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11/12/2006 - 21h14

Bate-papo UOL: Jornalista discute o sucesso dos seriados de TV

da Redação
O jornalista Cássio Starling Carlos conversou com os internautas sobre a evolução das séries de TVs norte-americanas e do sucesso que elas fazem no Brasil.

Starling lançou o livro "Em Tempo Real",da editora Alameda, em que analisa a trajetória, a sofisticação das produções e a ousadia das narrativas dos seriados. "Escrevo sobre cinema há muito anos e, a acerta altura, começou a me inquietar o fato de todos os meus amigos comentarem quase só sobre séries e eu não saber do que se tratava", conta o jornalista.

Por que algumas das séries conseguem durar tanto tempo? Como elas influenciam no comportamento da sociedade? O atentado de 11 de setembro modificou as estruturas das séries?

Leia a seguir a íntegra do Bate-Papo com Cássio Starling Carlos, que contou com 477 internautas.

Cássio Starling: Boa noite. Podemos começar!

Paulo Almeida fala para Cássio Starling: O que você acha o seriado "Prison Break"? Aqui no Brasil só teve a primeira temporada.
Cássio Starling: Paulo Almeida, O "Prison Break" segue um ritmo aberto pelo "24 Horas", do thriller constante e as reviravoltas. É um seriado interessante.

cih fala para Cássio Starling: Por que você acha que o seriado "The O.C." sofreu queda de audiência?
Cássio Starling : cih, eu não acompanhei o "O.C" a ponto de poder detectar quebras na audiência, mas o formato está sempre sujeito à descontinuidade, sobretudo porque a concorrência é cada vez mais acirrada.

Sensuy pergunta para Cássio Starling: Cássio, a Band está com a série "Taken" de Steven Spielberg, é realmente uma série muito boa, uma série de ficção. Ela fala sobre possíveis aparecimentos de Ovnis no mundo. Você acha que o Steven acertou em criar uma série desse tipo? Você já assistiu? Qual seu comentário?
Cássio Starling: Eu vi uns quatro episódios de "Taken" e achei bastante boa. Não é só o Spielberg que investiu na fórmula. Desde os anos 80 alguns cineastas levaram para a TV idéias que não conseguiriam produzir no cinema. O Tarantino, por exemplo, dirigiu um belo episódio de CSI.

Fábio fala para Cássio Starling: Boa noite Cássio, gostaria de saber, por que os seriados brasileiros não chegam a fazer tanto sucesso como os americanos?
Cássio Starling: Fábio, a diferença maior é de escala de produção e de capacidade dramatúrgica. Aqui, os produtores conseguem no máximo desenvolver uma minissérie, como as boas "Filhos do Carnaval" e "Antônia", mas ainda estamos engatinhando nesse terreno, porque no Brasil toda a ficção televisiva acaba reduzida ao formato da telenovela.

jmelo fala para Cássio Starling: Acompanho "Lost" desde a primeira temporada e estamos vendo agora, na terceira temporada, uma queda na qualidade da série e na audiência por causa de muitos mistérios e poucas respostas. Você acha que os autores manterão esse ritmo ou irão retornar às origens da série conseguindo novamente atrair o público?
Cássio Starling: jmelo, o problema que "Lost" deve enfrentar é manter a expectativa que conseguiu abrir nas duas primeiras temporadas, mas acredito também que JJ Abrams tem talento suficiente para levar adiante a qualidade da série.

Josh fala para Cássio Starling: Como você descreveria uma série como "Gilmore Girls", que é muito bem elogiada pela crítica, mas nunca consegue uma indicação ao Emmy? Na sua opinião, onde está o problema?
Cássio Starling: Josh, de novo o argumento é a concorrência. Como "Gilmore Girls", já houve centenas de produções bacanas que nunca chegaram "lá" no Enmmy. O que não chega a ser um problema, concorda?

carola fala para Cássio Starling: Oi Cássio, li hoje na coluna do Álvaro Pereira Júnior, na Folhateen, que falava sobre a séria "A Vida em Marte", uma produção inglesa e que, apesar de parecer ótima, não deve vingar por aqui. Por que será os produtos europeus, que sempre têm um humor diferenciado, não pegam nem nos EUA, nem no Brasil?
Cássio Starling: Carola, esse é um problema de distribuição. As grandes redes a cabo daqui são filiais das "majors" americanas e desse modo as boas séries européias, sobretudo as britânicas, raramente chegam aqui ou apenas quando ganham uma versão nos EUA, como aconteceu com "The Office".

