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29/11/2005 - 17h12

Ney Latorraca diz que as crianças se identificam com "Bang Bang"

CAROLINA MARQUES
Do PopTevê
  • Ney Latorraca vive o personagem Aquarius Lane em <i>Bang Bang</i>

    Ney Latorraca vive o personagem Aquarius Lane em Bang Bang

É praticamente impossível ficar perto de Ney Latorraca e não soltar uma gargalhada. Com seu olhar irônico e um jeito de falar quase imperativo, o ator esbanja bom humor.

Enquanto caminha pela Lagoa Rodrigo de Freitas, onde mora, na Zona Sul do Rio de Janeiro, dá autógrafos e posa para fotos com os fãs, conversa com o vendedor de coco e conta particularidades sobre a pata que nada perto dele.

Essa figura simples e ao mesmo tempo emblemática, que diz ter nascido ator, tem como ídolos Ângela Maria e Nossa Senhora Aparecida, odeia ser chamado de "Neyla", passa a madrugada assistindo leilões de jóias pela TV e diverte o público com as atrapalhadas invenções de Aquarius Lane, seu personagem em "Bang Bang". "Outro dia vi uma criança dentro do ônibus me olhando com aquele carinha curiosa. Dei um aceno e sei que fiz da vida dela algo melhor naquele instante", orgulha-se.

Com Aquarius, Latorraca alimenta o próprio lado lúdico. Desde que começou a freqüentar o laboratório de química da PUC, onde aprendeu a manusear pipetas, tubos de ensaio e misturar elementos químicos. A última vez que entrou num lugar parecido, ainda estava na escola. "Se eu entro num cenário e não tenho uma intimidade, o público percebe. Então, tudo o que a gente faz é, em primeiro lugar, em respeito a quem nos vê. Não é gênero, é para curtir mesmo", justifica ele, que de tamanho entusiasmo com o assunto, ganhou do diretor Ricardo Waddington um brinquedo com o qual pode fazer a alquimia que quiser. "Eu fiquei completamente maluco com aquilo", assume.

Ney Latorraca acha curioso que seja exatamente o público infantil o que mais se identifique com a novela --que patina nos 29 pontos de audiência, muito aquém dos 35 previstos para o horário. Afinal, o faroeste anda muito distante do universo das modernas brincadeiras eletrônicas de hoje em dia e mais longe ainda do telespectador assíduo de folhetins. "Me perguntam quando vai aparecer o Nordeste, a Maria Bonita, o Lampião. Porque, para eles, o bang-bang não é uma referência. Acabou virando uma expressão nossa como sinônimo de confusão", argumenta o ator.

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"Me perguntam quando vai aparecer o Nordeste, o Lampião, a Maria Bonita..."
Se a novela é incompreendida para muitos, para o ator é a oportunidade de fazer um tipo diferente de uma extensa galeria de personagens que começou a interpretar nos anos 60. "Eu nunca faço só mais uma novela. Pode perceber. Eu faço 'Rabo de Saia', 'Vamp', 'Anarquistas Graças a Deus', ou 'TV Pirata'", enumera.

E é por apostar em trabalhos diferenciados que Ney aceita as propostas que surgem. "Fazer um personagem que entra em cena de terno e fala: 'Dona Sueli, por favor, libere meu carro porque vou me encontrar com Norma' não me interessa mais. Já fiz isso, já fui galã. Me interessa a loucura que traz o equilíbrio", teoriza o ator, de 61 anos.

Um pouco dessa loucura equilibrada é vista em cena todas as noites. A idéia de fazer um cientista despido de vaidade foi do próprio Ney. "Optei por não usar maquiagem e deixar o cabelo desgrenhado, meio Einstein. O barato do cientista está nas pequenas descobertas", observa.

Apesar dos 43 anos de carreira, a "química" que existe entre o ator e o público ainda é um mistério a ser desvendado. "É uma relação de amor e ódio. É como se fosse uma família: a gente vive com eles e para eles. Eu adoro dar autógrafo, responder carta, mas também tem hora que eu quero ficar quieto", avalia. Parte desse mistério talvez possa ser explicado pela própria disponibilidade de Ney Latorraca. "Se quiser eu já posso ficar em casa, mas gosto de ser chamado, de me sentir importante. Sou ator, né? Eu sempre acho que tem um rei maluco para fazer", justifica.
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