UOL Entretenimento Televisão

09/12/2008 - 00h01

"Capitu" moderniza Machado de Assis com tatuagem, rock e capítulos de RS 1 milhão

PopTevê
A partir desta terça (09), Capitu, enigmática personagem da obra de Machado de Assis, vai aparecer toda tatuada na série homônima da Globo. Como se isso não bastasse, todos os momentos da personagem serão embalados por uma mistura de rock pesado e de música clássica. O escolhido para realizar tal proeza é o polêmico diretor Luiz Fernando Carvalho, que se baseou no romance "Dom Casmurro" para criar uma Capitu moderna. "Quero desconstruir a imagem de que a literatura de Machado é sisuda. Ela é atual, moderna, atemporal", diz Carvalho, referindo-se à segunda série do projeto "Quadrante", que tem como objetivo retratar regiões brasileiras através de obras literária transformadas para a tevê.



Escrito por Euclydes Marinho e com texto final do próprio Carvalho, "Capitu" é fiel à obra de Machado - tanto na forma como no conteúdo. É o que garante Carvalho. "Não fiz nada com o Machado no sentido de amortizar. Tudo o que se vê no livro são palavras dele e elas estão na minissérie", assegura o diretor, que, assim como na primeira série do projeto "Quadrante", "A Pedra do Reino", baseada na obra de Ariano Suassuna, optou por trabalhar com rostos desconhecidos do grande público. A exceção fica por conta de Maria Fernanda Cândido, que interpreta Capitu na fase adulta, e Eliane Giardini, que dá vida à Dona Glória, mãe de Bentinho. "A impressão que tenho de 'Capitu' é que ensaiei como teatro, filmei como longa e vai passar na tevê", conta Giardini sobre a sua participação na produção.

Na série, que terá cinco capítulos e irá ao ar na faixa das 23 h, Carvalho adianta que vai manter a dúvida sobre a traição de Capitu e ainda a contextualizará ao processo cultural da atualidade. Não à toa, o diretor escolheu o rock como o ritmo principal da trilha sonora da minissérie. "Usei o rock porque gosto do ritmo e no desejo de fazer com que Machado fosse entendido não como um velhinho da Academia Brasileira de Letras, mas como um criador da alma humana", filosofa ele, que optou pelas bandas de rock internacionais Beirut e Black Sabbath, entre outras, para embalar a série.

Para ambientar a produção, Carvalho escolheu o Automóvel Club do Brasil, um palácio do século 19 localizado no centro do Rio de Janeiro, e que hoje está abandonado. Lá, foram encenados quase todos os atos de "Capitu". O local escolhido, segundo o diretor, deu um tom operístico à série. "O Automóvel passou a representar um pouco da alma da história de Dom Casmurro, se não um pouco da própria visão machadiana", acredita Carvalho, que deu ao ator Michel Melamed a tarefa de incorporar Dom Casmurro, um Bento Santiago que tenta unir as duas pontas de sua vida: a juventude e a velhice. "Gravar a série foi como a obra é, com muitas facetas, mas essencialmente transformadora e apaixonante", opina Melamed.

Através das lembranças em primeira pessoa desse narrador, a série é contada em duas fases. A primeira foca no amor romântico vivido pelos dois adolescentes, Bentinho (César Cardadeiro) e Capitolina (Letícia Persiles). Já a segunda retrata a imaginação corroída pelo ciúme que Bento Santiago (Michel Melamed) passa a sentir de sua mulher Capitu (Maria Fernanda Cândido) e seu melhor amigo Escobar (Pierre Baitelli). "A série respeita Machado no sentido de que o Luiz fez realmente um grande tratado sobre a dúvida", adianta Maria Fernanda.

Apesar do custo por capítulo de R$ 1 milhão, a série conta com pouquíssimos recursos cênicos. O chão, por exemplo, foi pintado de preto, como no filme "Dogville", de Lars Von Trier. É nela que o quintal e o muro que separa as casas de Bentinho e Capitu foram desenhados em giz. Apesar de tantas ousadias e, principalmente, da baixa audiência de "A Pedra do Reino", Carvalho não se preocupa com o ibope de "Capitu". "Se me deixar levar pelo Ibope estarei mudando meu ponto de vista. Se cair nessa, não faço nada", defende o diretor.