Paulo Almeida fala para Cássio Starling: Qual o seriado que vc mais gostou?
Cássio Starling: Paulo, o meu favorito da última década é "A Sete Palmos".

marcos_sp fala para Cássio Starling: Olá, acompanho "The Office" e gostaria de saber se o pequeno sucesso desta série no Brasil (comparando com "Lost" e etc.) deve-se ao fato de que a sátira principal e direcionada aos escritorios americanos?
Cássio Starling : Marcos, na versão original, britânica, "The Office" já trazia esse humor. Portanto, a razão do sucesso está mesmo na qualidade do humor e no fato de muitos de nós termos problemas com o ambiente de trabalho, com colegas, chefes etc.

Léo fala para Cássio Starling: Boa Tarde Cássio, o que você acha das inúmeras comunidades do Orkut e de blogs que disponibilizam os episódios das séries antes de irem ao ar aqui? Você acha q vale tudo pra quem é fã da série?
Cássio Starling: Léo, não vou defender pirataria, mas acho que a proliferação de comunidades e o acesso direto a episódios funciona, por outro lado, como marketing silencioso para os produtores. Você imagina o sucesso de "Lost" na Globo, por exemplo, sem o boca-a-boca que veio antes?

Sensuy pergunta para Cássio Starling: Cássio, o que podemos esperar de 2007 quanto aos seriados?
Cássio Starling: Sensuy, eu não sou especialista na programação. No livro eu busquei apontar as razões da sofisticação das séries hoje do ponto de vista histórico e da evolução do formato e da estrutura. Digo isso para esclarecer que não sou um viciado em séries e não chego a assistí-las na programação da TV por uma inadequação de ritmo. Portanto, não estou informado o suficiente para responder a sua questão.

lost_the_best fala para Cássio Starling: Cássio você teria um previsão para o seriado "Lost", muitos acham que aquilo tudo num passa de um sonho, acredita nesta hipótese você?
Cássio Starling: O segredo de "Lost" é a mistura de gêneros. Acho a série importante do ponto de vista da construção. As centenas de hipóteses que já foram levantadas servem, claro, para manter o interesse, mas acho que "Lost" e outras têm algo mais importante que só desvendar mistérios da trama.

Ricardo fala para Cássio Starling: Qual é o segredo de "Friends"? Na sua opinião, qual é o ponto principal dessa série que faz com que ela faça tanto sucesso há tanto tempo?
Cássio Starling: Ricardo, esta é uma questão que abordo no livro. Em "Friends", "Sex and the City", "A Sete Palmos", "Sopranos" e muitas outras encontramos uma espécie de espelho contemporâneo das nossas identidades pessoais. Eles servem pra gente olhar e se reconhecer ou reconhecer alguém do nosso círculo. Este é um dos principais truques dos criadores para tornar o público cativo.

Magalhães fala para Cássio Starling: Cássio, você acha que é possível esperar que a TV brasileira, consumida no mundo inteiro por causa das novelas, poderá produzir seriados com a qualidade e quantidade dos norte-americanos? Por que não exploramos isso? Ou você considera que "A Grande Família", etc são o início deste caminho?
Cássio Starling: Magalhaes, nós temos uma diferença de tradição. As poucas tentativas de produzir no Brasil algo equivalente não têm demonstrado muito fôlego porque há um bloqueio de recepção, acostumada ao modelo da telenovela. Não creio que "A Grande Família" ou "A Diarista" sejam características do formato num patamar equivalente ao alcançado nas produções americanas e britânicas.

Pat fala para Cássio Starling: Cássio, você já viu "Mother"? É uma exceção nas séries brasileiras, pois é boa, bom roteiro, e bons atores, o que você acha?
Cássio Starling: Pat, eu não vi. Consultei pessoas que a assistiram e todas fizeram críticas ao excesso de estereótipos na construção das personagens de "Mother", mas se trata de uma boa iniciativa, com produção barata, inventiva e poderia estimular outras produções independentes.

cali fala para Cássio Starling: Ola Cássio, quanto você acredita que simples séries de TV influenciam na sociedade?
Cássio Starling: Cali, as séries são antes de tudo, como os filmes já foram, um retrato, uma representação da sociedade num determinado período e local. Mas vemos também uma evidente influência comportamental, como os figurinos, os modos de agir e outros elementos que revelam, sim, uma influência sobre hábitos sociais.

