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24/01/2009 - 05h22

Márcio Garcia confessa preconceitos e diz que Bahuan é seu papel "mais complexo"

PopTevê
Quando viajou para Mumbai, na Índia, em outubro do ano passado, Márcio Garcia sentiu um misto de surpresa e apreensão. O ator, que na época gravava as primeiras cenas de Bahuan, seu personagem em "Caminho das Índias", ficou espantado com a diversidade da população - que tem contrastantes diferenças sociais. Nada mais previsível. O pior foi o medo. De comer - os alimentos lá são bastante apimentados -, de andar no caótico trânsito e, principalmente, de manter um velho hábito: fotografar e filmar tudo ao redor.

"Eu me agarrava à câmara achando que alguém ia roubar. Mas relaxei quando vi que, se seu dinheiro cai no chão, eles te devolvem. Acham que pegar o que é dos outros dá azar. Lá a preocupação é individual, de cada um com seu deus", conta. Por aí, dá para perceber que, ao mergulhar no universo indiano, o ator de 38 anos teve que despir-se de velhos preconceitos. "Eles têm um olhar diferente. Nas palestras eu sempre questionava o porquê das diferenças entre as castas. Aprendi que, pela cultura, eles têm de aceitar seu carma, senão voltam ainda mais impuros nas próximas encarnações", ensina.

MÁRCIO GARCIA VIVE SEU PRIMEIRO PROTAGONISTA EM "CAMINHO DAS ÍNDIAS"

  • Luiza Dantas/ CZN

    Para o ator, Bahuan é o personagem mais complexo de sua carreira

E o carma de Bahuan - ser um intocável - é um dos mais "pesados" da cultura oriental. Considerados "a poeira aos pés do deus Brahma", eles não podem sequer tocar com sua sombra alguém de castas superiores. É esse conflito que o personagem enfrenta ao se apaixonar por Maya, vivida por Juliana Paes. Os dois se conhecem num templo e, a partir de então, passam a se encontrar às escondidas na esperança de que os pais da moça aprovem seu casamento.

O problema é que nem Maya e muito menos sua família conhecem a verdadeira origem do rapaz. Ou seja: muitas lágrimas devem rolar até que tudo se resolva. "Ele é um pária na sociedade, só pode lidar com mortos e fezes. E se a mulher se relacionar com um intocável, é uma lástima", diz.

Para mergulhar em uma cultura tão distinta, além de conhecer o país, Márcio assistiu a palestras durante o "workshop" para a trama e a filmes como "Casamento à Indiana", de Mira Nair. Aprendeu também os rituais, as danças, a forma de se vestir e os hábitos. "Eles comem com a mão direita e se limpam com a esquerda. Mas para eles é melhor limpar com a mão e água do que com o papel, como nós. É só eliminar o que temos de informação e abrir os olhos para a coisa", diverte-se.

Falante e brincalhão, ele conta que também tem de "domar" seu jeito extrovertido para assumir a postura séria e contida de Bahuan. "É o personagem mais complexo que já fiz", avalia. Já aprofundar-se em outra religião foi a parte mais interessante. Católico, o ator garante que este é um assunto que sempre o fascinou. "Eu sou batizado, mas navego em outras religiões, leio muito. Não frequento templo e igreja, mas sou do bem, procuro fazer o que é certo", afirma.

Bahuan é o primeiro protagonista de Márcio em seus 15 anos de carreira. Depois de estrear na Globo em "Tropicaliente", de 1994, ele atuou em tramas como "Anjo Mau" e "Malhação". Mas seu personagem de maior destaque até então foi, sem dúvida, o Marcos de "Celebridade", vilão que aprontava todas ao lado de Laura, vivida por Cláudia Abreu. Já o convite de Glória Perez e Marcos Schechtman calhou com o término de seu contrato com a Record, emissora onde ele trabalhou por quatro anos. Lá, ele participou de algumas novelas - "Prova de Amor" e "Vidas Opostas" - e apresentou o programa de variedades "O Melhor do Brasil", atualmente comandado por Rodrigo Faro. Contratado da Globo pelos próximos seis anos, ele, é claro, não descarta a possibilidade de voltar a apresentar um programa, mas jura que a interpretação já lhe basta.

"Sempre gosto mais do que estou fazendo no momento. Estava com saudade de atuar", confessa. Sobre a antiga emissora, ele é só elogios, mas se diz feliz na "nova velha casa", deixando escapar um pouco do que absorveu da cultura oriental para definir sua volta. "Foi o momento certo, uma feliz coincidência. Mas coincidência não existe.
Então, foi o destino", encerra, aos risos.

(Por Fabíola Tavernard)
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