Ariane e Christine são nomes que têm muito em comum. Ambos são variações latinas de substantivos de origem grega, além de terem relação com o divino: o primeiro significa "ungida pelo Senhor", enquanto o segundo batiza "a mais sagrada". Coincidências que se somam às características que aproximam Christine Fernandes e Ariane, médica à qual a atriz interpreta em
"Viver a Vida".
"Acho que acabo emprestando um pouco do meu temperamento para ela. Tenho, talvez, uma certa doçura. Também tenho outras coisas péssimas, mas no pacote tem um componente doce e eu acho que o Manoel Carlos percebe isso", brinca, entre risadas. O resultado disso é que a abordagem do público à atriz tem sido positiva - com a exceção à cobrança de que a personagem passe mais tempo com Gabriel, filho vivido por Caio Manhente. "Só que o conflito dela é exatamente esse, o da mulher moderna que concilia carreira e filhos. É difícil, principalmente em um trabalho que exaure emocionalmente e fisicamente, como o dela", explica.
Cirurgiã especializada em casos de câncer, Ariane representa uma área ainda pouco conhecida da medicina: a de Cuidados Paliativos, ou Paliativismo. Originário dos hospices - palavra que define as casa onde são atendidos pacientes fora dos recursos de cura - coordenados por ordens religiosas na Europa há vários séculos, o trabalho consiste em diminuir o sofrimento de pacientes com doenças incuráveis. "Fiquei muito encantada com o que vi. Porque o médico tem como ambição salvar vidas e, para quem não conhece, o paliativismo parece ser uma barra muito pesada", reconhece Christine, que se preparou para o trabalho frequentando o HC IV, unidade do Instituto Nacional do Câncer que faz atendimento paliativo no Rio de Janeiro. "Mas, a medida que fui conhecendo o trabalho, vi que era o oposto disso: as pessoas que atuam nessa área são leves e têm um astral maravilhoso. Quando você sabe que está fazendo o bem para o outro, de alguma forma isso reflete em você", defende.
Na novela, porém, as coisas não são tão simples assim. Viúva, a médica se descobriu em uma "sinuca de bico" diante do interesse despertado nela por Léo - interpretado por Leonardo Machado, ele é marido de Marta, vivida por Gisela Reimnn e uma das pacientes de Ariane. "Acredito que é algo que acontece. A gente pode se apaixonar pelas pessoas erradas, na hora errada. Mas não acho que ela seja canalha ou antiética. Se esse romance realmente acontecer, será uma coisa impossível de resistir", justifica. Apesar de ser bastante comentado, inclusive pelo público que a aborda nas ruas, o assunto ainda é tratado por Christine com discrição. "O que já existe entre os personagens, até agora, é um desconforto. Mas o quanto e como esse romance vai crescer, eu ainda não sei", esclarece.
A prudência ao tratar do futuro não é à toa.
"Viver a Vida" marca a terceira dobradinha entre a atriz e Manoel Carlos. A primeira foi "História de Amor" - estreia de Christine no veículo. Em 2006, ela voltou a interpretar um personagem do autor como a moderna Simone de "Páginas da Vida". E, enquanto ainda estava fazendo "A Favorita", de João Emanuel Carneiro, soube que estava reservada para o atual trabalho.
"O que gosto no Manoel Carlos é que ele sempre me traz estofo artístico. Quando ele me dá um personagem, sempre me envia um poema, ou um livro. Eu vou me enriquecendo como artista", enfatiza. O tom carinhoso não muda nem mesmo diante da "quedinha" do autor por entregar capítulos com pouquíssima antecedência, algo que costuma embaralhar a agenda pessoal dos atores. "Não tenho crise com isso porque decoro fácil. A maior dificuldade é não dar conta de coisas básicas do meu dia a dia, como levar meu filho ao médico. Mas, ao mesmo tempo, temos um texto legal, uma trama que é emocionante. É uma concessão que se faz", relativiza.
(por Louise Araujo)
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