www.poltrona.tv fala para Cássio Starling: Cássio, na década de 90, as sitcoms prevaleciam entre as séries mais assistidas. Já no final da década começou uma sensível queda na audiência dos seriados cômicos e o início da ascenção dos seriados dramáticos -seja dramas como "The West Wing", suspense como "24 Horas" etc. A que você atribui esta mudança? Na temporada atual, não há nenhuma nova sitcom com um estrondoso sucesso.
Cássio Starling: poltrona, esta é uma limitação da própria origem e formato das sitcoms. Elas evoluíram em conteúdo, nos anos 90, mas não em estrutura. Enquanto as dramáticas se tornaram muito complexas tematica e formalmente num período muito curto, que começou por volta de 1981, com Hill Street Blues e as invenções narrativas lançadas pelo roteirista Steven Bochco. Esta é uma das razões da diferença na audiência.

OMEdI pergunta para Cássio Starling: Você é viciado em séries ou só escreveu o livro como jornalista?
Cássio Starling: OMEdI, eu costumo dizer que o livro não é um trabalho de fã. Escrevo sobre cinema há muito anos e, a acerta altura, começou a me inquietar o fato de todos os meus amigos comentarem quase só sobre séries e eu não saber do que se tratava. Quando comecei a prestar atenção, vi que havia ali uma nítida ruptura inclusive em relação ao que o cinema americano produziu nos últimos dez anos. Peguei o assunto e mergulhei em estudos para saber se alguém já havia pesquisado. Portanto, eu não sou viciado, mas muito interessado.

Geraldo Matão/SP fala para Cássio Starling: Em "24 Horas", o mocinho Jack Bower não pensa duas vezes antes de apelar para a tortura e espancamento. Este é um novo perfil de mocinho que surge?
Cássio Starling: Geraldo, há um elemento importante em "24 Horas" e outras séries que é o grau de realismo. Sabemos que valores ideáis a essa altura já foram para ao espaço e as ações de Bauer são reflexo do próprio modo americano de agir. Ou seja, é melhor torcer "um mocinho" mais explícito do que um que nos engana a respeito de seus métodos, concorda?

Josh fala para Cássio Starling: Que parcela de responsabilidade você atribui ao 11 de Setembro pela modificação na estrutura de algumas séries?
Cássio Starling: Josh, o mais importante é como as séries refletiram o 11/9 muito antes de o cinema conseguir fazê-lo. O trauma estava gritando na cara do mundo e as séries foram um excelente canal de catarse coletiva, expondo dramas individuais e questões geo-políticas. "24 Horas" é um exemplo claro de influência. "The West Wing" também. Mas há cenas incidentais sobre o 9/11 também em "Without a Trace", em "A Sete Palmos" e deve haver em dezenas de outros títulos que desconheço.

www.poltrona.tv fala para Cássio Starling: Já que você escreveu sobre cinema e agora lançou um livro sobre séries, me diga: hoje a produção televisiva supera a cinematográfica norte-americana? Minha impressão é que sim. Hoje, quando vou ao cinema ou à locadora, dificilmente alugo algum filme com o suspense de "24 Horas", a carga dramática de "ER" ou os bons diálogos de "Gilmore Girls". Há tempos não vejo um filme criativo como "Lost" ou "Heroes". E sua opinião?
Cássio Starling: poltrona, exatamente. Não vejo no cinema americano hoje nada parecido com a ousadia no tratamento e a inventividade formal que as séries trazem.

dan_prisonbreak fala para Cássio Starling: Em "Prison Break", grandes chefes do governo americano são alguns dos vilões... Você acha que as séries tem mais liberdades do que filmes?
Cássio Starling: dan, a questão é de escala. Enquanto um filme envolve uma produção de centenas de milhões de dólares, uma série, por ser mais barata, dirigida a públicos menores e mais específicos, pode furar vários sinais, ou seja, tomar muito mais liberdades que um 'blockbuster'. E isso obviamente se reflete no modo como elas conseguem reproduzir o mundo em que estamos vivendo.

Alexa fala para Cássio Starling: Você consegue distinguir as exigências dos telespectadores brasileiros e americanos em relação as séries americanas? Pois algumas são sucesso aqui e fracasso lá, e vice-versa.
Cássio Starling: Alexa, trata-se de uma diferença de mercado e os produtores e exibidores sabem bem disso. Ao trazer um título para o mercado brasileiro eles fazem uma espécie de aposta no escuro. Nessa aposta, acabam também se esquecendo de exibir aqui produções legais, com medo de não emplacar.

