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19/11/2005 - 14h20

Em entrevista exclusiva, João Kleber se queixa da falta de apoio da Rede TV!

MANOELA PEREIRA
Editora do UOL Televisão

João Kleber se diz indignado. Em entrevista exclusiva ao UOL, o apresentador do "Tarde Quente" [programa que na semana passada foi retirado da grade da Rede TV!, por determinação do Ministério Público Federal] diz que teve sua liberdade de expressão artística censurada, "como nos tempos da ditadura".

Kleber, que estava trabalhando em Portugal quando o "Tarde Quente" foi suspenso, ficou sabendo da decisão da juíza Rosana Ferri Vidor por intermédio de seus advogados. O apresentador se diz "chateado" com a falta da apoio da Rede TV! que, segundo ele, o transformou no vilão da história. "Acho que a Rede TV! deveria ter emitido uma nota à imprensa dizendo que o João Kleber foi censurado. Da mesma forma que eles [Rede TV!] me apoiaram para colocar o programa no ar, deveriam ter me apoiado nesse momento", disse.

Após receber uma notificação da Rede TV!, o apresentador volta ao Brasil neste sábado (19) para discutir reformulações em seu programa, mas deixou claro que não pretende abrir mão do humor que considera saudável. "Até onde a lei me permitir vou brigar pelo meu direito de liberdade de expressão, que é inviolável. Juíza não faz programação de televisão", disse.

Já não é de hoje, no entanto, que os programas comandados por Kleber são apontados como atrações que violam os direitos humanos. Nos últimos dois meses, o apresentador da Rede TV! foi o campeão de reclamações da campanha "Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania", criada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e coordenada pelo deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP). Desde que a campanha foi iniciada, em 2002, João Kleber liderou o ranking quatro vezes. A maioria das reclamações diz respeito a cenas impróprias ao horário e à exposição de participantes dos quadros ao ridículo. "É um universo [o das denúncias da campanha] muito pequeno se comparado ao número de pessoas que assiste ao programa. Como podem 144 pessoas irem contra 10 milhões de pessoas?". Leia a entrevista:

UOL - O que o você achou da decisão do Ministério Público Federal, que suspendeu a exibição do "Tardes Quentes" por 60 dias?
João Kleber - Fiquei indignado com a decisão do Ministério Público Federal. Achei uma atitude arbitrária e antidemocrática. Me sinto uma pessoa censurada na minha arte, naquilo que eu produzo, principalmente na minha liberdade de expressão artística. O que aconteceu comigo hoje, como artista de televisão, amanhã abre-se um precedente. Me sinto indignado e triste.

UOL - E como você pretende agir?
JK - Meus advogados vão continuar defendendo o meu direito de liberdade de expressão artística. Agora, uma coisa você pode ter certeza, meus advogados vão brigar até a última instância. Até onde a lei me permitir eu vou brigar pelo meu direito de liberdade de expressão, que é inviolável. Juíza não faz programação de televisão.

UOL - Na sua avaliação, o conteúdo das pegadinhas do "Tarde Quente" tem algo de homofóbico?
JK - Em hipótese alguma, são brincadeiras na linha pastelão. É um programa de humor. Imagine se amanhã os gordos, os anões, os magros, os políticos, os heterossexuais e os baixinhos se sentirem ofendidos? Não vai ter mais humor.

UOL - Seguindo esse raciocínio, há limite para os programas de humor? Qual é o limite? Vale tudo?
JK - O limite é o bom senso. E bom senso é subjetivo. Quer um exemplo? Fast-food para alguns é mau gosto, mas, para outros, é alta culinária.

UOL - E as pegadinhas do "Tarde Quente" se encaixam onde?
JK - Para as pessoas que gostam é alta culinária. Para quem não gosta é fast-food.

UOL - Você se incomodaria de ver um beijo gay na televisão? Em novelas, por exemplo?
JK - Eu não! Se você pegar os arquivos da Rede TV! você vai ver que o primeiro beijo gay da televisão brasileira foi dado no meu programa, quando eu fiz Charlote Pink [personagem travesti]. Foi quando eu acompanhei uma passeata gay na Avenida Paulsita [Parada do Orgulho Gay] e mostrei, depois das 23h, um beijo entre duas mulheres. Além disso, eu fui o primeiro artista brasileiro a ter no palco dois assistentes transexuais e a acompanhar o dia-a-dia de um transexual que trabalha, que tem uma vida, que tem mãe, que tem pai... Como eu posso ter preconceito se eu fiz tudo isso?

