19/04/2006 - 21h51 "Sou advogado dos meus personagens", diz Osmar Prado; leia entrevista
ELLEN SOARES
Colaboração para o UOL, do Rio Com 48 anos de carreira, Osmar Prado criou tipos tão inesquecíveis, como o Tião Galinha da novela "Renascer" e ainda surpreende pela humanidade que empresta a suas personagens.
A voz marcante lapidada nos palcos dá um matiz especial a suas criações. É o que seve agora que o ator está na pele do todo-poderoso Barão de Araruna, no remake de "Sinhá Moça".
Ele é um dos personagens centrais da trama de Benedito Ruy Barbosa, que na primeira versão (1986), foi vivido por Rubens de Falco. Escravocrata, autoritário, o todo-poderoso fazendeiro defende seus ideais com unhas e dentes mas não é considerado um vilão pelo ator.
"O coronel Ferreira não é vilão, ele representa uma política vilã (escravagista). As pessoas são o que são, e vilão também pode ser a pessoa que defende o abolicionismo (sob o ponto de vista do barão). Acho que a gente não deve encarar dessa forma, não dá pra rotular. Até porque sempre sou advogado das minhas personagens".
Amante da poesia e da música - estudou canto lírico, Osmar falou com exclusividade para o UOL e contou um pouco de sua vida.
UOL - Como escolhe seus papéis?Osmar Prado - Não discuto veículo, discuto conteúdo. Tudo depende da proposta: leio, e se interessar eu faço. Gosto de fazer televisão, teatro e cinema. Já fiz dublagem, locução de supermercado, e onde houver possibilidade de representação, lá estarei.
UOL - Onde prefere atuar (TV, cinema ou teatro)?OP - O ator brasileiro não pode ter preferência por veículo nenhum. Ele tem que estar onde o trabalho está. Se eu fosse ator num país mais desenvolvido e culturalmente forte, provavelmente poderia escolher entre cinema, teatro ou televisão. Mas, no Brasil o ator tem que estar onde tiver trabalho.
UOL - De onde capta as emoções que representa?OP - O ator tem dentro de si tudo o que precisa. É do seu âmago que ele extrai o canalha, o virtuoso, o religioso, o ateu, o hetero, o homo, o bi e o diabo que o seja.
UOL - Drama ou comédia?OP - Não tenho preferência. Eles se equivalem e trabalham juntos. Todo o drama tem um momento de riso e toda a comédia tem um momento de drama. Acho que um bom comediante é um bom dramático, Charles Chaplin é um ótimo exemplo.
UOL- Você fez alguma preparação para viver o Barão de Araruna em "Sinhá Moça"?
OP - Não, alguns atores fizeram aulas de montaria. Mas, eu aprendi montar em 2003 quando fiz o filme "Desmundo".
UOL - O Barão é um escravagista ferrenho, mas teve um filho com uma escrava?
OP - Era comum os barões terem suas esposas em casa, serem amantes de artistas e prevaricarem com escravas - esse hábito hipócrita fazia parte da criação da época. Assim como no início da colonização a prevaricação com as índias.
UOL - Por que defende o Barão?
OP - O escravagismo não começou com o Barão, começou séculos antes de sua existência. Era a política da época e ele era o representante - o poder - ele manda. Hoje um banqueiro representa um papel tão nocivo quanto um barão naquela época.
UOL - O que faz nas horas livres?
OP - Mecânica de motocicleta e de carro - meu lazer é esse. Relaxo porque gosto de fazer, mexer com as mãos. Sou motociclista há 30 anos e gosto muito de curtir e viajar de motocicleta, tenho uma CB 400 e uma BMWR 1100. Apesar das dificuldades do trânsito eu tenho me saído bem.