30/09/2005 - 17h00 Zezé Polessa fala sobre o fim trágico de sua vilã em "A Lua Me Disse"; leia a entrevista
ELLEN SOARES
Especial para o UOL, do Rio de Janeiro A atriz Zezé Polessa roubou a cena encarnando a malévola Ester Bogari em "A Lua Me Disse". No penúltimo capítulo da novela, exibido na quinta-feira (29), a cruel empresária, já à beira da loucura, acabou sendo assassinada pelo comparsa Tadeu (Marcos Pasquim).
Mesmo "exterminada" da trama, Polessa acabou entrando para a história da teledramaturgia brasileira e escreveu seu nome na galeria das grandes vilãs. "Minha missão foi cumprida. Ester foi uma personagem marcante que deu trabalho pra compor, mas trouxe prestígio e reconhecimento. Foi muito bom e estou feliz", revelou.
Em entrevista exclusiva para
UOL Televisão, a atriz avaliou sua participação na trama de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, refletiu sobre a personalidade de sua personagem "uma mulher muito rígida e segura daquilo que pensava" e confessou que ainda não eliminou Ester de sua vida: "Ela ainda vai ficar um pouco comigo". Leia a entrevista:
UOL - Se pudesse escolher, que final teria dado a Ester?Zezé Polessa - Eu imaginei um final de loucura para ela, mas o Miguel Falabella e a Maria Carmem Barbosa (autores) acham que ela tinha de morrer, porque é mais exemplar: a maldade tem de ser exterminada.
UOL - Onde foi a gravação da cena de morte?ZP - Fomos gravar em Angra dos Reis e chovia muito. Pegamos um grande temporal. Num determinado dia chegamos a ficar oito horas direto no mar, com o barco batendo e todo mundo passando mal. Foi uma loucura, um pesadelo maior que o da Ester.
UOL - Gostou do resultado?ZP - Foi linda a cena do fim da Ester. Principalmente porque fizeram uma cena muito bonita e teve esse reencontro com o filho Ricardo (Frank Borges). A gente foi pra Angra no domingo à tarde e começou a gravar à noite. Gravamos segunda, terça (o dia inteiro) e, na quarta-feira pela manhã, já de volta, gravamos o encontro dela como filho na piscina do Fluminense (clube carioca). A cena foi feita na piscina, porque seria mais difícil de controlar se fosse no mar, que além de agitado estava turvo.
UOL - E foi complicado gravar o afogamento?ZP - Não foi tão complicado porque eu tenho muito fôlego, e tinha uma equipe muito legal que trabalha com o canal Discovery que deu um suporte maravilhoso. Eles colocaram uns pesos em mim (lastro) e fui afundando. Enquanto isso meu filho (Ricardo) vinha a meu encontro e me levava.
UOL - O que você achou do reencontro com o filho no final?ZP - Acho que de certa forma o reencontro com o filho a redimiu um pouco. Porque a maldade dela estava muito justificada pela tragédia da perda desse filho que ela tanto amava.
UOL - Quando você recebeu a sinopse de "A Lua Me Disse", imaginou que a personagem fosse ter destaque na trama?ZP - Não. Eu achei que o enredo envolvia muita comédia para que uma vilã tivesse muito espaço e conseguisse sobreviver. E ela acabou entrando para a galeria das grandes vilãs.
UOL - Como você delineou a Ester?ZP - Pensei numa vilã que não caísse no clichê mexicano. Tendo de manter humanidade, veracidade e coerência. Queria que a Ester fosse uma pessoa possível, assim como os demais personagens.
UOL - Foi difícil interpretar alguém tão má?ZP - No início foi muito difícil. Principalmente porque ela fazia parte de uma estrutura de folhetim de comédia. Então, fiquei um pouco sem saber que espaço era esse e que tom deveria dar a ela. Mas os autores me ajudaram muito, bem como os personagens da comédia, que são bem traçados e tem linhas fortes e definidas.
UOL - A maldade da Ester era incurável?ZP - Sim. Ester era muito rígida e segura daquilo que pensava; claro que é o mundo que não presta e que estava contra ela. Ester não tinha nenhuma autocrítica ou visão mais consciente de quem ela realmente era. É um pouco do comportamento do ressentido e do rancoroso.
UOL - O que havia de bom na Ester?ZP - Era uma mulher independente, inteligente, bonita e que se cuidava. Agora, infelizmente, os métodos que usou para chegar a isso é que não são aconselháveis.
UOL - Você já eliminou a Ester de dentro de você?ZP - Não, ela ainda vai ficar um pouco comigo. Hoje é o último capítulo, vamos à festa (elenco), mas tenho certeza que vamos sentir muita falta. Na segunda-feira vai dar aquela "depressão pós-parto".
UOL - O que você achou de "A Lua Me Disse"?ZP - Foi uma novela muito especial. A relação com os autores foi muito própria: eles são muito próximos do elenco e não teve um momento em que eu precisasse deles e que eles não estivessem presentes para dar um direcionamento, tirar dúvidas. Esse tratamento era com todos. Estamos gravando juntos desde setembro. Foi muito tempo junto.
UOL - Como foi seu entrosamento com os outros atores?ZP - Apesar da aura malévola da Ester, foi uma novela especial nesse aspecto também. Um reencontro muito bom com gente de teatro que eu já havia trabalhado, e mesmo entre as pessoas que não se conheciam houve um entrosamento legal. Foi uma novela muito festeira e muito festejada. Fiquei mais próxima da Adriana Esteves, da Deborah Bloch e até do Wagner Moura que eu não conhecia. A Simone Soares foi uma surpresa. Fiquei mais perto também dos amigos: Patrycia Travassos e Miguel Magno. Aliás, há alguns dias, Geórgia (personagem da Patrycia Travassos) fala uma coisa muito bonita sobre a Dona Roma (Miguel Magno): "Dona Roma é o que há de melhor na mulher e no homem".
UOL - Sente a sensação de dever cumprido em relação à personagem?ZP - Sim. Hoje é o final da novela e tem todo um clima que mexe comigo e me deixa emocionalmente fragilizada. Ester foi uma personagem marcante que dá trabalho pra compor, mas traz prestígio e reconhecimento. Foi muito bom e estou feliz.
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