LauraSalerno fala para Cássio Starling: Até em que limite as séries influenciam a vida das pessoas? Digo, realmente há casos de por exemplo, o aumento de coffe-shops depois de "Friends", a maior compulsão de sapatos depois de "Sex And The City", etc?
Cássio Starling: Laura, que eu saiba isso não consta em estatísticas. mas basta a gente conversar com amigos para verificar como as pessoas se relacionam com seus personagens favoritos e seus hábitos. Em relação aos figurinos de "Sex And The City", trata-se de uma influência forte. Mas isso acontece com qualquer produto audiovisual que se massifica. As novelas não ditam moda? As séries também.

8caa fala para Cássio Starling: Será que Lucas vai revolucionar a TV como fez com o cinema nos anos 70? O que podemos esperar de sua série? Ele vai mudar o modo de fazer séries ou vai seguir esse novo estilo corrente?
Cássio Starling: 8caa, a turma toda do cinema quando vai à TV é para ter uma liberdade que o cinema não permite. Neste, os diretores têm pouco mais de duas horas, se tanto, para resolver toda a trama. Numa série, por definição, uma história poderia durar infinitamente. Portanto, Lucas e outros não precisam revolucionar o meio pq a revolução já ocorreu, em relação ao cinema.

marcos_sp fala para Cássio Starling: Cássio, já assistiu a nova serie de James Woods chamada "Shark", sobre um advogado inescrupuloso que defendia bandidos em casos criminais e após se aposentar vira o promotor chefe de um escritório e agora irá acusar os mesmos bandidos que defendia?
Cássio Starling: Não, Marcos, ainda não vi.

TheBest fala para Cássio Starling: Como Laura afirmou, percebo que alguns médicos que conheço têm trocado o branco por inteiro por apenas um jaleco e calças jeans!
Cássio Starling: TheBest, só espero que eles não troquem de série para se inspirar na hora de vestir. Imagine se na hora de eles nos operarem eles pensarem que estão em "CSI" e não em "ER"? rsrsrs

Fábio fala para Cássio Starling: Boa noite Cássio. Você acredita que as emissoras de tevê paga de certa forma influenciam a pirataria ao levar tanto tempo para exibir no país séries que já estão passando lá fora?
Cássio Starling: Fábio, acho, sim. Mas as séries hoje são vistas de várias maneiras. Na TV paga, na Internet, na TV aberta, em caixas de DVD. Ou seja, no volume final, em vez de esse público diminuir "por causa da pirataria", ele está é aumentando.

Lobster fala para Cássio Starling: Apesar de séries como "Lost" e "24 Horas" ainda temos o sucesso de séries assemelham a novelas da sete como "Sexy And The City", isso se dá ao suspeito entendimento do expectador brasileiro? Em suma, essas séries se adequam ao público ou o contrário?
Cássio Starling: Lobster, a variedade faz parte do formato. É o que se chama de segmentação de público. A maioria da audiência americana é composta por pessoas na faixa dos 18 aos 49 anos. Imagine quantas diferenças esse recorte encobre. Por isso, é possível fazer uma série só para garotas de 19 a 25 anos, outras para mulheres acima de 30, outra para mulheres acima dos 40 e todas terem a audiência porque acertam o foco.

Heroes4ever fala para Cássio Starling: Você já viu Dexter? Se sim, o que achou. Acho que é a série mais promissora da TV a cabo americana.
Cássio Starling: Heroes4ever, promessas aparecem a cada temporada. Eu ainda não vi "Dexter" e não vou julgar. Mas imagine que Hollywood é uma usina de séries e que todo ano eles vão lançar "a" melhor e no fim da temporada outras tantas já estarão a caminho. O que acho realmente estimulante em analisar esse fenômeno é a variedade.

elenfenix pergunta para Cássio Starling: Qual foi a séria que teve alguma adpatação para o cinema que vc acha que mais prevaleceu a idéia original e ficou tão bom quanto?
Cássio Starling: elenfenix, das célebres acho que nenhuma funcionou porque os dois formatos não se dialogam. Em relação a adaptação pensada como transformação, acho muito bem sucedida a proposta do Michael Mann em "Miami Vice", talvez porque ele tenha sido um dos seus criadores nos anos 80. Em vez de simplesmente transferir de um veículo a outro, ele reinventou a história. E o resultado, no cinema, é espetacular.

Cássio Starling: Boa noite a todos e todas, obrigado pelas perguntas e, se quiserem entender mais, eu explico tudo, desde as origens nos anos 50, no livro. É bem fácil e rápido de ler.

Moderadora: O Bate-papo UOL agradece a presença do jornalista Cássio Starling e de todos os internautas. Até o próximo!
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