Sayid (Naveen Andrews) pereceu, heroicamente, na mesma hora.

Enquanto isso, em uma realidade alternativa, Jack (Matthew Fox) tem lutado para se conectar ao seu filho adolescente. E, é claro, alguém precisa ser escolhido para substituir Jacob (Mark Pellegrino) como guardião da ilha favorita de todos.

“Nós queríamos criar um senso de circularidade, de modo que queríamos que a última temporada se parecesse com a primeira”, diz Cuse, falando por telefone de seu escritório em Los Angeles, uma semana depois de retornar do Havaí após concluir a fotografia principal de “Lost”. “Nós tentamos conceber uma ideia que deixasse a última temporada bastante focada nos personagens.”

“O que consideramos bacana a respeito da primeira temporada é que tínhamos esses flashbacks onde descobríamos a respeito das pessoas que estavam na ilha –que Sawyer (Josh Holloway) era um vigarista, Kate (Evangeline Lilly) era uma fugitiva, Hurley (Jorge Garcia) era um ganhador da loteria. Aquelas eram respostas bacanas e reveladoras para o público. Neste ano nós pensamos nos ‘flashs paralelos’ como forma de reexplorar os personagens, de nos aprofundarmos um pouco mais neles. Nós tivemos visitas de alguns personagens que as pessoas amavam, como Charlie (Dominic Monaghan), e há mais disso no final.”

  • Mario Perez/ABC

    À esquerda, a atriz Evangeline Lilly, a Kate, em cena de "Lost" (2010)

“Há uma sensação de que a jornada está formando um círculo completo na temporada final”, diz Cuse, “e nós gostamos disso, porque no final a série é a respeito dessas pessoas que caíram na ilha. O verdadeiro mistério de ‘Lost’ não era ‘Onde eles estão?’ É ‘Quem são essas pessoas?’ E, no final, é onde a história nos levará.”

Quem também participou do telefonema foi o co-produtor executivo e condutor da série, Damon Lindelof, que explica que abordaram o final da mesma forma que abordaram quase todos os outros episódios: buscando provocar uma experiência emocional nos espectadores, tanto os fãs quanto aqueles que assistem ocasionalmente.

“Às vezes provocar essa experiência emocional significa mergulhar na mitologia da ilha, responder perguntas e fazer novas que levem ao mistério da série”, diz Lindelof. “Mas na maior parte do tempo nós tentamos criar uma experiência emocional por meio dos personagens que repercutirá entre as pessoas que assistem a série, e isso independente da trama fazer sentido ou não para você.”

“Logo, eu acho que todos nós, de Carlton e eu até todos os outros roteiristas e Jack Bender, que dirigiu o episódio final, abordamos desta forma: ‘O que queremos que sintam as pessoas que assistiram aos 120 episódios da série antes deste?’”, ele diz. “‘Quando tudo estiver encerrado, o que queremos que elas sintam?’ Nós não pensamos nisto em termos de pontas soltas do enredo que precisamos tratar e de mistérios que precisamos responder. Trata-se de provocar uma sensação.”

“Quando pensamos em finais de série, seja Bob Newhart acordando ao lado de Suzanne Pleshette ou o helicóptero decolando em ‘M.A.S.H.’, o garoto segurando o globo de neve ou o grupo de ‘Seinfeld’ sentado na prisão, ou mais recentemente o corte abrupto em ‘Família Soprano’”, prossegue Lindelof, “tudo o que as pessoas se recordam é da última cena. Elas nem mesmo se recordam do que se tratava o episódio”.

“De novo, para nós, foi ‘vamos dar ao público uma experiência emocional que, com sorte, reflita a forma como nós a sentimos escrevendo e os atores sentiram interpretando”, ele conclui. “É tudo o que poderíamos esperar, porque nos percebemos desde cedo que não havia como respondermos todas as perguntas que fizemos durante a série de uma forma que agradasse todos os espectadores. Nós só poderíamos tentar.”

Com o fim de “Lost”, é hora de olhar para trás. Na verdade, é o momento perfeito para realizar um jogo com Cuse e Lindelof: se estivessem presos em uma ilha deserta e fossem obrigados a assistir três episódios de ‘Lost’ em um loop infinito, quais três resistiriam melhor e por quê?

“Eu diria ‘A Constante’, o episódio da viagem da consciência de Desmond”, responde Cuse. “Eu diria que o final da primeira temporada (‘Êxodo, parte 1 e 2’), que envolveu o lançamento da jangada e todo o mistério em torno do que havia por trás da escotilha.”

“Eu não quero escolher três e deixar Damon sem nada”, ele diz, fazendo uma pausa. “Esses foram dois grandes. Damon, por que você escolhe os seus e então eu acrescento mais um no final”, ri Lindelof.

“Eu incluiria ‘Walkabout’ aí”, ele diz, “apenas porque sinto que foi um episódio (centrado em Locke) onde a trama da ilha e a do flashback realmente se encaixaram bem. O final da 3ª temporada (‘Através do Espelho’) –onde Charlie morre, que foi um dos momentos emocionalmente mais devastadores na série como um todo, e quando, no final, nós apresentamos os flash-forwards.”

“Esse foi outro artifício narrativo onde o público sentiu que estava assistindo uma coisa, mas quando acabou ele percebeu que estava assistindo algo completamente diferente”, diz Lindelof. “Foi uma espécie de novo piloto. Nós sabíamos que tínhamos uma data final e sentíamos que era hora de reinventar a série de novo.”

Cuse interrompe, pronto com seu terceiro episódio.

“Eu também escolheria o episódio final”, ele diz. “Ele ainda não está finalizado, nós ainda estamos trabalhando nele, mas nós o apoiamos. Ele certamente provocará muita discussão. Eu não acho que seria possível não incluir o episódio final na lista de episódios obrigatórios."

Lindelof então revela sua terceira escolha surpresa: “Exposé”, um impopular episódio da terceira temporada redimido apenas pelo fato dos personagens muito desprezados Nikki (Kiele Sanchez) e Paulo (Rodrigo Santoro) terem sido removidos da série de uma forma memorável, enterrados vivos involuntariamente por Sawyer e Hurley.

“É preciso rir em uma ilha deserta”, diz Lindelof, explicando sua escolha. “Eu acho que a série não teve medo de admitir seus erros. Eddie (Kitsis) e Adam (Horowitz), que escreveram aquele episódio, são os caras engraçados em nossa redação, e consideramos uma boa ideia o fato da série nem sempre precisar ser tão séria para funcionar.”

“Essa é uma boa seleção de episódios.”

(Ian Spelling é um jornalista free lance de Nova York.)

Tradução: George El Khouri Andolfato

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