Quem é quem em "Capitu"

Dom Casmurro (Michel Melamed) - É o narrador da história. Tenta unir as duas pontas de sua vida, restaurando na velhice os momentos líricos de sua juventude. É um Bento Santiago sábio e melancólico.

Bento (César Cardadeiro/Michel Melamed) - Filho da elite brasileira do Século XIX, nasceu por um milagre de Deus. Perdeu o pai ainda pequeno e cresceu debaixo da saia da mãe superprotetora. Leva uma vida para lá de confortável e, por ter sido muito mimado, não aprendeu a conquistar nada. Apesar de ter muitas idéias, não tem coragem de colocá-las em prática. Ao sair do seminário, muda-se para São Paulo, onde forma-se em Direito e casa-se com Capitu, o grande amor de sua infância.

Capitu (Letícia Persiles/Maria Fernanda Cândido) - Sempre teve os olhos expressivos, uma mistura de menina e mulher. Aos 14 anos, parece ter 17. É bem mais madura do que Bentinho. Morena, olhos claros e grandes, usa os cabelos grossos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra. Dom Casmurro diz que seus olhos trazem um fluido misterioso e energético, uma força que arrasta para dentro, "como a vaga que se retira da praia nos dias de ressaca". Livre como uma cigana, saiu cedo do casulo para assumir sua forma de mulher. Maliciosa, transformou-se em mulher nos anos em que esperou Bentinho.

Escobar (Pierre Baitelli) - Esbelto e de olhos claros, é um rapaz que não olha de frente, não fala claro. O sorriso é instantâneo, mas ao mesmo tempo folgado e largo. Mais velho três anos que Bentinho, a quem conhece no seminário, é filho de um advogado de Curitiba e aparentado com um comerciante do Rio, que é um homem de fortes sentimentos católicos. Quando deixa o seminário, torna-se comerciante e se casa com Sancha (Bellatrix), amiga de infância de Capitu e filha de Gurgel (Thelmo Fernandes).

Dona Glória (Eliane Giardini) - Mãe de Bentinho. Ficou viúva aos 31 anos. Apesar de poder voltar à fazenda de Itaguaí, preferiu ficar no Rio, perto da igreja onde o marido foi sepultado. Depois de vender as fazendas e os escravos, comprou outros na cidade, além de uma dúzia de prédios, e passou a morar na casa de Matacavalos. Aos 42, mantém-se bonita e jovem.

José Dias (Antônio Karnewale) - Agregado da família de Dona Glória desde que Bentinho nasceu. Apareceu na fazenda vendendo-se por homeopata e acabou ficando. Com exageros de mãe e atenção de servo, zela pelos estudos e pela higiene de Bentinho.

Prima Justina (Rita Êlmor) - Vive de favor com Dona Glória, mas também por interesse da matriarca, que quer ter ao pé de si uma pessoa íntima. Magra e pálida, com a boca fina e os olhos curiosos, diz francamente tudo o que pensa.

Tio Cosme (Sandro Christopher) - Advogado, vive com a irmã, Dona Glória, desde que ela ficou viúva. Sem amor, cumpre as obrigações do ofício.

Pádua (Charles Fricks) - Casado com Fortunata (Izabela Bicalho) e pai de Capitu, é empregado de uma repartição. Certo dia substituiu o administrador da seção e passou a ganhar os respectivos honorários. Viveu 22 meses atirando-se a despesas supérfluas. E entrou em desespero quando teve de devolver o cargo.

Padre Cabral (Emílio Pitta) - É quem ensina latim, a doutrina histórica e sagrada da Igreja Católica a Bentinho. Velho amigo de Tio Cosme, costuma freqüentar a casa de Dona Glória.

(Por Carla Neves)
Comente essa e outras notícias no Fórum UOL Televisão

Compartilhe:

    Hospedagem: UOL Host