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11/01/2010 - 21h18

"Tempos Modernos" mostra um centro de SP muito maquiado

MAURICIO STYCER
Crítico do UOL
  • Divulgação/TVGlobo

    Regeane Cordeiro (Vivianne Pasmanter), Leal Cordeiro (Antônio Fagundes),Goretti Cordeiro (Regiane Alves) e Dr. Bodanski (Otávio Müller) cena de de "Tempos Modernos"

Primeiro capítulo de novela costuma funcionar como cartão de visitas e carta de intenções. A julgar pelo que mostrou “Tempos Modernos” em sua estreia, a nova novela das 7 dispõe de um personagem espetacular em seu elenco –o degradado centro de São Paulo–, mas as primeiras cenas deixaram no ar a dúvida se Bosco Brasil, o autor, está disposto, de fato, a explorar toda a complexidade desta região da cidade.
 

A ação da novela gira em torno do empreendedor imobiliário Leal, vivido pelo sempre carismático Antonio Fagundes, e dos personagens que transitam pelo “edifício inteligente” Titã, construído no centro. O conflito que se desenhou desde as primeiras cenas diz respeito ao plano de construir uma segunda torre, o Titã 2, no lugar onde funciona um centro comercial, repleto de lojas especializadas em artigos musicais.
 

Claramente, Bosco Brasil rende aqui uma homenagem à chamada Galeria do Rock –um edifício verdadeiro, que concentra um grande número de lojas de discos e CDs, e que pode ser visto, ao olhos dos especuladores imobiliários, como símbolo do “atraso”. Em protesto contra os planos de Leal, lojistas com figurino de “hippie velho”, liderados pelo “tiozinho” Leonardo Medeiros, organizam uma manifestação, que conta com o apoio de uma das filhas do empreendedor.
 

Pelo pouco que foi possível ver, o centro de São Paulo surgiu em “Tempos Modernos” retocado pelos efeitos da computação gráfica. Não percebi, nas cenas externas, a presença de nenhum mendigo, camelô ou “noia”, como são chamados os usuários de crack que vagam pela região feito zumbis.
 

“Tempos Modernos” é uma comédia (ao que tudo indica de qualidade) e não tem compromisso com a realidade, mas será lamentável se utilizar o centro de São Paulo como cenário apenas com o objetivo de vender uma ideia que até agora está mais para sonho do que realidade: o projeto de revitalização da região. Se maquiar os problemas do centro, a novela perderá uma ótima oportunidade de, mesmo fazendo rir, discutir um assunto que, no fundo, diz respeito a todo mundo que mora em grandes cidades.
 

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