UOL - Você assiste aos quadros de seus programas antes de exibí-los?
JK - Eu assisto, me divirto e, inclusive, os donos da Rede TV! [Marcelo de Carvalho e Amilcare Dallevo Jr.] são os primeiros a se divertirem. Eles sempre apoiaram as pegadinhas, tanto que o gênero está há tantos anos no ar [desde 1999]. Eu sou o apresentador do programa, o diretor geral e, acima de mim, respondo a uma superintendência artística [chefiada por Mônica Pimentel, que já foi diretora do programa de João Kleber]. Então, se alguma coisa fosse repugnante à emissora, a superitendência teria vetado, uma vez que o programa é gravado e não ao vivo.

UOL - Em algum momento a Rede TV! te pediu pra maneirar?
JK - A Rede TV! em nenhum momento me pediu para maneirar a pegadinha. Nem precisaria, já que os donos da emissora, os filhos dos donos, os amigos dos filhos e outros diretores da empresa sempre se divertiram muito com as pegadinhas.

UOL - E qual a sua participação na produção das pegadinhas? As idéias são suas?
JK - Dou idéias mas não me recordo agora quais idéias são minhas. Tem pegadinhas de pastelão que "Os Trapalhões" [programa da TV Globo] faziam nos anos 80 e mesmo nos anos 90. Se você observar os programas de humor que têm [sátiras] aos homossexuais, um monte de programa teria de sair do ar.

UOL - E o que você tem a dizer sobre o resultado da campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania", na qual seus programas lideram a lista de queixas do público?
JK - É um universo muito pequeno se comparado ao número de pessoas que assiste ao programa. As denúncias contra João Kléber, que fica em primeiro lugar no ranking, foram 144. Como podem 144 pessoas irem contra 10 milhões de pessoas? Como ficam essas 10 milhões de pessoas que ligam toda a semana para assistir ao meu programa? Essas 144 estão decepcionando 10 milhões!

UOL - E qual é o seu futuro na Rede TV!?
JK - Eu tenho contrato até 31 de março de 2006 e pretendo cumprí-lo até o fim. Eu fui o primeiro contratado da Rede TV! e sou o único artista que permanece na emissora desde sua estréia [15 de novembro de 1999]. Cumpri meu contrato à risca, cumpri as ordens da direção para manter a audiência, fui fiel aos empresários...

UOL - E qual tem sido a postura da Rede TV! neste momento? A emissora está te amparando?
JK - A única coisa que eu posso dizer é que eu estou chateado pela falta de apoio da Rede TV!, que me deixou como culpado nessa história. Quando eles [a Rede TV!] tiraram o "Tarde Quente" do ar porque já não tinha mais jeito, eles tavam com a corda no pescoço. Meus advogados tentaram conversar com os proprietários da emissora [sobre a censura] mas eles não ouviram, não aceitaram nenhum tipo de acordo e acabaram aceitando a censura da minha arte. É uma coisa que eu considero grave.

UOL - Você tem falado com a direção da Rede TV!
JK - Eu não, só os meus advogados. Estou voltando para o Brasil esta semana [Kléber está em Portugal, onde apresenta um programa na TVI] porque recebi uma notificação da Rede TV! para fazer reformulações em meu programa. Mas acho que a Rede TV! deveria ter emitido uma nota à imprensa dizendo que o João Kleber foi censurado de seus direitos artísticos pois, da mesma forma que eles me apoiaram para colocar o programa no ar, eles deveriam ter me apoiado nesse momento.

UOL - E do que você não pretende abrir mão durante esta reformulação do "Tarde Quente"?
JK - Eu não vou abrir mão da minha liberdade de expressão. Meus advogados vão me ajudar a identificar o que é bom e o que não é bom ter no programa.

UOL - Qual a sua consideração final sobre o programa? O "Tarde Quente" é um programa redondo, que te agrada plenamente?
JK - O "Tarde Quente" não é um programa redondo, mas é o que eu posso fazer, com o recurso que me dão para fazer.
 

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