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23/11/2009 - 08h04

Nova versão da série "O Prisioneiro" não empolga após quatro décadas

ANA MARIA BAHIANA
Especial para o UOL, de Los Angeles
Como se transforma uma série cult de 17 horas em uma minissérie de seis? A julgar pelos resultados da nova versão de "O Prisioneiro", a resposta deve ser: confusamente.
  • Divulgação/AMC

    Os atores Ruth Wilson e Jim Caviezel no remake da série "O Prisioneiro"


Em 1967, quando Patrick McGoohan escreveu, produziu e estrelou "O Prisioneiro" na BCC, os tempos eram outros: a paranóia da guerra fria chocava-se de frente com a efervescência da contracultura e dos movimentos pelos direitos civis de mulheres e minorias, e a TV abria, aos poucos, espaço para um tipo de fantasia especulativa que ia além da ficção científica para se tornar, à falta de um nome melhor, ficção filosófica. Com sua proposta nebulosa - um agente secreto demite-se e, no dia seguinte, é sequestrado para a Vila, um lugar agradável, mas opressivo, onde todos têm números em vez de nomes e ninguém pode sair - e seu visual ousado, noir/psicodélico, "O Prisioneiro" alinhava-se a séries como "Além da Imaginação", "Jornada nas Estrelas" e "Os Invasores" numa safra que abria novos caminhos na ficção para a tela pequena. Sucessos atuais como "Lost", "Fringe" e "Battlestar Gallactica" não seriam possíveis sem estes antepassados.

E este é, em parte, o problema: 42 anos se passaram, e as novas platéias estão completamente acostumadas (saturadas, até) com ideias que eram novidade nos anos 1960, como mundos paralelos, deslocamentos tempo/espaço, identidades clonadas. E nem sempre é possível transformar em grande novidade algo que já era novo quatro décadas atrás.

O novo "O Prisioneiro" é uma co-produção do canal norte-americano AMC (o mesmo responsável pelo sucesso "Mad Men") e a BBC, e estreou nos EUA numa sequência de três dias, de 15 a 17 de novembro. Jim Caviezel, com a mesma persona torturada de seu Cristo, é o novo Seis, vivido por McGoohan na série original, e Ian McKellen é Dois, o suavemente sinistro "prefeito" da Vila/prisão, interpretado por atores diferentes nos 17 episódios de 1967. Os valores de produção são altos - a série foi filmada na África do Sul e na Namíbia, cujos desertos serviram de ambiente para a nova Vila. Mas comprimir 17 horas de ação surreal em seis horas corridas, repletas de cortes que fazem menos sentido que a trama já complicada é pedir para o espectador mudar de canal e ir ver "Fringe".

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